Português no Diamond Princess infetado com coronavírus. DGS aguarda confirmação
Canalizador a bordo do Diamond Princess é o primeiro caso de um português infetado com coronavírus. O homem, de 41 anos, confirmou o diagnóstico à mulher, Emanuelle Maranhão, que avançou à TVI que o marido se encontra isolado e sem sintomas.
O português encontra-se a bordo do Diamond Princess, atracado num porto no sul de Tóquio, desde o dia 13 de dezembro. Já o período de quarentena começou a 3 de fevereiro para 3711 pessoas. Há notícia de mais de 600 casos de infeção e de duas mortes (dois idosos) pelo novo coronavírus, no navio. Os resultados das análises de vários passageiros e tripulantes ainda são desconhecidos. A bordo estarão ainda quatro outros portugueses e três macaenses com nacionalidade portuguesa.
A Direção-Geral de Saúde, contactada pelo DN, diz estar a par da situação, mas "não conseguiu confirmar o diagnóstico com as autoridades oficiais". A autoridade da saúde espera ter mais informações concretas durante o dia amanhã, por causa da diferença horária. Também o ministério dos Negócios Estrangeiros, em declarações à Lusa, indicou estar a acompanhar a situação, através da embaixada de Tóquio, sem ter, no entanto, informação "de que haja algum caso confirmado de infeção com o coronavírus".
"O que eu peço é que as autoridades me ajudem, que ajudem o meu marido a ficar bem, para regressar a Portugal", disse este sábado à noite ao DN Emanuelle Maranhão, a mulher do português infetado com Covi-19, Adriano Maranhão, que se encontra a bordo do navio Diamond Princess, onde é canalizador.
Desde que o marido lhe contou, esta madrugada, que as análises à saliva tinham dado positivo, que Emanuelle não parou de fazer todos os contactos junto das autoridades portuguesas.
Ao início da tarde conseguiu falar com a Secretaria de Estado das Comunidades, mas o que queria mesmo "era falar com a embaixada de Tóquio, porque são eles que estão mais próximos".
Esta madrugada, manhã no Japão, a embaixada respondeu ao contacto do DN dizendo que "toda a informação está a ser gerida diretamente pelo Gabinete do Ministro dos Negócios Estrangeiros".
Entretanto, este sábado Emanuelle Maranhão recebeu uma chamada de Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República manifestou-lhe apoio, e Emanuelle pediu-lhe que intercedesse junto de todas as entidades possíveis. "Eu sei que ele não pode regressar já a Portugal, mas pelo menos que o levem para um hospital e seja tratado", disse. É que Adriano Maranhão está há várias horas confinado à cabine do navio, sem medicação, "sem comer sequer" e à espera de ser transferido para uma unidade de saúde, conforme prometido.
"Eram 4 da manhã (cá, e 14 horas lá) quando ele me ligou a contar que as análises tinham dado positivo. A partir daí nunca mais saiu, para não infetar outros tripulantes. Até agora esteve sempre a trabalhar, este tempo todo", relata Emanuelle.
Adriano Maranhão, 41 anos, é canalizador de profissão e desde há cinco anos que trabalha nos navios-cruzeiro desta companhia, o que o obriga a estar vários meses longe de Portugal e da família. Não veio passar o Natal com a Portugal com Emanuelle e as três filhas do casal por se encontrar a trabalhar, e deveria ter regressado à Nazaré em meados de fevereiro, para um periodo de férias. Mas desde 3 de fevereiro, quando o cruzeiro estava prestes a terminar, que permanece de quarentena. "Ele sentia-se bem e foi trabalhando sempre, mas lidava diretamente com os passageiros". Até que à hora de almoço de ontem as análises confirmaram a infeção.
Adriano Maranhão "está há dois meses e meio no navio e o contrato acabava a 20 de fevereiro - como navio estava de quarentena pôs-se a hipótese de o contrato ser alargado até 15 de março, mas entretanto foi testado positivo", acrescentou a mulher à TVI.
O Presidente da República disse, em direto na SIC, que já falou com a professora da Nazaré e que, depois da confirmação, as autoridades portuguesas tudo farão para combinar os procedimentos a seguir. "Falei com a esposa, ainda antes de falar com os senhores ministros. Está naturalmente ansiosa e preocupada, mas ainda não temos confirmação oficial. Vamos combinar com as autoridades respetivas depois de saber se há uma confirmação ou não. Tem de se ver se é positivo mesmo", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando, que a confirmação deverá surgir nas próximas horas, quando começa o dia, no Japão.
Em Portugal, não há registo de nenhum caso de infeção por coronavírus. Foram identificados 12 suspeitos, mas depois de efetuadas análises, nenhum se revelou positivo.
Na quarta-feira, as autoridades japonesas deram início à operação de repatriamento de cidadãos de Hong Kong, Canadá e Itália. Antes já tinham sido retirados os passageiros norte-americanos. Sairam cerca de cem pessoas do navio, tudo isto depois de terem já pisado a terra outros 23 passageiros. A notícia, divulgada pela AFP, foi conhecida na sequência de uma mulher (incluinda entre estas 23 pessoas) ter acusado positivo num teste de coronavírus.
"Arrependemo-nos sinceramente do nosso erro opercaional ter causado esta situação", declarou, este sábado, o ministro da Saúde japonês, Katsunobu Kato.
O cruzeiro, ancorado no porto de Yokohama é o maior foco de Covid-19 fora da China continental, sendo que cerca de 80% dos passageiros têm mais de 60 anos. Até agora, morreram duas pessoas a bordo do navio, uma mulher e um homem octogenários e já com problemas de saúde.
Um estudo publicado, durante a semana passada, pelas autoridades chinesas sugere que os doentes e os idosos são os grupos mais propícios a morrer por coronavírus. Em termos percentuais, a taxa de mortalidade vai aumentando gradualmente com o avançar da idade: até aos nove anos permanece a zeros, mas entre os 60 e os 69 anos supera os 3%, entre os 70 e os 79 ronda os 8% e a partir dos 80 chega perto aos 15%.
Em termos de género, os homens têm maior probabilidade de morrer (2,8%) do que as mulheres (1,7%). O estudo também revela que os pacientes com doenças cardiovasculares são os que estão em maior risco, seguidos pelos que têm diabetes, doenças respiratórias crónicas e hipertensão.
A epidemia provocada pelo coronavírus, detetado em Wuhan, causou já 1380 mortos, tendo a China reportado 121 mortes nas últimas 24 horas. Segundo a Comissão Nacional de Saúde, o número de infetados cresceu 5090, para 63581. Além da China continental, Hong Kong, Japão e as Filipinas reportaram um morto cada um e, embora 30 países tenham diagnosticado casos de pneumonia por Covid-19, a China responde por cerca de 99% dos infetados. Na Europa, há notícia de três mortes, duas aconteceram no último dia, em Itália.
O balanço das mortes é superior ao da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês), que entre 2002 e 2003 causou a morte a 774 pessoas em todo o mundo, a maioria das quais na China, mas a taxa de mortalidade permanece inferior.
Em menos de 24 horas, registaram-se duas mortes por Covid-19 (uma mulher de 75 anos e um homem de 78) e o número de pessoas que contraíram a epidemia aumentou para 79, durante a tarde, deste sábado, segundo as autoridades, citadas pelo jornal italiano Corriere della Sera.
O ministério da Saúde italiano acionou medidas de emergência em nove cidades nas regiões da Lombardia e de Veneto, no norte do país (onde foram registados os casos conhecidos de COVID-19). Para além do encerramento de vários estabelecimentos públicos e da quarentena obrigatória para quem tenha viajado para a China nos últimos tempos, nos aeroportos e nos portos estão a ser tomadas medidas de prevenção, como medir a febre a quem entra no país.
A Organização Mundial de Saúde não deu entretanto qualquer indicação para serem restringidas viagens para a Itália e mantém as mesmas recomendações, que passam por seguir o plano das autoridades italianas. O governo declarou o estado de emergência a 31 de janeiro e nomeou o responsável pela proteção civil, Angelo Borrelli, como comissário especial para a emergência. Mesmo assim, há quem tenha pedido mais medidas de proteção, cancelando eventos. Giovanni Malagó, defendeu o cancelamento das atividades desportivas previstas para as regiões onde se estão a registar casos de coronavírus. "Se há competições de qualquer nível nas zonas onde houve estes casos, não pode haver desporto. É muito simples", afirmou Malagó. Três jogos de futebol foram adiados.