O cortejo ainda estava a principiar a sua marcha pelas ruas da cidade do Porto e passavam junto à tribuna as primeiras faculdades. Depois de lido um manifesto em que faziam críticas à política de alojamento de estudantes, à insegurança e à falta de espaços para atividades ligadas à queima, os finalistas das faculdades de Economia, Arquitetura e Farmácia optaram pelo silêncio em vez de entoarem o hino das escolas, como habitual..Na tribuna, Rui Moreira e o reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, observavam e o autarca recebia pedidos de estudantes para dar as tradicionais bengaladas nas cartolas. Foi nessa altura que dinamizadores do protesto os censuraram, que não tinham nada que pedir. Terá sido a gota de água para Rui Moreira, que abandonou a tribuna sendo seguido pelo reitor..Contactada pelo DN, a Câmara Municipal do Porto diz que o presidente "não tem comentários" a fazer ao incidente. Fonte da reitoria confirmou que António Sousa Pereira deixou o lugar de honra e aponta o dedo ao "pessoal ligado à praxe que tomou conta dos microfones". Sem dar demasiada importância, esta fonte diz que se tratou de uma reação a um protesto que não se inseria nas atividades da queima..O mesmo considera João Videira, presidente da Federação Académica do Porto, organizadora da queima. "O que sucedeu foi obra de alguns elementos ligados à praxe, não foi uma iniciativa da FAP. O cortejo da Queima das Fitas é um evento em que a crítica e a sátira são habituais, mas não daquela forma", afirmou..Confirmando que Rui Moreira e António Sousa Pereira abandonaram a tribuna ao "fim de dez minutos", o dirigente estudantil diz "compreender a atitude", pois "sentiram-se desrespeitados". Para João Videira, foi "um triste episódio" que "não deve ser valorizado", adiantando ter já estabelecido contactos com responsáveis da autarquia para esclarecer a posição da FAP.."Nunca aconteceu um episódio deste género", admite João Videira, para quem o cortejo é um evento "tradicionalmente de festa, em que pode haver sátira mas nunca desta forma". Recorda que a FAP tem sido muito ativa a questionar a falta de alojamento para universitários e a reclamar mais segurança junto às universidades". Mas no tempo e na forma adequada. "O que esteve mal aqui foi a forma do protesto. No conteúdo até concordamos em muitas coisas, mas a forma foi errada", diz João Videira..Além do alojamento e da insegurança, os estudantes que protestaram criticaram ainda a falta de cedência de espaços na cidade para a realização de atividades. Um dos casos, entre outros, diz respeito ao festival de tunas que queriam realizar no Coliseu, mas o espaço não foi cedido..O episódio não afrouxou a festa na cidade. Apesar de já não haver bengaladas nas cartolas pelo presidente da Câmara, os milhares de estudantes que frequentam a Universidade do Porto preencheram as ruas da cidade, mantendo a tradição do cortejo, evento que atrai sempre muitos familiares dos finalistas.