Ministério do Ambiente invadido por despejados e ativistas. Estado já agendou audiência

São atuais e antigos moradores do Bairro 6 de Maio, na Amadora, que foram despejados. Foram esta tarde recebidos por chefe de gabinete de Ana Pinho. Próxima audiência decorre no dia 3 de dezembro.
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Sem aviso prévio, cerca de 20 pessoas ocuparam pacificamente esta quarta-feira à tarde a entrada do Ministério do Ambiente e da Transição Energética, na Rua de O Século, em Lisboa, exigindo ser recebidas secretária de Estado da Habitação, Ana Pinho, ou pelo ministro Matos Fernandes. Seis pessoas conseguiram entrar numa reunião com a chefe de gabinete da secretária de Estado, onde lhes foram prometidas mudanças e uma reunião com todos os intervenientes políticos fundamentais para discutir o tema.

De acordo com fonte oficial do Ministério do Ambiente, as pessoas identificaram-se como atuais e antigos moradores do Bairro 6 de Maio, na Amadora. A iniciativa da Associação Habita e da Stop Despejos contou com o apoio do Bloco de Esquerda, que transmitiu a "ocupação" num direto no site Esquerda.net. Segundo a mesma fonte, a ação foi pacífica.

Nesse direto, uma das dirigentes da Habita, Rita Silva - que era a número dois da lista de Ricardo Robles, quando das eleições autárquicas em Lisboa, mas que renunciou ao lugar de vereadora depois da demissão do eleito bloquista - explicou que estão contra um Orçamento do Estado que tem verbas muito escassas para a habitação.

"O orçamento para a habitação é mais baixo do que o orçamento para a cultura. Não chega a 1%", sublinha Ana Garro, da associação Stop Despejos, em entrevista ao DN. "Está na Constituição como um dos pilares fundamentais para o Estado, mas nunca chegou a ser assumido como tal. E agora que há uma crise, responde-se com uma migalha".

"Já tínhamos tentado marcar uma audiência há cerca de um mês, mas não tivemos resposta. Viemos para exigir essa reunião", explicou ainda. "A polícia ainda nos tentou tirar à força, mas conseguimos dialogar com uma pessoa do ministério". E lá permaneceram até por volta das 17:30.

Da reunião que conseguiram com a chefe de gabinete da secretário de Estado, ficaram acordados várias intervenções. Em primeiro lugar, foi-lhes prometida uma audiência com o secretário de Estado da Habitação, Ministério do Ambiente, IHRU e Câmara Municipal da Amadora. "A ideia é incluir as pessoas despejadas do Bairro 6 de Maio no programa de realojamento deste bairro", explica Ana Garro, a confirmou que esta reunião se irá realizar no próximo dia 3 de dezembro.

Para a ativista, este bairro é dos casos mais alarmantes da cidade e "demonstra que há falta de respostas na habitação". "Para nós, é um caso de completa injustiça social. Muitas casas foram lá demolidas e as pessoas que ficaram sem caso não constam no programa de realojamento que agora o IRHU está a preparar para este bairro".

Além disso, os responsáveis disseram que iriam falar com a Câmara Municipal de Loures para resolver os problemas dos residentes do bairro da Torre. De acordo com a interveniente nesta manifestação e um dos rostos da Stop Despejos, "é proibido construir naquele terreno, por isso, qualquer melhoria obriga a que as autoridades de Loures apreendam os materiais utilizados para as melhorias".

Também o caso da "dona" Emília Arreal foi deixado em cima da mesa. Com 75 anos, "foi despejada e está neste momento a viver na rua". "Viveu num vão de escadas estes últimos dois dias", conta Ana Garro. Esteve entre as seis pessoas manifestantes autorizadas a entrar na reunião que decorreu esta tarde, para expor a sua situação. A chefe de gabinete prometeu sinalizar o seu caso.

"O Governo não está a levar a sério a crise na habitação e a emergência social que está a sentir-se", afirmou Rita Silva, exemplificando com as pessoas ali presentes, que foram despejadas.

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