Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos chega ao palco do Politeama
Paixão, suspense e a mulher são palavras que resumem a próxima peça de La Férie. O mundo feminino de Pedro Almodóvar chega ao palco do Teatro Politeama com o novo musical: Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos. Os enredos almodovarianos dos anos 1980 tem a estreia prevista para o início de junho.
Uma peça que passou pela Broadway e ganhou três Tony Awards com texto de Jeffrey Lane e música original de David Yazbek. Foi a adoração por Almodôvar e pelo seu mundo que levou o encenador Filipe La Féria a fazer a sua própria versão.
"Assisti à peça em Londres mas não gostei nada da encenação que vi. Acho que é muito curioso, porque para um público anglo-saxónico é muito difícil compreender este mundo do Almodóvar. São mulheres hispânicas", explicou o encenador e dramaturgo numa conversa com o DN.
A peça conta a história de Pepa, personagem principal, que procura perceber o porquê do seu amante, Ivan, a ter deixado. As personagens mulheres, as grandes protagonistas, diferenciam-se umas das outras em diferentes aspetos. Não só pelas idades mas também pela forma de encararam a vida, levando público feminino a identificar-se com cada uma delas.
Uma versão que inclui muito do que se passa no filme (1988) mas de uma forma portuguesa com muito a acontecer em palco, desde táxis e motas a entrar e a sair de cena ao palco a subir e descer. A peça inclui também oito bailarinos coreografados por Marco Mercier e uma orquestra dirigida pelo maestro Miguel Teixeira e direção vocal de Tiago Isidro.
Com o texto em inglês, o encenador juntamente com dois intérpretes, João Fridas e o Felipe Albuquerque, adaptaram o texto à língua portuguesa. "A língua portuguesa é muito mais rica mas ao mesmo tempo é muito mais extensa, para dizermos o sentimento duramos muito mais tempo que os ingleses que usam quase códigos." No entanto, o filme é mais próximo da nossa realidade, devido à identificação ibérica existente.
La Féria descreveu a peça como sendo um dos seus melhores espetáculos. "É um espetáculo que dei tudo. Tenho as melhores atrizes que são ideais para os papéis que fazem. Desde grandes veteranas do teatro a estas jovens cheias de ímpeto e de talento."
Do elenco fazem parte Paula Sá, Rita Ribeiro, Carlos Quintas, Filipa Cardoso, Bruna Andrade, João Frizza, Filipe de Albuquerque, Élia Gonzalez, Fernando Gomes, Rosa Areia, Samuel de Albuquerque, Paulo Miguel Ferreira, Jonas Cardoso e Paula Marcelo.
Paula Sá interpreta o papel de Pepa, a amante de Ivan e personagem principal. Uma personagem que a atriz acabou de certa forma por se relacionar, levando-a adaptar-se melhor ao que se passa em palco. "Essa foi uma das coisas que me enterneceu. Ela tem a minha idade, 42 anos, e estou a passar por uma fase a nível sentimental muito idêntica também. Portanto, não sei se foi uma grande cilada do Filipe, mas de facto é que eu me sinto muito próxima da personagem", afirmou a atriz.
Paulina é uma mulher completamente distante da Filipa Cardoso. Uma personagem mais fria e calculista, o que levantou um desafio para a atriz. No entanto, com um mote do encenador inspirou-se numa cliente da sua mãe. "Quando olhei para o meu personagem, disse: o que é que eu vou tirar daqui? Mas como não existem pequenos papéis, como diz o Felipe [La Féria]e somos nós que os temos de espremer e que lhe dar vida, e foi isso que fiz", contou ao DN.
Bruna Andrade pisa o palco como Candela, amiga da personagem principal. O seu conflito gira à volta da sua paixão por um homem que depois descobre ser um terrorista xiita. "Por acaso, na minha vida já passei por várias fases. Nós quando somos mais jovens também temos mais tendência a fazer mais maluqueiras. E a Candela faz-me lembrar algumas fases mais malucas da minha vida", afirmou.
Quando começou a estudar o seu papel, Bruna Andrade não gostou da peça. Mas com o desenrolar dos ensaios, músicas e forma como os seus colegas interpretavam a sua personagem acabou por se apaixonar pela peça. "Na altura quando vi não achei muita piada porque não me identifiquei com a maneira que outros autores pegaram na peça. Contudo, acho que o Filipe está a montar a peça de uma forma muito cativante e as pessoas irão perceber rapidamente a história que era uma coisa que eu no filme tinha alguma dificuldade."
Rita Ribeiro sempre sonhou em trabalhar com o mundo Almodóvar. Há dois anos trabalhou num filme com um discípulo de Almodóvar em Espanha. "Parecia que já estava a adivinhar e mal eu sabia que ia fazer esta peça".
Agora, Rita vai representar Lucia, uma mulher que se rege pelos valores católicos e convencionais, o oposto da atriz. "Não tenho nada a ver com a personagem mas tenho uma grande compreensão pelo ser humano. Sinto que a Lucia não tem nada a ver comigo mas compreendo-a e essa compreensão ajuda a interpretá-la".
"Foi maravilhosa a construção deste espetáculo e surpreendente para algumas pessoas", acrescenta a atriz.