Regine, a "inventora das discotecas", morreu aos 92 anos
Regine, nascida Regina Zylberberg, na Bélgica, de pais judeus polacos, abriu o seu primeiro clube noturno no Quartier Latin de Paris na década de 1950, substituindo a juke-box, omnipresente nos locais de dança da época, por gira-discos e disc jockeys.
O novo formato, assumia com orgulho, abriu portas à "invenção da discoteca".
As novas discotecas conquistaram o jet set da época e Regine, que ficou conhecida como a "rainha da noite", abriu várias outros clubes noturnos pelo mundo inteiro, incluindo o "Regine's" em Nova Iorque, na década de 1970, e outros em Miami, Rio de Janeiro ou Los Angeles.
"Regine deixou-nos pacificamente às 11.00h (09.00 GMT) deste 1º de maio", anunciou a sua neta Daphne Rotcajg.
Num comunicado enviado em nome da família de Regine, o comediante Pierre Palmade escreveu: "A rainha da noite foi-se. Encerramento após uma longa e grande carreira."
Regine "teve as estrelas do mundo inteiro a dançar nos seus clubes", acrescentou.
No auge, o império disco de Regine compreendia 22 estabelecimentos e cerca de 20.000 pessoas possuíam um cartão de membro exclusivo, na década de 1980, que lhes dava acesso a todos eles.
O artista pop Andy Warhol, a estrela do showbiz Liza Minelli, os banqueiros Rothschilds e os Kennedys estavam entre os seus clientes.
O seu nome "tornou-se sinónimo das noites loucas que duravam até altas horas", disse Palmade, acrescentando que a própria Regine "ficava na pista de dança até à hora de fechar".
Entre as pessoas que prestaram homenagem a Regine conta-se o ex-ministro da cultura francês Jack Lang, que a chamou de "lenda parisiense poética e brilhante".
O cantor britânico Boy George twittou: "R.I.P para a lendária diva francesa Regine! x", e incluiu uma foto sua com ela.
"A noite está órfã, perdeu a sua rainha", disse a veterana cantora francesa Line Renaud, também no Twitter.
A autarca de Paris, Anne Hidalgo, disse que Regine "fez a sua cidade vibrar como mais ninguém".
Embora mais famosa internacionalmente como empresária da noite, em França Regine sempre foi considerada mais pela sua contribuição para a composição francesa.
O cantor francês Renaud chamou-a de a última representante histórica da chanson francesa, inspirando toda uma geração de cantores compositores, incluindo Serge Gainsbourg e Barbara.
Depois de se apresentar no lendário Olympia, na capital francesa, na década de 1960, Regine cantou no Carnegie Hall de Nova Iorque e obteve uma receção calorosa do público americano, feito que entre os cantores franceses apenas Edith Piaf poderia igualar.
"Ficaria muito feliz se as pessoas ainda ouvissem minhas músicas daqui a 50 anos", disse à AFP em 2020, acrescentando que estava "muito orgulhosa" por algumas delas se terem tornado parte do repertório popular francês.
"A minha primeira profissão foram as discotecas", disse. "Por muito tempo, as músicas eram apenas um hobby. Mas agora percebo que o palco tem sido a parte mais importante da minha vida", referia então.
Regine também atuou em vários filmes, trabalhando com realizadores como Claude Lelouch e Claude Zidi.
Tendo vendido todas as suas casas noturnas no final dos anos 2000, Regine - que se gabava de gastar "uma fortuna" todos os dias - declarou-se "arruinada". Mas passou a aproveitar as suas ligações ao showbiz para se entregar a causas como a luta contra o abuso de drogas e continuou a apresentar-se em palco e a participar de talk shows.
Em 2008, recebeu a mais alta ordem de mérito francesa, a Legion d'Honneur, do então presidente Nicolas Sarkozy.