Quase um mês depois de a China ter anunciado o surto de uma nova pneumonia na cidade de Wuhan, a doença já alastrou à maioria das províncias do país, com casos também reportados em vários países. Na última semana, depois de um período de cerca de 15 dias em que o surto parecia ter sido contido no seu foco inicial, os novos casos começaram a multiplicar-se e a alastrar no país..Nesta altura sabe-se que a pneumonia é causada por um novo coronavírus, cujo genoma já tem uma primeira versão publicada. As autoridades chinesas tomaram, entretanto, medidas sem precedentes para tentar travar a progressão da epidemia, mas há muitas incertezas. Eis o que se sabe - e o que ainda falta saber..Os números e a progressão da doença.Na última semana, os números sucessivamente anunciados pelas autoridades de saúde chinesas ficaram sempre rapidamente desatualizados. Neste domingo, os casos confirmados ascendem a cerca de 2000 no país, enquanto o número de mortos cifra-se em 56. No sábado foram identificadas 688 novas infeções e reportadas mais 15 mortes. As autoridades chinesas admitem que os doentes em estado grave nesta altura são 324. Positivo, por outro lado, é o número confirmado de 49 pessoas que superaram a infeção e já tiveram alta hospitalar..Segundo as autoridades de saúde do país, este é o momento "mais crítico" para travar a progressão da doença e conseguir contê-la. No entanto, avisam, a epidemia parece estar a acelerar e o contágio a tornar-se mais rápido.."Há sinais de que a sua transmissão está a aumentar, e as fontes de contágio [as pessoas infetadas ainda sem sintomas da doença] tornaram difícil controlar e prevenir a doença", afirmou neste domingo Ma Xiaowei, presidente da Comissão Nacional de Saúde da China..Casos na China e em mais 14 países e territórios.A esmagadora maioria dos casos ocorrem na China - são cerca de 2000 nesta altura -, onde ocorreram também todas as mortes registadas até agora. A maioria das províncias do país tem casos confirmados, escapando apenas as regiões mais a norte..Fora da China, os casos confirmados ascendem a 38 e ocorreram em Macau e em Hong Kong, estando confirmados casos de infeção também em Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, França, Austrália e Canadá..Todos os casos reportados fora da China estão ligados a visitas recentes à cidade de Wuhan. Portugal anunciou no sábado o primeiro caso suspeito da nova pneumonia, de um viajante também oriundo de Wuhan, mas as análises laboratoriais, cujos resultados foram conhecidos nesta manhã de domingo, não confirmaram a doença..Um novo coronavírus na origem da doença.A pneumonia que emergiu na cidade chinesa de Wuhan há cerca de um mês é provocada por um novo coronavírus, anteriormente desconhecido da ciência, que os cientistas batizaram como 2019-nCoV e que é aparentado daquele que em 2002 e 2003 causou uma epidemia global de uma síndrome respiratória aguda (SARS, na sigla em inglês) com um saldo global de 774 vítimas mortais, em mais de oito mil casos..A origem do coronavírus, assim chamado devido à sua forma, que faz lembrar uma coroa, ainda é desconhecida. Sabe-se que o surto emergiu a partir de um mercado de venda de peixe fresco e marisco e outros animais vivos, incluindo espécies selvagens, como morcegos e cobras..O mais provável é que a fonte original do agente patogénico seja uma das espécies de selvagens, à semelhança do que aconteceu na epidemia de SARS, em que o reservatório do respetivo coronavírus, como depois se verificou, eram as civetas, um gato selvagem. Neste momento, porém, os investigadores não conseguiram ainda determinar de que animal provém o novo coronavírus, que passou a barreira de espécies e passou a infetar os humanos..Os sintomas da doença e as incertezas sobre o contágio.Os sintomas associados à infeção causada pelo novo coronavírus são mais intensos do que uma gripe e incluem febre, dor, mal-estar geral e dificuldades respiratórias, incluindo falta de ar..Neste domingo, o presidente da Comissão Nacional de Saúde, Ma Xiaowei, afirmou que "a capacidade de propagação do vírus se reforçou", o que indica que já terá sofrido mutações desde que passou a infetar humanos..O período de incubação da doença, que parece ser em média de 14 dias, é outro fator desfavorável, já que os doentes ainda sem sintomas, desconhecendo portanto a sua condição, são fonte de contágio para outras pessoas. Ma Xiaowei afirmou a propósito que isso tem tornado difícil o controlo da doença, admitindo que o novo coronavírus não é tão perigoso como o da SARS, mas é mais contagioso..Medidas sem precedentes na China.Ao longo da última semana, quando se tornou claro que o surto não tinha ficado contido na origem e começaram a surgir casos dispersos em diferentes províncias do país, que por sua vez se multiplicaram exponencialmente a cada novo dia, as autoridades chinesas foram tomando medidas crescentemente apertadas, isolando sucessivamente várias cidades - são agora 17, afetando cerca de 52 milhões de pessoas -, cancelando festejos do ano novo lunar, encerrando monumentos e parques de diversões, bloqueando transportes e vias e adiando indefinidamente o reinício das aulas nas cidades de quarentena..Pequim, Xangai, Xian e Tianjin cancelaram todos os transportes de longo curso de e para fora das respetivas cidades. Nas províncias de Guandong e nas principais de cidades das regiões afetadas, o uso de máscara é obrigatório..Em Wuhan há dois novos hospitais em construção para tratar exclusivamente estes doentes. Um deles abre já a 3 de fevereiro, o outro ficará operacional na semana seguinte..Uma medida inédita tomada igualmente neste domingo tem que ver com o comércio de animais selvagens, que a partir de hoje está temporariamente banido em todo o país.."Baixo risco" para o resto do mundo.Apesar de na China se viver uma situação de emergência médica, o risco global parece ser menos preocupante. O Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) considerou neste domingo que é baixa a possibilidade de transmissão secundária no espaço da União Europeia (a partir dos casos chegados de fora) "desde que sejam cumpridas as práticas de prevenção e controlo de infeção relacionadas com um eventual caso importado"..O Canadá reportou neste domingo o seu primeiro caso, o de um viajante da China. Os Estados Unidos anunciaram que um terceiro caso de coronavírus foi confirmado no sábado e que respeita a um homem que está na Califórnia e que esteve em Wuhan. Os três primeiros casos na Europa foram registados na França na sexta-feira..Medidas de controlo fora da China.Nesta semana, a Organização Mundial da Saúde decidiu não declarar a nova pneumonia como emergência médica global, reconhecendo, no entanto, que se trata de uma emergência médica na China e mantendo em aberto a possibilidade de tomar outra decisão no futuro..Inúmeros países, incluindo os Estados Unidos e vários da Ásia, implementaram entretanto medidas de rastreio da temperatura de viajantes procedentes da cidade de Wuhan..Os Estados Unidos decidiram também que vão retirar o seu pessoal e cidadãos americanos que se encontram bloqueados em Wuhan..Medidas tomadas por Portugal.A Direção-Geral da saúde acionou na quarta-feira os protocolos estabelecidos para este tipo de situações, reforçando no Serviço Nacional de Saúde a linha Saúde 24, através do número 800242424, e a linha de apoio médico, para triagem, a fim de evitar que em caso de eventual contágio as pessoas não encham os centros de saúde e as urgências, estando em alerta o Hospital de São João, no Porto, o Curry Cabral e o D. Estefânia, em Lisboa..O governo português indicou, entretanto, que foram identificados 20 portugueses que são residentes em Wuhan ou que se encontram em visita e está a estudar a possibilidade de os retirar daquela cidade, "se isso for viável à luz das regras de saúde pública"..O governo emitiu neste domingo também um aviso desaconselhando "viagens não essenciais" à China, enquanto a Embaixada de Portugal em Pequim alertou os portugueses residentes na China para a "evolução muito rápida" do novo coronavírus no país, apontando a celeridade com que as autoridades locais estão a implementar medidas de quarentena.."Sublinhamos que a evolução da situação é muito rápida e que as decisões das autoridades chinesas em impedir a circulação de transportes ou de implementar medidas de quarentena não são comunicadas com antecedência e têm aplicação praticamente imediata", lê-se na nota, difundida através do portal oficial da embaixada.