Nas "dunas" do Chiado, com acessórios de praia portugueses

A pandemia surpreendeu-os a abrir uma loja no coração de Lisboa, mas nem por isso a Futah, marca portuguesa de acessórios de praia, se transformou num castelo de areia. Para Ricardo Ramos, Catarina e Mariana Cunha, o horizonte futuro passa pela internacionalização do conceito, que tem a nossa costa atlântica por inspiração maior.
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Entre autocarros que descem a Rua da Misericórdia e transeuntes apressados, o cheiro a praia surpreende. À beira do Chiado, uma loja nova transporta para meio urbano o apelo das férias à beira-mar. Chama-se Futah e mostra a quem passa um apetecível conjunto de acessórios de praia, com assumido protagonismo para as toalhas. Afinal, foi com elas que a marca nasceu em 2012, criada por três primos apaixonados por viagens (e por destinos de praia naturalmente), Ricardo Ramos, Mariana e Catarina Cunha.

"Tudo começou com uma viagem à Tunísia", lembra Ricardo. "Demo-nos conta de que as toalhas tradicionalmente usadas na costa magrebina (as foutas) são infinitamente mais leves do que as usadas nas praias portuguesas, ao mesmo tempo que absorvem facilmente a água e ocupam muito pouco espaço no saco ou na mala de viagem. Por outro lado, fomo-nos apercebendo de que, no nosso país, não havia grande preocupação estética com a toalha de praia. As pessoas até podiam empenhar-se muito na escolha do fato de banho ou de um saco mas acabavam por usar as toalhas que lhes eram oferecidas como brindes de cremes solares ou de perfumes. Não era um acessório de moda."

Essa constatação levou os três jovens primos, que há muito acarinhavam a ideia de abrir um negócio juntos, a desenvolver uma marca que associasse a sustentabilidade ambiental e o gosto pelas praias portuguesas, de Moledo, no distrito de Viana do Castelo, a Cabanas de Tavira, no sotavento algarvio.

O cosmopolitismo do conceito (bem presente no lettering da marca, em que o "h" final é um dromedário tão presente no norte de África) casa aqui com o elogio da paisagem nacional, já que a coleção de toalhas, em tamanho infantil, individual ou XL, evoca sempre uma praia portuguesa, cada uma com a sua identidade própria. Neste momento são 32, mas outras se seguirão.

Essa "portugalidade" é essencial para Ricardo. Filho de diplomata (o pai é Luís Faro Ramos, atual presidente do Instituto Camões, entidade tutelada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros), considera que, mais do que os locais onde viveu, o que o marcou, na infância e na adolescência, foi a vivência de estar fora. "Creio que isso me levou a dar muito mais valor ao que é português, às coisas boas que temos, do que os meus amigos que estiveram sempre aqui."

Essa atenção a Portugal passa ainda, na coleção deste ano, pela evocação de quatro espécies animais outrora muito presentes na nossa paisagem, mas hoje ameaçadas de extinção: o lince-ibérico, a cegonha-negra, o cavalo-marinho e o camaleão do Algarve. Em pleno Chiado (ou online www.futah. world/pt) podemos "encontrá-los" em toalhas, nos outros acessórios de praia (e não só) que a Futah entretanto desenvolveu: camisas, T-shirts, sacos, bolsas ou mochilas.

Em colaboração com o World Wildlife Found e a Associação Natureza Portugal, 10% das vendas revertem para projetos de conservação e proteção ambiental. Esta preocupação, de resto, passa também pela escolha das matérias-primas (preferencialmente, algodão orgânico) mas também pelos sacos de pano (em lugar de plástico ou papel) oferecidos aos clientes ou por etiquetas que podem transformar-se em marcadores de livro, por exemplo. "Apelamos sempre à reutilização", sublinha Ricardo.

O confinamento ditado pela covid-19 surpreendeu a Futah a abrir a loja do Chiado, depois de anos a funcionar em Campo de Ourique (loja que se mantém) e em quiosques nos principais centros comerciais de Lisboa e Porto. "Há muito tempo que sonhávamos ter um espaço no Chiado, que continua a ser o coração da cidade, e onde passa muita gente, nacional e estrangeira, mas não estávamos, de facto, à espera de uma primavera tão má como esta", admite Ricardo Ramos.

Perdido o timing de funcionamento dos centros comerciais (que só reabriram, e com muitas restrições, em junho), ganhou-se, no entanto, uma nova presença nas vendas online, que subiram consideravelmente no período de confinamento, em Portugal e não só. "A nossa implantação tem crescido em Espanha de tal modo que estamos a estudar uma estratégia de expansão a pensar nesse mercado que é exigente", afirma.

Por ora de toalha estendida na cidade, a Futah faz do Chiado a sua mais importante montra. Sobre as cores, no chão, paredes e teto, que evocam as nossas paisagens costeiras, o candeeiro de cerâmica e o espelho desenhado pela arquiteta Inês Moura afirmam-se subtilmente, sem retirarem protagonismo aos padrões de toalhas, ponchos de surf e demais acessórios nos charriots. No ar há um aroma, criado por este trio de primos, que rapidamente nos transporta para os verões azuis da nossa infância. O sucesso tem sido tal entre quem visita a loja que, um dia destes, talvez o engarrafem e ponham à venda.

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