Centeno deixa as Finanças. João Leão é o novo ministro. Mourinho Félix sai

Presidente da República informa que António Costa pediu a exoneração de Centeno. João Leão toma posse dia 15. António Costa e Centeno prometem "abraço" para a pós pandemia.
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Mário Centeno deixa o Ministério das Finanças, numa exoneração que já foi aceite pelo Presidente da República. João Leão, até agora secretário de Estado do Orçamento, toma posse como ministro no dia 15.

Esta remodelação conheceu-se no dia em que o Conselho de Ministros aprovou o Orçamento de Estado suplementar para 2020, como resposta à crise económica e social provocada pela pandemia. Da reunião saíram, lado a lado, Mário Centeno, o ministro demissionário, António Costa, e o novo titular da pasta das Finanças, João Leão. A conferência de imprensa conjunta serviu sobretudo para a despedida do também presidente do Eurogrupo, mas sobretudo para o primeiro-ministro garantir que a política económica e financeira do governo será de continuidade e "estável".

António Costa fez questão de frisar que a decisão de sair do governo foi de Centeno. "A vida é feita de ciclos e expresso publicamente que compreendo e respeito que Mário Centeno queira abrir um novo ciclo na sua vida". Lembrou ainda que o ciclo foi "longo", de seis anos, e que o ministro cessante foi o segundo em 46 anos de democracia a completar uma legislatura no governo, tendo ainda preparado o primeiro Orçamento do Estado da atual e ainda o suplementar aprovado esta terça-feira. Assegurou, por isso, ser este o timing certo para esta remodelação.

António Costa agradeceu "profundamente a dedicação" e a "excelência dos resultados" obtidos por Centeno e o "prestigio" que deu a Portugal enquanto presidente do Eurogrupo. E até prometeu um abraço, que foi também replicado por Centeno, ao seu ministro cessante. "O covid não permite o abraço que me apetecia dar agora a Mário Centeno, mas quando passar será dado".

De João Leão, o sucessor, quis garantir que é a melhor forma de "dar continuidade" ao trabalho feito, já que esteve sempre na equipa de Mário Centeno, com a mais-valia de ter sido diretor do gabinete de estudos do Ministério da Economia durante quatro anos. "Quero assegurar tranquilidade na passagem de testemunho".

António Costa chutou para canto sobre o eventual futuro de Mário Centeno como governador do Banco de Portugal e sobre a saída do secretário de Estado adjunto e das Finanças, Mourinho Félix, lembrou que todos os titulares das secretarias de Estado do ministério caem com a saída do ministro e que poderão ser ou não reconduzidos pelo novo.

Centeno diz que foi "percurso partilhado"

Mário Centeno aproveitou a conferência de imprensa para fazer uma breve despedida, sublinhando que a sua presença ali era garantia de que a transição é mesmo "tranquila". Depois de devolver a intenção de também abraçar Costa quando for possível, afirmou que o "percurso foi partilhado", num governo com "liderança e coesão".

O ministro cessante recordou que o seu ciclo foi realmente longo, feito de 1664 dias de mandato, com 900 partilhados na presidência do Eurogrupo. Centeno manifestou-se ainda convicto de que "os números continuarão certos" com João Leão, com quem trabalhou sempre enquanto ministro na elaboração dos orçamentos do Estado.

João Leão manifestou-se empenhado em dar resposta "à crise profunda e súbita" que se abateu sobre Portugal com a pandemia e prometeu concentrar os esforços na estabilização da economia e no apoio às empresas e do emprego, para numa segunda fase se recuperar a economia e conseguir o "ciclo virtuoso" do crescimento económico.

Um economista no leme das Finanças

Ainda decorria o Conselho de Ministros quando Marcelo Rebelo de Sousa deu nota da remodelação. "O Presidente da República recebeu do Primeiro-Ministro as propostas de exoneração, a seu pedido, do Ministro de Estado e das Finanças, Professor Doutor Mário Centeno, e de nomeação, em sua substituição, do Professor Doutor João Leão. O Presidente da República aceitou as propostas, realizando-se a cerimónia da posse no dia 15 de junho, às 10 horas", lê-se na nota emitida por Belém.

Com esta subida de João Leão, sai também do governo Ricardo Mourinho Félix, que era secretário de Estado adjunto e das Finanças, muito próximo de Centeno, e que foi muito falado como um potencial sucessor do agora ministro das Finanças cessante.

João Leão fazia parte da equipa de Mário Centeno desde o início como secretário de Estado do Orçamento e foi um dos peritos que integrou o grupo de 12 personalidades que António costa chamou em 2015 para elaborar o seu primeiro Programa Eleitoral.

No governo, o novo ministro das Finanças é considerado um profundo conhecedor da de ciências economia portuguesa. O que se justifica pelo seu trabalho académico, como professor de Economia do Instituto Superior do Trabalho e da Empresa (ISCTE), quer por ter sido diretor do gabinete de estudos do Ministério da Economia entre 2010 e 2014.

João Leão também foi assessor do secretário de Estado Adjunto da Indústria e do Desenvolvimento, Fernando Medina, entre 2009 e 2010, no segundo governo de José Sócrates.

Com 45 anos,, João Leão é doutorado em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, depois de se ter licenciado e feito o mestrado em Economia na Universidade Nova de Lisboa. Entre 2010 e 2014, João Leão foi membro do Conselho Económico e Social e do Conselho Superior de Estatística. Em 2010 e 2012, integrou a delegação portuguesa no Comité de Política Económica da OCDE, tendo participado em vários grupos de trabalho.

Crispação com Centeno

O timing da saída de Centeno do governo causou surpresa, mas já era esperado que acabasse por deixar a pasta das Finanças. Não só porque era falado há bastante tempo para suceder a Carlos Costa no Banco de Portugal - o que não se sabe se virá a acontecer - como o também presidente do Eurogrupo entrou em colisão com António Costa nas últimas semanas.

Primeiro quando quando no Parlamento entrou em contradição com o primeiro-ministro sobre a injeção de 850 milhões de euros no Novo Banco, que António costa desconhecia que tivesse sido feita, de tal forma que recebeu o apoio do Presidente da República.

Há poucos dias, Mário Centeno deu também uma entrevista à Antena 1 em que, de forma clara que nunca tinha falado com o homem que António costa escolheu para desenhar o plano de recuperação económica do governo, António Costa Silva. O que foi lido como mais um episódio de mal-estar entre o ministro e o primeiro-ministro.

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