Nova escola promete ser "incubadora de músicos"
Cinco andares, mil metros quadrados, dez salas de aula totalmente equipadas com instrumentos, estúdios de gravação e auditório até 130 lugares de ocupação. É este o espaço onde o Atlantic Music Performance Institute (AMPI) vai receber alunos, que terão acesso a uma certificação internacional após conclusão dos cursos.
O projeto nasce de um sonho antigo de Sandro Norton. "No momento em que cheguei a Londres como aluno, em 1999, e vi espaços como este, quis construir algo semelhante ao que vi em Portugal: um edifício que respirasse música", recorda. Há sete anos, o guitarrista que fez, ao longo da sua carreira, parcerias musicais com Pip Williams, Mike Outram, Xenopoulos Vasilis, Ian Anderson, Mathias Gwin, Bias, Dyce, Brown Jocelyn e Kahiali Haifa, pôs mãos à obra. "Foram sete anos de muito trabalho, onde fiz tetos, chão, paredes, painéis acústicos e um pouco de tudo no edifício que estava devoluto", explica.
Nos seus cinco andares, o Atlantic Music Performance Institute conta com salas temáticas, com o nome das várias cidades (Londres, Berlim, Los Angeles, Atenas, Arkansas, entre outras) por onde o músico passou, dotadas de todos os equipamentos musicais, sonorização, salas de ensaio, de canto ou ainda espaços preparados para crianças. "Não há nada em Portugal como esta escola. É uma incubadora de músicos. A ideia é construir carreiras e inserir os alunos no mercado com um método de ensino inovador, baseado na minha experiência como docente no estrangeiro. Estudar em comunidade, com colegas e com competitividade não é igual a fazê-lo de forma individual", refere.
Para formar os alunos da escola, Sandro Norton conta com os maiores nomes da música internacional e nacional, como Rui Reininho, Mário Barreiros ou a cantora Maria João, num total de 30 docentes, que irão lecionar cursos de todos os instrumentos, como piano, guitarra ou bateria, bem como canto. E não há limite de idade para as inscrições. "Vamos ter aulas para todos os níveis e para crianças, no AMPI Junior", conta Sandro Norton. A escola estabeleceu parcerias com inúmeras universidades dos Estados Unidos da América e de Inglaterra, entre outros países.
Sandro Norton diz que o AMPI é uma escola "altamente voltada para a parte performativa". "Quero os alunos no palco. Vamos ter, por isso, três a quatro eventos semanais como a noite de jazz ao domingo. Vai começar com workshop das 18h00 às 22h00 e concerto das 22h00 à meia-noite. Vamos ter a noite Brasil, com roda de samba, a noite sound writer ou a noite blues", conta o guitarrista.
O AMPI contará também com uma feira de instrumentos usados, que se realiza no primeiro domingo de cada mês. É possível, ainda, alugar salas para ensaios e o espaço do bar para eventos e festas, que podem incluir concertos.
Sandro Norton encontrava-se em Los Angeles, nos EUA, quando começou a pandemia de covid-19. "Estava com um disco para sair em junho de 2020 e andava a viajar por vários países em concertos. Para além do AMPI, estava cheio de projetos e tinha estado em 12 países desde o início do ano. Perdi 38 concertos por causa da pandemia e eram espetáculos bem pagos... Em cada trabalho, já decidia o que ia investir em obras para abrir portas e estava tudo pronto quando começou a pandemia", recorda.
Apesar dos atrasos provocados pela pandemia, o AMPI abriu e conta já com várias inscrições. "O objetivo é chegar aos 50 alunos e continuar a crescer. Somos pioneiros neste conceito em Portugal e acredito que vamos ter sucesso", avança Sandro Norton. Dos sonhos fazem ainda parte uma expansão para o estrangeiro. "Vamos abrir o Atlantic Music Performance Institute noutros países, como o Brasil. Vai permitir intercâmbio de alunos e professores", conclui. No AMPI, ainda há outros projetos na manga. "Vamos ter um jardim fibonacci, com a clave de sol como elemento central", explica o músico.
Sandro Norton é um guitarrista detentor de uma técnica ímpar: a guitarra percussiva. Natural do Porto, foi estudar para Londres em 1999. Mike Outram, Shaun Baxter, Ian Scott (Beach Boys), Phillip Mead (George Crumb), Dave Cliff (Lee Konitz), Eddie Harvey (Ella Fitzgerald) são apenas alguns dos nomes com quem Sandro se cruzou no seu percurso académico. Na capital inglesa, atuou em vários locais como The Cavern Club em Liverpool, Jazz Café em Camden Town, Ronnie"s Scott, 100Club em Oxford Street e Borderline no Soho.
A música levou-o também a Noruega, Suécia, Espanha e Holanda como solista e membro de pequenos ensembles. Sandro já tocou para mais de 50 mil pessoas em duas ocasiões: com Jethro Tull e com Jojo Watz no Ashton Court Festival, em Bristol. O seu primeiro álbum de originais Flying High... At the Heart of It 1, lançado em 2020, foi considerado o sexto melhor álbum de jazz noa EUA.
Sandro Norton regressou a Portugal em 2007 e, a par da sua carreira na música, pretende fazer crescer o AMPI, criando um novo espaço para a música e para os músicos no nosso país.