O PSD fez 46 anos num contexto muito adverso e era fundamental o principal partido da oposição afirmar-se. Rui Rio optou por uma cooperação como governo, no contexto da pandemia. Concorda com o posicionamento do líder do PSD nestes dois meses? Sim, concordo. Acho que é uma forma de afirmação do PSD muito forte e talvez mais forte do que se fizesse uma oposição sistemática e sem critério, que nem sei que sentido teria. Numa situação destas é evidente que, especialmente os responsáveis de partido e nomeadamente o líder têm de ter uma posição destas. E eu julgo que isso está a ser muito reconhecido pelos portugueses. Tem mais reconhecimento por parte dos cidadãos e dos eleitores aquele líder que atua responsavelmente, de acordo com a situação de crise grave que vivemos do que com aquele que atua como se isso não estivesse acontecer. Sob esse ponto de vista isto é uma forma de afirmação muito mais presente e eficaz do que seria uma oposição quotidiana e sistemática e não criteriosa. Apesar de tudo Rui rio tem feito criticas bastante incisivas; nas questões económicas tem sido bastante claro; foi uma das pessoas que mais forçaram o estado de emergência, que António Costa não queria, teve uma visão crítica sobre o 1.º de Maio; sobre as questões económicas, nomeadamente sobre o pagamento de dívidas, sendo que uma das primeiras propostas que o PSD fez foi a do seu pagamento para injetar liquidez nas empresas e que não teria consequências no défice porque eram compromissos já assumidos. E depois disso tem sido crítico sobre as ajudas à comunicação social, na questão do lay-off tem sido contundente. A linha é de cooperação para solucionar os problemas, mas isso não impediu a critica. A ideia que há uma postura acrítica é errada..Uma recente sondagem mostrava, no entanto, o reforço da popularidade de António Costa e um certo apagamento de Rui Rio. Em toda a Europa, praticamente sem exceção, os governos e os seus líderes estão com o quota de popularidade altíssima e isso é perfeitamente natural numa altura destas. A avaliação das prestações políticas, seja de partidos seja de respetivos líderes, não pode ser feita numa altura como esta. Só quando as coisas passarem é que será possível fazê-la, mas mesmo assim a apreciação da conduta do líder do PSD é elevadíssima junto da população. Digo isto por contacto empírico..Nesta fase em que o país está a entrar no desconfinamento e que vai retomar alguma atividade económica, o PSD e o Rui Rio devem ter um papel mais ativo, nomeadamente a apresentar propostas alternativas às do governo? Tirando uma fase muito inicial, apareceram logo um conjunto de medidas muito ligadas até às questões europeias, nas quais participamos enquanto deputados europeus, e o próprio presidente do Conselho Estratégico Nacional apresentaram já um conjunto de medidas. Mas em junho apresentarão um plano muito mais integrado para as questões económicas. À medida que o desconfinamento se vai concretizando é evidente que o PSD vai alargar a sua tarefa de oposição, embora sempre dentro deste padrão construtivo. A situação em que o país se vai encontrar do ponto de vista económico vai ser crítica. É preciso não enganar as pessoas. Se hoje estamos muito preocupados, e com toda a razão, com a questão sanitária, vamos ter motivos de grande preocupação com a questão económica, que já está aí presente mas que se vai tornar muito mais visível. O PSD vai ter um papel de grande responsabilidade com o seu modelo económico de resposta à crise..A forma como o governo respondeu à pandemia foi a correta? Temos sido elogiados a nível internacional... Não dou muita importância a uma coisa muito nacional que é considerar um facto extraordinário sempre que sai uma notícia a nível internacional. Tenho suficiente confiança no povo português e em Portugal para me impressionar com comentários externos sejam críticos sejam elogiosos. Agora a resposta global à pandemia teve aspetos positivos, nomeadamente no plano da comunicação e na passagem da mensagem correu francamente bem. Mas há dois ou três pontos que correram mal e aí eu sou um bocadinho mais crítico que o PSD. Há um ponto que correu bastante mal que foi o dos equipamentos, porque tínhamos todo as condições - o que aconteceu na altura da gripe A e que fomos muito mais previdentes e que não teve a repercussão que agora está a ter. Há uma questão que Rui Rio chamou a atenção, não na altura para não agravar a situação, que é a questão dos lares. Fiquei estupefacto quando a ministra da Saúde veio dizer que um lar precisava de um plano de contingência, quando o governo não tinha feito nada relativamente aos lares até então. E depois da experiência espanhola, italiana e francesa percebeu-se que os lares iam ser um dos problemas mais sérios para resolver e Portugal podia ter dado informação, e não estou a falar de despender dinheiro. No início de março podia ter existido muita informação a ser distribuída sobre como fazer, como atuar, como se protegerem, havendo uma comunicação direta entre o governo e cada lar, que não aconteceu. Em todo o caso não há dúvida que até agora é uma situação relativamente mais favorável que outras..Mas diz-se que o facto de agora ter corrido muito bem não quer dizer que não venha a correr muito pior, sobretudo porque há menor imunidade de grupo. A Suécia adotou, por exemplo, uma estratégia completamente diferente e não entrou em confinamento. Podemos correr o risco de as coisas serem piores numa segunda vaga do novo coronavírus? Sobre a qualidade da resposta não dou tanto valor aos elogios - o que não quer dizer que eles não sejam merecidos -, mas só no fim desta crise pandémica é que podemos perceber se correu bem ou não. Recentemente um especialista sueco, que teve um papel de relevo na organização europeia que trata das questões de controlo de doenças, dizia que no fim os números vão ser todos muito parecidos. Isto porque nos países que fizeram um grande confinamento e tiveram bons resultados, quando desconfinarem vão compensar aqueles que não fizeram assim. Não sei se será assim, é uma coisa que não podemos prever. Em todo o caso há um ponto que no caso português correu bem, e que tem que ser posto no crédito das autoridades de saúde e do governo, que foi a consciência que tínhamos um parque no Serviço Nacional de Saúde extremamente impreparado para este tipo de ameaça. E não estou a dizer que o nosso SNS é mau, estou a dizer que estava vocacionado para as doenças crónicas, o que é natural, e não para doenças infecciosas. Esta circunstância obrigava a que os hospitais não pudessem ficar saturados, como aconteceu em Itália e Espanha, e essa gestão foi feita e a política foi positiva. Sabendo que este governo tinha feito ao SNS as maldades que fez e que nenhum tinha feito que foi um desinvestimento completo evidentemente que a situação era muito problemática e foi gerida com o cuidado que permitiu evitar a saturação. Agora nós sabemos que até a Alemanha que tem condições extraordinárias, a chanceler ao falar de desconfinamento deu os números e disse "se isto crescer desta maneira" ficamos sem capacidade de resposta e uma capacidade de resposta que mais nenhum tem. Evidentemente que no desconfinamento é preciso seguir isto com muito cuidado. O ponto mais positivo em Portugal foi a capacidade de gerir a resposta com a disseminação da infeção. Como vai ser a seguir ninguém está em condições de dizer..No imediato, as medidas que o governo adotou para responder à crise económica e social são as ajustadas perante uma situação que será mais grave do que a de 2011? Estou absolutamente convicto que nos confrontamos com uma crise pior, porque a anterior era financeira e agora é económica. Não é uma crise virtual, criada nos mercados, é motivada pelo fecho das lojas, das fábricas e dos serviços e, portanto, têm de abrir. Nenhum país que não dependa do Estado vai encontrar no setor privado situações muito problemáticas do ponto de vista económico e social. Temos de estar preparados para um cenário extremamente gravoso. Há uma coisa que vi logo, sabendo que Portugal tem um problema de burocracia na questão do lay-off era evidente que a Segurança Social não teria capacidade de resposta para uma legislação em cima da hora e que não está bem feita. Estamos em maio e há muita gente que ainda não recebeu nada e isso significa que é uma situação muito problemática. Sinceramente, não acho que a resposta económica do governo esteja à altura do que é preciso..Então o que seria preciso? Quando a União Europeia já disse que os fundos europeus por executar, cuja execução no caso português anda nos 50%, podem ser reutilizados sem comparticipação nacional, ou seja a 100%, e direcionados para a crise da covid-19, não há um plano de realocação, de reafetação e de redistribuição desses fundos em função da crise. Já passaram dois meses e o ministro do Planeamento anda desaparecido em combate, o ministro da Economia nunca fala dos fundos europeus. O que me preocupa imenso é assinaturas de contrato para o metro de Lisboa em que às tantas se vão usar a 100% fundos que eram de coesão e que deviam estar a ser usados na resposta à crise da covid-19 e vão ser usados para mais uma infraestrutura à socialista. É incompreensível que dispondo nós de mais de 10 mil milhões de euros neste momento para poder usar a 100%, seja na resposta à crise sanitária seja na resposta à crise económica, fundos europeus, e não haver um plano nacional sobre isto já conhecido é preocupante. Tenho muito receio sobre o que o governo vai fazer a esses fundos porque a única notícia que tive até agora é o metro de Lisboa e para quem está a viver esta crise não é a notícias que as pessoas mais precisavam de ouvir..O grande problema vai ser o desemprego, que já está a disparar? O desemprego será a questão principal, disso não há qualquer dúvida. O lay-off amortece esse choque, mas o choque virá. Há muita gente que já está numa situação muito difícil porque são pessoas independentes e que não caem em nenhuma categoria que habitualmente são cobertas por lei. E há muitas empresas que estão em lay-off que vão evoluir para a insolvência, para a falência e o fecho e, portanto, o lay-off é um paliativo para uma situação futura extremamente preocupante. Aí temos de ter uma resposta categorizada, que vá ver setor a setor o que é possível fazer para salvar a situação..A resposta da União Europeia no combate à pandemia, mas também à crise económica, não foi novamente concertada. Não é também preocupante? No caso da União Europeia a situação é causadora de grande perplexidade. Há aqui uma ironia, quando estamos a celebrar os 75 anos do fim da II Guerra Mundial e os 70 anos da coesão Schumann e a verdade é que a UE não foi capaz de estar à altura das suas responsabilidades. Houve uma grande falta de solidariedade, até simbólica no sentido de ser a primeira solidariedade que é preciso dar e estar ao lado daqueles que estão numa situação extremamente difícil. A posição numa primeira fase com a Itália foi completamente inaceitável..Nomeadamente a posição do ministro das Finanças holandês? Falava até de uma fase anterior, em que não houve uma equipa médica colocada nesse país, nem Portugal teve três médicos para mandar para Itália numa fase muito difícil e aprenderiam com isso. Se tivesse havido uma catástrofe natural, uma erupção vulcânica, teriam existido não sei quantas equipas de proteção civil a ir para o país atingido. Neste caso, a Itália ficou sozinha a gerir uma crise que, infelizmente, se propagou a outros. E nem esse sinal de apoio houve. Depois temos de compreender qual a resposta económica que é preciso dar em vários países europeus, em que a situação é muito grave e em que é preciso uma resposta europeia. Para Portugal responder à crise social e económica vai depender de haver ou não haver solidariedade europeia. Se houver mais solidariedade teremos mais capacidade, se houver menos teremos menos capacidade. O ministro holandês levantou questões de uma maneira inaceitável. Não é a primeira vez que um ministro holandês que faz isso. É talvez uma frase para consumo interno, mas inaceitável do ponto de vista europeu..António Costa esteve bem ao censurá-lo e a dizer que era "indigno"? Mas não terá trazido nenhuma vantagem a Portugal a bravata que o primeiro-ministro António Costa quis fazer. Isso com certeza que lhe deu popularidade, mas ele que vai ter a presidência da União tem de ter uma relação correta com todos os países, com todo os governo. Esse tipo de linguagem não é próprio de um primeiro-ministro. Se ele remetesse isso para um ministro, um ministro fazer as despesas e responder ainda estou como o outro. Mas os primeiros-ministros de Espanha e de Itália não tiveram a mesma atitude, mas não deixaram no Conselho Europeu de ser os mais duros, não foi António Costa. Uma coisa é vir dizer umas palavras aos jornalistas outra é estar no Conselho Europeu a lutar justamente de uma forma dura - e com isto não estou a dizer que António Costa não lute - e aí é que é o momento. Portugal vai ter a presidência da União dentro de menos de um ano, estamos a oito meses, e vai ter de estar acima destas confusões..A Áustria já está a criar uma aliança de "países inteligentes" no combate à pandemia, que agrega Israel, Dinamarca, República Checa e Grécia. Isto faz algum sentido? A tradução não deve ser a melhor, não deve ser "clever", mas "smart"e "smart countries" não é dizer que são mais inteligentes que os outros. São países que, de uma forma ou de outra, conseguiram lidar melhor com isto e não acho que o espírito do projeto seja esse. Eu não concordo com o projeto, mas a leitura que está feita é errada. O que está ali em causa até pode ser útil, ou seja, são os países que estão em melhores condições de avançarem com determinadas medidas antes dos outros, que os poderão imitar..A abertura de fronteiras é outra das questões importantes a discutir na UE? É uma questão fundamental a coordenação de abertura de fronteiras. Sou o único português que faz parte do escrutínio do de Schengen, no qual tenho tido um papel muito ativo. O que me preocupa é como é que vamos fazer, porque é indispensável para que haja de novo mercado interno, que haja liberdade de circulação de pessoas, que o turismo possa fluir. Tenho receio que uma abertura assimétrica de fronteiras, não coordenada, cada um a abrir as suas, é perigoso. E também há uma falta de coordenação a nível europeu..A Comissão Europeia estima que a queda da economia na zona euro seja 7,7% e em Portugal 6,8%. Tudo isto é brutal, porque mostra que todas as economias europeias vão entrar em recessão. Como é possível contrariar este tsunami económico que se abateu sobre a Europa e no resto do mundo? Sobre os números económicos vamos ter de esperar para ver, porque os números podem até ser piores do que estes. Mas a Comissão Europeia também aponta para uma recuperação bastante robusta, e queira Deus que verdadeira, logo em 2021. Mas não estou tão seguro que as coisas vão correr dessa maneira. Para elas correrem tudo depende do que for decidido pela União Europeia. Se a EU tiver um fundo de cooperação que verdadeiramente crie condições para ajudar os países mais afetados e crie um mecanismo tipo Plano Marshall, não só pelo dinheiro que põe mas pela confiança que cria noutros agentes, poderá gerar-se um ciclo virtuoso que ajude a resolver os problemas. Agora se a UE ela própria, nesta crise, está desde 27 de março a fazer cimeiras de 15 em 15 dias das quais não sai nada, a ponto de chegarmos ao dia 7 de maio em que a Comissão devia apresentar o seu plano e não foi capaz de o apresentar, é porque as dificuldades são muito grandes entre os estados-membros. Não estou a ver que haja uma resposta rápida e podemos ter aqui uma crise que dure mais tempo do que seria expectável. Há muita gente que acha que a crise vai ser episódica, mas eu lembro que quando começamos o confinamento toda a gente achava que ia ser 15 dias e que até podiam haver aulas nas férias da Páscoa e entretanto esse horizonte perdeu-se por completo..Longe está então que se encontre uma resposta financeira na UE que seja uma "bazuca" de que falava o primeiro-ministro António Costa? Neste momento estou muito pessimista. Quanto à questão do quadro financeiro plurianual a informação que neste momento circula é dececionante, é de que não terá uma envergadura muito diferente da que estava prevista, o que levou, aliás, a um empate total em fevereiro, porque os países chamados "frugais" (Áustria, Dinamarca, Holanda e Suécia) não queriam dar mais do que 1% do PIB e agora até têm um argumento acrescido é que precisam do dinheiro para os planos internos de recuperação. No que diz respeito ao fundo de recuperação o que está previsto é que hajam obrigações europeias, é uma solução positiva, e que é a Comissão que deve preparar a proposta, o que também é positivo porque na crise anterior a Comissão foi bastante posta de lado, o resto é tudo muito negativo. Não sabemos qual o volume da resposta, se vão ser empréstimos se vão ser subvenções e quais vão ser os critérios de redistribuição. Sabendo que há países que estão extremamente relutantes, para não dizer totalmente contra, a ideia de subvenção ou subsídio ou fundo perdido, evidentemente que isto pode trazer problemas seriíssimos e colossais a economias como a italiana, a portuguesa, e a espanhola. Neste momento não estou otimista porque os sinais que temos são sinais que nos deixam um sabor amargo para já. Pode ser que no fim tudo se resolva a bem e que se encontre uma solução que não sendo a ideal seja de compromisso., favorável à recuperação rápida e robusta. Mas os sinais são muito preocupantes porque não se vê que os Estados contribuintes líquidos percebam o desafio em que estamos. Não é só um desafio da recuperação económica, que só por si já seria um desafio absolutamente gigantesco, com esta crise está em causa a própria sobrevivência da União Europeia..A União Europeia pode mesmo acabar? Está em causa a União Europeia, está! É absolutamente claro que nesta crise, se acontecer uma ascensão, que não é improvável, mas é possível e plausível, do populismo em Itália ou na França, do Salvini e da Le Pen, corremos o risco de novas saídas da União Europeia. Nesse caso se a UE se dissolve e desintegra os países contribuintes líquidos, que julgam estar a fazer um exercício prudente, ficarão numa situação extremamente difícil porque a crise chegará à porta deles em condições que eles não estão à espera e fará ricochete. Nem os líderes entendem, na Holanda, na Dinamarca, na Suécia, a Finlândia, na Áustria e na Alemanha, nem as opiniões públicas entendem porque nunca foi feita essa pedagogia que se eles não tiverem o mercado italiano, o francês, o espanhol, essas economias não vão ter as possibilidades que agora têm. Se eles não estiverem no euro vão emitir moedas muito mais apreciadas cambialmente e não vão conseguir exportar. Chegou à altura de darem algum retorno àqueles que não tiveram na zona euro as mesmas vantagens competitivas que têm essas economias. Se não forem capazes de fazer isto, acho que a UE está em crise e uma crise que pode ser letal. Está num momento, usando uma expressão popular, de vai ou racha..Até porque já se confrontava com outro problema gigantesco que é a saída do Reino Unido... Sem dúvida, o Brexit foi já uma coisa muito negativa para a União Europeia, com um impacto brutal, não só do ponto de vista económico mas do ponto de vista político e geopolítico. Muito pior para a UE do que para o Reino Unido. E este é um fator de agudização da crise que temos. Para Portugal a perda do Reino Unido é uma perda dentro da União gravíssima, é das piores coisas que nos podia ter acontecido porque o Reino Unido dentro da UE significava a visão Atlântica, que é a nossa visão. E que tinha uma força equivalente à França ou a Alemanha, com uma visão menos voltada para o miolo continental e essa visão desapareceu. Sempre fui muito crítico deste governo português que não foi capaz de estabelecer uma liga com a Suécia, a Dinamarca, a Holanda, a Bélgica e Irlanda, que são pequenas e médias potencias europeias que são potenciais atlânticas que tinham uma âncora no Reino Unido. É muito mais importante que o Clube Med, que António Costa tanto gosta, um clube Atlântico para Portugal. Mais do que ser do sul, o que nos caracteriza é ser do ocidente da Europa..Se tudo correr bem, e existir um plano financeiro para responder à crise económica, será ainda assim preciso mudar o paradigma económico em que nos movemos e deixar, por exemplo de comprar e mandar produzir tudo à China? Já defendia isso antes. Há três ou quatro lições desta crise que temos de tirar. Já em 1989 falava da soberania alimentar, porque não podemos deixar de ter alimentos, medicamentos e equipamentos produzidos localmente, na Europa. Temos uma força de proteção civil que seja capaz de os armazenar, dos distribuir, dos gerir de forma a que sempre que haja uma crise, seja ela ambiental, ou de catástrofe natural ou uma como esta, bio-política como alguém já chamou. Perante uma situação destas temos de ter reservas estratégicas, o que Macron chama a soberania europeia. Julgo que se vamos ter de reconverter a economia não há nenhuma razão para abandonarmos os objetivos do Green Deal. Há muitos países e até algumas forças políticas que defendem que como temos de regressar a uma economia forte vamos esquecer os objetivos ambientais. Acho precisamente o contrário, como temos de refazer as coisas devemos já apontar para as metas ambientais. A terceira lição da crise, é a questão das tecnologias. Esta crise também trouxe coisas positivas, porque se verificou que se pararmos com as emissões há efeitos muito rápidos. O que se relaciona com o teletrabalho e o tele-ensino, o que aprendemos hoje é que a digitalização e a tecnologia em geral alteraram o mundo em que vivemos. A Europa tem de liderar a agenda da digitalização, da tecnologia e da investigação para se afirmar no contexto político geral. Teria sido muito mais grave do que já foi se não tivéssemos os meios que temos, porque apesar de estarmos todos confinados em casa fomos todos capazes de comunicar. A globalização não parou porque eu faço uma média de 6 ou sete horas de videoconferências por dia com Bruxelas e com muitos países, com os primeiros-ministros nas cimeiras do PPE, cada um na sua capital, e por isso é confinamento muito especial este, globalizado.