O Plano Diretor Municipal (PDM) da Câmara Municipal do Porto (CMP) apresenta uma nova abordagem às questões da sustentabilidade e da qualidade do ambiente urbano, "tendo em vista a qualidade de vida dos cidadãos e a resiliência e adaptação do território aos desafios das alterações climáticas". Em declarações ao DN, o vereador do Urbanismo da CMP, Pedro Baganha, explica que a prioridade das novas medidas é "tornar o Porto mais azul e verde".."Há pouca cidade para descobrir e, por isso, a estratégia passa por requalificar e criar uma estratégia forte na estrutura ecológica municipal, com arborização dos arruamentos da cidade, criando uma teia de espaços naturais, tudo isto sustentado à estrutura azul do território. Vamos usar o sistema de drenagem natural, que se materializa em ribeiras que foram encanadas e enterradas ao longo do tempo", avança. O responsável pelo Urbanismo adianta que a CMP "tem vindo a tirar a cobertura de algumas das zonas ribeirinhas" e quer "reforçar esse investimento"..Utilizar esse "esqueleto mais ou menos invisível" terá ainda um efeito no controlo de cheias repentinas". "Estamos a preparar-nos para o efeito das alterações climáticas", sublinha Pedro Barranha. A água, em tempos a descoberto um pouco por toda a cidade, foi sendo entubada e tapada, algo que irá mudar. Alguns desses trechos de ribeiras estão enterrados há mais de um século. Serão dezenas de ribeirinhas, localizadas no coração do sistema urbano da cidade, a "regressarem à superfície". Cada uma dessas zonas contará com a criação de espaços verdes..DestaquedestaqueCMP fala numa "cidade esponja", pois serão criadas "bacias de retenção de água e outros dispositivos paisagísticos baseados em soluções naturais"..A CMP vai também criar "incentivos nas taxas à disponibilização pública de espaços verdes privados". "A nossa visão da cidade é uma cidade mais densa. Mais pessoas e mais habitação e só faz sentido com reforço ecológico para a qualidade de vida. Só podemos defender uma cidade com mais habitação com reforço dessas áreas. Do nosso ponto de vista, devem andar a par. Este tem de ser o futuro. A forma inteligente de abordar estas questões é utilizar as ferramentas da natureza para resolver o problema da água quando cai do céu", sustenta..O Parque Central da Asprela, onde se localizam muitas das faculdades da Universidade do Porto, já se encontra em obras. "No Parque Central da Asprela estamos a construir uma zona verde no polo universitário e vai ser feita uma modelação de terrenos tal, que vai permitir que se houver uma cheia rápida a água seja escoada", diz Pedro Barranha. Segundo o responsável, esta é apenas uma das zonas que fará parte da "cidade esponja".."Falamos em cidade esponja porque são criadas bacias de retenção e outros dispositivos paisagísticos baseados em soluções naturais, com a ajuda das ribeiras existentes no subsolo. A sua desintubação permite o combate das cheias rápidas pela construção de zonas alagadiças (verdes). E sabemos que esses fenómenos vão acontecer cada vez mais", refere. Lordelo do Ouro passará também pelo mesmo processo. "Vamos destapar uma ribeira que passa na zona. Neste caso, hoje temos uma rua com uma ribeira encanada e vamos destapá-la. O projeto inclui também a aposta em habitação acessível e a requalificação das zonas verdes", relembra Pedro Barranha..Já aprovado está o futuro "parque da Lapa", atrás do Bairro da Bouça, que será intervencionado "mais uma vez, a reboque da existência de uma linha de água" e que contará uma nova zona verde, onde se inclui a cedência de um terreno privado. A zona de Requesende, em Ramalde, também vai contar com um novo parque, junto à futura Liga de Futebol, percorrendo toda a linha da Ribeira da Granja. Trata-se do maior curso de água que atravessa a cidade do Porto, com 6,5 quilómetros de extensão, dos quais cerca de 80% estão encanados. No Parque de São Roque, a CMP Município planeia ampliar em mais de 1,2 hectares a área verde..A CMP anunciou, o ano passado, o arranque das obras da última fase de expansão do Parque da Cidade. Entretanto, já foi lançado o concurso público para iniciar a reparação das margens de um dos lagos do Parque da Cidade, e a criação de uma zona de estadia de um dos seus anfiteatros naturais. Os trabalhos estarão concentrados na criação de uma zona de estadia e do acabamento do anfiteatro, bem como na reparação das margens do lago mais a sul. Esta intervenção inclui o crescimento do espaço verde para uma zona alcatroada do Queimódromo..As construções nas "zonas azuis" vão sofrer uma alteração. "Temos uma política urbanística diferenciada nas imediações das ribeiras, com condições de permeabilidade do solo mais exigentes. As construções não vão poder ocupar todo o terreno, possibilitando zonas livres para a água", explica Pedro Barranha. Será também permitido um índice de construção mais elevado, incentivando o investimento em projetos de habitação a preços mais baixos..dnot@dn.pt