Tancos: "Só há um memorando, não há dois nem três"
O advogado do major Vasco Brazão, arguido no processo do reaparecimento das armas roubadas em Tancos, garantiu hoje que "só há um memorando" e congratulou-se que o ex-chefe de gabinete do ex-ministro Azeredo Lopes tenha "honrado a verdade".
"Só há um memorando, não há dois, nem três (memorandos)" sobre a operação que levou à recuperação das armas disse o advogado Ricardo Sá Fernandes, no final do novo interrogatório do major Vasco Brazão, ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar (PJM)
Esta declaração põe em causa a informação que, segundo noticiou o Expresso, o ex-diretor da PJM, Luís Vieira, em prisão preventiva no âmbito do mesmo processo, teria dito no seu interrogatório judicial que o único documento que entregou no gabinete de Azeredo Lopes foi o chamado "relatório de ocorrência", a 19 de outubro, logo no dia a seguir à apreensão do material de guerra na Chamusca.
Neste relatório nada haveria de comprometedor, pois tratava-se apenas da versão "oficial" da PJM em relação ao "achamento" e que acabou por levantar suspeitas à Polícia Judiciária e ao Ministério Público.
Pelo contrário, no memorando que Sá Fernandes diz ter sido o "único" que foi entregue ao general Martins Pereira, ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes, indiciava que a operação da Chamusca envolvia ações à margem da lei, como o não ter sido informado o MP nem a PJ, responsáveis pela inquérito ao roubo do material de guerra.
Questionado pelos jornalistas sobre se o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes devia ser inquirido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) sobre o caso - uma vez que o major Vasco Brazão reitera que o general Martins Pereira, ex-chefe de gabinete do então ministro, informou o governante sobre o teor do memorando -, Ricardo Sá Fernandes remeteu essa avaliação para o próprio DCIAP, mas adiantou que "não vê nada de anormal" numa eventual inquirição de Azeredo Lopes pelo MP.
Martins Pereira, atualmente colocado no Estado-Maior-General das Forças Armadas, como adjunto para o Planeamento e Operações, deverá ser ouvido no DCIAP no próximo dia 24. O general já prometeu entregar a "documentação verdadeira" que os responsáveis da PJM lhe terão entregado no gabinete.
Caso, entre esses documentos, esteja mesmo - conforme tem sido assegurado ao DN por fontes que estão a acompanhar o caso - o memorando que Brazão diz ter entregue no gabinete no ministro da Defesa Nacional, nesse caso Martins Pereira deverá ser constituído arguido, pois devia ter informado o MP sobre aquela atuação ilegal. Se assim for, é também provável que o ex-ministro possa ser chamado ao DCIAP.
"O major Vasco Brazão não é nenhum criminoso. Nem ele nem os outros militares envolvidos", sublinhou Sá Fernandes. "A sua principal preocupação, acima de tudo, era a recuperação das armas e o prestígio da PJM. O seu arrependimento e contar a verdade serão certamente fortes atenuantes no seu processo", assegurou ainda o advogado.