O Presidente russo, Vladimir Putin, disse esta sexta-feira que a aterragem do avião comercial da Ryanair em Minsk não foi forçada e comparou este caso com o incidente em Viena, com o avião do ex-Presidente boliviano Evo Morales..Numa entrevista telemática às principais agências noticiosas internacionais, Putin fez um breve resumo do seu encontro na semana passada com o líder bielorrusso Alexander Lukashenko, que negou o desvio forçado do avião que fazia a rota Atenas-Vilnius, em 23 de maio.."Ele explicou-me que o avião não aterrou [à força] e que havia um aviso de bomba a bordo. O piloto, que podia aterrar o avião em Vilnius (...), decidiu aterrá-lo em Minsk", transmitiu Putin..Putin recordou o caso de 2013 quando a Áustria, a pedido dos EUA, aterrou o avião que transportava o então presidente da Bolívia, Evo Morales, sob a suspeita de que o antigo analista da CIA, Edward Snowden, se encontrava a bordo.."Como avalia a aterragem em Viena do avião de Evo Morales? Ele teve de sair do avião. Houve um relatório. Foi em Viena e era um avião de um chefe de estado", disse o Presidente russo..Putin perguntou-se porque é que em Viena se pode deter um avião oficial de "um país independente" e um avião na Bielorrússia não pode ser desviado quando foi recebido um aviso de bomba.."Temos de nos livrar de dois pesos e duas medidas. Não podemos dizer que um pode e outro não", acrescentou Putin, que utilizou a comparação na repressão policial em protestos nos países europeus e na antiga república soviética, cenário de manifestações públicas após as eleições presidenciais de agosto de 2020..Durante a sessão plenária do Fórum Económico de São Petersburgo, o chefe do Kremlin negou categoricamente o envolvimento dos serviços secretos russos no incidente com o avião da Ryanair..Putin disse que a razão para a atenção mundial causada pelo incidente é porque diz respeito à Bielorrússia, onde "muitos vizinhos querem ter influência"..Quanto ao jornalista bielorrusso detido após o avião ter aterrado na capital da Bielorrússia, Roman Protasevich, Putin disse não conhecer e não o querer conhecer..Após o encontro entre Putin e Lukashenko, em Sochi, o Kremlin informou que o líder bielorrusso tinha dado ao seu homólogo russo todas as informações necessárias sobre o incidente, mas que poderia fornecer "mais dados", se necessário..Protasevich, opositor do regime de Lukashenko, foi preso em 23 de maio depois de as autoridades bielorrussas terem forçado o desvio para o aeroporto de Minsk de um voo da companhia aérea irlandesa Ryanair, que fazia a rota Atenas (Grécia)-Vilnius (Lituânia)..No avião comercial viajava o jornalista com a sua companheira, Sofia Sapega. Os dois foram detidos, após a aterragem na capital bielorrussa..Os Estados-membros da União Europeia decidiram hoje fechar o espaço aéreo e aeroportos a aeronaves da Bielorrússia, na sequência do desvio forçado do voo comercial para a detenção do ativista..Na quinta-feira, a televisão estatal bielorrussa ONT transmitiu uma entrevista a Roman Protasevich, na qual o jornalista e opositor se confessa culpado das acusações apresentadas contra ele pelo regime..A líder da oposição bielorrussa, Svetlana Tikhanovskaia, disse hoje que a entrevista transmitida na quinta-feira pela televisão estatal da Bielorrússia ao jornalista foi feita "sob coação"..A Bielorrússia atravessa uma crise política desde as eleições de 09 de agosto de 2020, que segundo os resultados oficiais reconduziram o Presidente Alexander Lukashenko, no poder há mais de duas décadas, para um sexto mandato, com 80% dos votos..A oposição considerou o escrutínio fraudulento, tal como vários países ocidentais, e foi desencadeada uma vaga de contestação sem precedentes naquela antiga república soviética. Recusando qualquer concessão, o chefe de Estado bielorrusso prendeu ou forçou ao exílio a maioria dos seus opositores e denuncia manifestações conduzidas pelo Ocidente para o derrubar..A repressão violenta do movimento de contestação causou vários mortos e várias centenas de pessoas foram detidas.