Novos casos de covid-19 no norte aumentaram 32% numa semana
Depois de se ter visto a braços com uma pandemia, quando o país ainda mal sabia o que era a covid-19, a região norte do país começou a ver as infeções diárias a diminuírem. No entanto, há duas semanas consecutivas que o número de casos voltou a crescer, tendo o ritmo de contágio acelerado 32% nos últimos sete dias. O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, tem a expectativa de que as novas infeções possam ser controladas rapidamente pela experiência adquirida pelas entidades de saúde da região anteriormente e por os serviços estarem sujeitos a uma "pressão controlável", como também confirmou, ao DN, o diretor de infecciologia do Hospital de São João, no Porto, António Sarmento.
Nos últimos sete dias, a região Norte confirmou 333 casos de covid-19, mais 81 que na semana anterior, mais 169 que na semana antes dessa. Representa agora entre 10% e 20% das infeções diárias nacionais, depois de, esta quinta-feira (9 de julho), ter registado mais 57 casos no boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS). Menos 20 infeções que na quarta-feira, dia em que a região teve o maior número de casos desde o dia 10 de maio.
As autoridades de saúde tem-se referido a surtos circunscritos no espaço, a focos isolados, que não criam pressão acrescida nos hospitais, como testemunha o diretor do serviço de infecciologia do Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, o maior da região. Este continua a ser um período "mais calmo, que nada tem a ver com o que estás para trás", diz António Sarmento. "Os internamentos reduziram de forma drástica. Ainda bem, se não não aguentávamos".
Também o número de mortes não tem revelado alterações significativas. Nas últimas três semanas, morreram oito pessoas no Norte com covid, segundo a informação oficial da DGS. A taxa de letalidade local é agora de 4,6% (a nacional é de 3,6%), mas a explicação continua a estar nos primeiros tempos da pandemia, quando a região era a principal afetada pelo vírus. Por isso, em termos de número de vítimas mortais, o Norte tem a maioria: 821 entre 17 957 infetados. Já em relação aos casos, a zona foi ultrapassada por Lisboa e Vale do Tejo no dia 24 de junho. Esta última tem agora 21 584 infetados e 527 óbitos.
Mesmo assim, Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, lembra que "há umas semanas, a proporção [diária] de casos em Lisboa e Vale do Tejo era de cerca de 90%. Agora, tem vindo a baixar e o número de casos não está a descer. Portanto, estamos a ter uma maior dispersão de casos pelo país". Expectável, segundo o especialista, numa altura em que há mais mobilidade por causa das férias de verão.
O Norte passou de cinco surtos ativos para 18 a envolver a área do Porto, Cinfães, Vila Nova de Gaia, Gerês, Espinho, Vila do Conde, Póvoa do Varzim, entre outras cidades, de acordo com informação prestada pela ministra da Saúde, em conferência de imprensa na sexta-feira passada. Esta semana, não é possível fazer a avaliação do aumento de casos por município, uma vez que a tabela no boletim da DGS onde esses valores se encontram está temporariamente congelada para atualização.
Sobre os novos focos, a ministra da Saúde, Marta Temido, manifestou-se "tranquila" com a evolução dos surtos, "com ligações identificadas e controlados". Também o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública acredita que há espaço de manobra para não deixar acelerar a transmissão do vírus no Norte.
"Têm havido focos no norte, mas com intervenção têm conseguido controlá-los com alguma celeridade, porque na prática há uma dificuldade menor em mobilizar recursos fruto de não terem uma pressão tão grande", aponta Ricardo Mexia. "Neste momento, quando caiem mais dez casos em Sintra ou na Amadora há mais dificuldade em responder do que a dez casos em Vila Nova de Gaia ou em Braga. No Norte, já tiveram a experiência muito dura da fase inicial [da pandemia] e aprenderam com isso", continua o médico.
Sobre a origem destes casos, os dois especialistas ouvidos pelo DN lembram a questão da mobilidade entre regiões e até entre países, uma vez que as fronteiras europeias já estão abertas, o que facilita a transmissão do vírus. "Portugal é um país muito pequeno e se as coisas começarem a rebentar num sítio é muito difícil que não cheguem a outro", diz o diretor da ala de doenças infecciosas do São João.
"Eu acho que Lisboa está para Portugal como a China estava para o resto do mundo. Toda a gente viaja para a China e da China viaja-se para o resto do mundo e, por isso, é que a contaminação disparou rapidamente. Temos de estar atentos, porque a situação em Lisboa [e Vale do Tejo] está agora muito diferente e não se pode dizer que ela não chega aos outros sítios", acrescenta António Sarmento.