Jantar de André Ventura. Antifas lançam ataque ao site do Sheraton
Um jantar-comício do Chega no Sheraton Porto está a provocar uma onda de críticas e comentários negativos na página de Facebook desta unidade hoteleira de cinco estrelas, com impacto na classificação deste hotel.
O ataque é concertado, uma iniciativa da Frente Unitária Antifascista (FUA) que está a ser executada pela plataforma de Antifas do Porto, que apelou aos seus membros para encherem aquela página pública de comentários depreciativos sobre o hotel aceitar receber o jantar-comício do partido de André Ventura.
O DN pediu ao Sheraton um comentário, mas ainda não chegou. No entanto, o hotel reagiu assim no próprio Facebook: "Pautamo-nos por sermos um espaço inclusivo e não discriminatório (nem negativa nem positivamente) e não aceitamos que o nosso espaço e a nossa página sejam palco de comportamentos ofensivos e contrários a estes valores".
Em resposta, os Antifas publicaram ainda mais comentários. "A maior ofensa é ver o vosso espaço acolher uma reunião de uma associação criminosa de índole fascista. Uma ofensa à democracia e a todo o género de liberdade e também uma ofensa à cidade do Porto, cidade que sempre se pautou pelos valores acima mencionados", foi um deles.
"São tão inclusivos que até incluem fascistas e neo-nazis, é bom saber quem vocês são realmente"; "E a vossa forma de demonstrarem que são inclusivos e não discriminatórios é acolher um evento de um partido que não é inclusivo e é discriminatório. Está bem, está"; "A questão não é se "nós" estamos preparados. É se as minorias étnicas do Porto estão preparadas para ter as ruas cheias de skinheads quando saírem do "evento" que vocês vão acolher no vosso hotel", são outros exemplos.
Citaçãocitacao "Estratégia vulgarmente conhecida pelas tácticas de no-platform - não dar palco, nem espaço para falar, a racistas e fascistas - e de denúncia e boicote públicos a quem dá esse espaço de forma conivente ou deliberada"
Contactada pelo DN, a porta-voz da FUA explicou que "a iniciativa de publicamente chamar à atenção e criticar o hotel Sheraton Porto, por acolher o comício-jantar do Chega" é uma "estratégia vulgarmente conhecida pelas táticas de no-platform - não dar palco, nem espaço para falar, a racistas e fascistas - e de denúncia e boicote públicos a quem dá esse espaço de forma conivente ou deliberada".
Por isso, assinala esta porta-voz, "é dever de todos os cidadãos e entidades que prezem a democracia e os direitos fundamentais, denunciar e boicotar toda e qualquer iniciativa ligada a estes indivíduos. Porque a dignidade humana tem sempre de ser superior a qualquer negócio privado".
Este tipo de ação dos Antifas, não é inédito. Em 2019, a Frente Unitária Antifascista convocou o boicote massivo primeiro do Hotel Altis Belém, e depois do Sana Lisboa, que aceitaram acolher a conferência internacional neonazi organizada por Mário Machado, ex-líder dos hammerskins em Portugal e fundador do partido nacionalista Nova Ordem Social, já extinto.
Citaçãocitacao"Sob pressão, o Altis cancelou a reserva, obrigando a organização da conferência a tentar encontrar outro local"
"Sob pressão, o Altis cancelou a reserva, obrigando a organização da conferência a tentar encontrar outro local", recorda esta porta-voz. Na altura, o BE também apelou às autoridades que impedissem o encontro.
"A pressão nos meios virtuais e mediáticos era de tal ordem, que apenas conseguiram mudar-se para o Sana Lisboa porque foi a mãe de Mário Machado a dar o nome para a reserva da sala! Tendo igualmente sido alvo de críticas nas redes sociais, o Sana Lisboa emitiu posteriormente um comunicado em jeito de desculpa, em que alegava desconhecer as motivações e agenda do evento", recorda a FUA.
Nessa altura, os comentários surgiram na página após a "Mobilização Nacional Antifascista" e fizeram descer a pontuação do Sana Lisboa de 4,8 para 1,9.
DestaquedestaqueDesta vez, no caso do Sheraton, afiança a porta-voz, conseguiram "fazer descer a pontuação do hotel de 4,8 para 3,7 em apenas algumas horas"
Desta vez, no caso do Sheraton, afiança a porta-voz, conseguiram "fazer descer a pontuação do hotel de 4,8 para 3,7 em apenas algumas horas, embora a crítica já não seja visível, porque a gestão ocultou esse separador, bem como muitos comentários de denúncia que povoaram as suas publicações".
Os Antifas salientam que "esta é uma estratégia utilizada a nível nacional e internacional, pelos grupos Antifascistas em geral: por exemplo, nos Estados Unidos, em 2010 e 2011, o grupo supremacista branco American Renaissance foi obrigado a cancelar sucessivamente as suas conferências, por não ter conseguido encontrar nenhuma sala em hotéis e espaços do género, tendo também sido eliminado de plataformas como o PayPal e a Amazon".
Diz esta ativista que, a FUA "preza a acção directa, a denúncia e a educação da sociedade. Sempre que os fascistas tentam fazer um evento público, o movimento antifascista organiza-se para o impedir, protestar, e abafar. Na impossibilidade de o fazer diretamente, organizamo-nos no espaço mediático, através da denúncia, pressão social e boicote. Recusamo-nos a dar espaço, palco e voz à extrema-direita, e apelamos ao dever de cidadania de não ser conivente. Não basta não ser fascista - é preciso ser antifascista! E por vontade da Frente Unitária Antifascista, ativistas e coletivos associados, o racismo e o fascismo manter-se-ão nas margens, acossados, até desaparecerem".