"Roubaram o nosso futuro." Um milhão em Londres por novo referendo ao Brexit
Uma multidão avaliada pelos organizadores num milhão de pessoas juntou-se neste sábado para uma marcha no centro de Londres, para pedir um novo referendo ao Brexit.
"Sentir-me-ia de maneira diferente se este fosse um processo bem gerido e o governo estivesse a tomar decisões sensatas. Mas é o caos completo," disse Gareth Rae, 59 anos, que viajou de Bristol para assistir à manifestação, à Reuters. "O país ficará dividido, aconteça o que acontecer, e é pior ser dividido numa mentira."
Depois de três anos de debate, ainda é hoje incerto como, quando ou mesmo se o Brexit irá efetivamente acontecer, com a primeira-ministra britânica Theresa May ainda à procura de um caminho para sair da mais grave crise política britânica dos últimos anos.
Na sexta-feira, May sugeriu mesmo que poderá não levar o seu acordo de saída do Brexit - que já foi rejeitado duas vezes no Parlamento - a novo voto na próxima semana. Jornais como o The Times e o Telegraph avançam que cresce a pressão sobre May para que se demita. "É intolerável a situação em que estamos e receio que Theresa seja o problema", disse Anna Soubry, uma deputada europeísta que deixou o partido conservador britânico para se juntar ao "Grupo Independente", em fevereiro, à BBC. "Ela tem de sair e precisamos de um primeiro-ministro temporário que consiga ir mais além, pôr o país em primeiro lugar e devolver o assunto ao povo britânico. É por isso que marchamos hoje", sublinhou.
Enquanto o país e os seus políticos estão divididos no que diz respeito ao Brexit, a maioria concorda que esta é a decisão estratégica mais importante que o Reino Unido enfrenta desde a Segunda Guerra Mundial.
Os manifestantes pró-Europa juntaram-se ao final da manhã para a marcha que intitularam de "Devolve-o ao povo", referindo-se à possibilidade de o Brexit ser de novo referendado. O percurso da marcha passará por Downing Street, a residência oficial da primeira-ministra britânica, e terminará junto ao Parlamento. Até ao momento não há qualquer balanço oficial, mas a Reuters refere que mesmo antes de a marcha começar já havia dezenas de milhares de pessoas concentradas. Os organizadores estão confiantes de que a participação vai exceder a de uma marcha semelhante organizada no passado mês de outubro, que contou com a presença de 700 mil pessoas.
No Conselho Europeu de quinta-feira, os 27 Estados membros da União Europeia aprovaram uma extensão do Brexit até 22 de maio, caso May consiga aprovar o acordo na próxima semana. Se falhar, Bruxelas deu a Londres até 12 de abril para apresentar uma alternativa. Inicialmente a saída do Reino Unido da UE estava prevista para as 23.00 de 29 de março.
Phoebe Poole, de 18 anos, foi uma das que saíram de casa para se juntar à marcha. Segura um cartaz dizendo "never gonna give EU up" - nunca vamos desistir da União Europeia, em tradução literal -, uma referência à canção de Rick Astley da década de 1980. Poole não tinha, em 2016, idade suficiente para votar no referendo. "Viemos aqui hoje porque sentimos que nos roubaram o nosso futuro. É a nossa geração que vai viver com as consequências deste desastre", disse à Reuters. "Vai fazer que seja mais difícil arranjar trabalho. Já estamos a ver muitas grandes empresas a partir. Estou preocupada com o futuro", admitiu.
Também uma petição a pedir a revogação do Brexit reuniu em apenas três dias quatro milhões de assinaturas. "O governo alega repetidamente que sair da União Europeia é a 'vontade do povo'. Precisamos de acabar com esta alegação ao mostrar a força do apoio público agora para ficar na União Europeia. Um voto do povo [segundo referendo] pode não acontecer - por isso votem agora", diz o texto da petição, criado por Margaret Anne Georgiadou.
A autora disse à BBC que criou a petição porque se sentia "frustrada" por, enquanto crítica do Brexit, ter sido "silenciada e ignorada" durante tanto tempo. "Por isso acho que agora é como a rutura de uma barragem", já que os britânicos sentem que é a última oportunidade, frisou.