Confinamento. Já não há tabus

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Corredores hospitalares cheios de doentes infetados com covid-19 e imagens de cuidados intensivos a transbordar, um pouco por todo o país, são retratos preocupantes do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A linha vermelha está aí e bem à vista. Desta vez não é apenas um cenário ou uma miragem. Passar a barreira dos dez mil infetados com covid-19 é um sinal de alarme gigantesco.

Aliás, ontem à tarde, Portugal foi notícia na CNN pelas piores razões: o número recorde de 10 027 contágios, o mais alto desde o início da pandemia.

Estaremos a pagar o preço da decisão política de não ter apertado as regras durante as festas natalícias? Sim, afirmam taxativamente os médicos. A medida de fechar tudo teria sido impopular, mas não estaríamos hoje a viver esta angústia e a sensação de descontrolo e incapacidade perante o que parece ser a terceira vaga da pandemia.

A decisão de desconfinar no Natal deveria ter sido precedida de melhor planeamento para fazer face a uma previsível de subida de casos, munindo os hospitais públicos, a tempo, de recursos físicos (camas, ventiladores, etc.) e humanos (médicos, enfermeiros, auxiliares), alertam especialistas, médicos e a oposição, em geral.

O estado de emergência, decretado pelo Presidente, foi aprovado pelo governo e pelo Parlamento, mas, ao analisar as últimas estatísticas da covid-19, já parece estar ultrapassado... 15 de janeiro parece pouco para o que aí vem.

Os números deverão continuar a crescer nesta semana, apontam os entendidos. A realidade vai exigir mais e, ainda que a economia não aguente um novo confinamento, o tema deixou de ser tabu a partir do momento em que tocámos perto da linha vermelha do SNS e a desde a hora em que outros países europeus voltaram a tomar medidas drásticas no arranque de ano.

Decretar um estado de emergência não é um desporto. "A pandemia continua, ainda, a ir mais depressa do que a vacinação", como afirmou ontem o Presidente. Este é o oitavo decreto do estado de emergência no contexto de pandemia e o primeiro que abrange menos de 15 dias, o máximo que este quadro legal pode vigorar, sem prejuízo de eventuais renovações com o mesmo limite temporal. Segundo a Constituição, cabe ao Presidente decretar este quadro legal, mas tem de ouvir o governo e ter autorização da Assembleia da República.

Só votaram a favor PS, PSD e a deputada não inscrita Cristina Rodrigues. Pergunta que se impõe: caso estivessem no poder, como iriam os partidos que votaram contra - PCP, PEV, Chega, Iniciativa Liberal e a deputada não inscrita Joacine Katar Moreira - e os que se abstiveram - BE, CDS-PP e PAN - lidar com esta situação? E teriam "fechado" o Natal?

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