Há mais escolas onde a maioria dos alunos passa sempre de ano
Mudam-se os tempos, mas pouco ou nada nos rankings das escolas cujo indicador são as médias dos exames nacionais, no ensino básico e secundário. Tendo por base estas provas escritas, as escolas privadas continuam a ganhar face às públicas, dominando as primeiras posições. Contudo, quando a análise recai sobre os Percursos Diretos de Sucesso - isto é, a percentagem e alunos que garante positiva numa prova nacional sem registo de retenção nos dois anos anteriores -, são as segundas que saem a ganhar nos primeiros lugares. E no triénio de 2017/19, o número de estabelecimentos de ensino que somam casos de sucesso aumentou.
Se no triénio anterior os rankings das escolas mostravam que havia apenas 75 onde pelo menos a maioria dos alunos concluíram o ensino secundário regular sem insucesso nos respetivos três anos deste ciclo de escolaridade, entre 2017 e 2019 este número cresceu para 102 escolas. Ainda assim, um número reduzido face ao universo de 550 escolas secundárias da amostra (que exclui as ilhas dos Açores e da Madeira, bem como escolas internacionais). Ou seja, menos de um terço. O que "significa que os alunos que necessitam de mais trabalho para consolidarem as suas aprendizagens continuam a ser demasiados", avança a investigadora e secretária-geral do Instituto para as Políticas Públicas e Sociais do ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), Isabel Flores, em declarações ao DN.
A maioria destas escolas (56) pertence ao ensino privado. Em termos geográficos, aquelas que mais somam casos de sucesso estão principalmente no Norte do país (42), seguindo-se o Centro (31) e só depois o Sul (29). No entanto, é a região Centro que mais agrega escolas públicas com metade ou mais de metade dos alunos com percursos de sucesso.
Já no ensino básico, o número de escolas que arrecadou 50% ou mais alunos com percursos de sucesso é de 378, num universo de 1137 estabelecimentos de ensino contabilizados para a amostra. Considerando a tipologia, e contrariamente ao que ocorre no ensino secundário, a maioria (242) são escolas públicas. A nível geográfico, a tendência mantém-se em relação ao secundário, com mais escolas no Norte (141), depois Centro (124) e Sul (113).
Os dados apresentados baseiam-se no ranking dos Percursos Diretos de Sucesso, um indicador introduzido pelo Ministério da Educação há três anos e apresentado como um ranking mais robusto face àquele que tem por base as avaliações externas. Na altura, o governo apontava um método mais "justo" e "consistente" na hora de definir as escolas que mais fazem pelos seus alunos. Ao contrário do ranking dos exames, este compara estudantes com características semelhantes e que partem do mesmo ponto, valorizando depois a sua evolução.
Por isso, para definir as posições de cada escola através deste ranking dos Percursos Diretos de Sucesso, o DN não considerou a percentagem de casos de sucesso registados, mas sim a diferença entre o desempenho de cada face à média de outros estabelecimentos de características semelhantes.
Segundo esta análise, a escola que surge na primeira posição no ensino secundário é a Escola Básica e Secundária Dr. Machado de Matos, em Felgueiras, uma escola pública que obteve 25,4% de casos de sucesso acima da média nacional. Não é a primeira vez que esta é a melhor pública no ranking, mas é uma estreia no primeiro lugar do mesmo, no ano passado ocupado pelo Colégio de São Miguel de Fátima, em Santarém, uma instituição de ensino privada que este ano se ficou pelo segundo lugar no pódio.
Já no ensino básico, o primeiro lugar é ocupado pela Escola Básica Dr. Carlos Pinto Ferreira, em Vila do Conde, com 22% de percursos de sucesso acima da média nacional. Também esta seguida imediatamente por uma escola privada, o Colégio de Nossa Senhora de Fátima, em Leiria.
Aliás, o top 10 tem sido permanentemente reforçado pelas escolas do Estado, quer no ensino básico quer no secundário. Relativamente a este primeiro ciclo, os rankings divulgados no ano passado mostravam que os primeiros dez lugares eram divididos pela metade entre público e privado, mas nos mais recentes comprova-se um reforço do ensino público, representada por seis escolas. Tal como acontece no ensino secundário, que no ano passado somava seis escolas públicas no top 10 e este ano são já sete.
Ainda no ranking dos Percursos Diretos de Sucesso é possível definir os concelhos que melhor se saem relativamente à evolução dos seus alunos. No ensino secundário, é São João da Pesqueira, em Viseu, que marca a diferença. No básico, Fornos de Algodres, na Guarda.
No ranking que tem como indicador as avaliações externas, o cenário muda de figura. Quer no 3.º ciclo quer no secundário, o ensino público volta a perder pontos face ao privado, excluído dos primeiros 15 e 40 lugares, respetivamente.
Enquanto a primeira escola pública secundária (Escola Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, com uma média de 12,9 valores nos exames) surge apenas em 48.º lugar este ano, no ano passado aparecia em 33.º (protagonizado pela Escola Básica e Secundária Clara de Resende, no Porto, com uma média de 12,8). No top 50, apenas os últimos três lugares são ocupados por escolas públicas, separados do primeiro lugar por cerca de 3,5 valores. Este é novamente ocupado pela Academia de Música de Santa Cecília (privada), em Lisboa, com uma média de 16,4 valores.
No ensino básico, a história repete-se, embora numa escala distinta. Este ano, a escola pública mais bem posicionada é a Escola Artística de Música do Conservatório Nacional, em Lisboa, e surge apenas em 18.º lugar do ranking, com 4,07 na média de exame. No ano passado, surgia em 17.º, com a Escola Básica dos 1º, 2º e 3º Ciclos com Pré-Escolar do Porto da Cruz, na Madeira. O primeiro lugar deste ano na tabela é do Externato As Descobertas, privado, com uma média de 4,42 nos exames do 9.º ano - que no ano anterior se encontrava em 12.º lugar.
No geral, quer num ciclo quer noutro, as médias subiram no topo do ranking dos exames do DN.
Importa lembrar que os resultados dos rankings dos exames podem sofrer variações entre diversos órgãos de comunicação social, pois ao contrário do que ocorre relativamente ao ranking dos Percursos Diretos de Sucesso, em que os critérios são definidos pela tutela, os primeiros são organizados com base em critérios definidos por cada órgão de comunicação social, depois de recebidos os dados por parte do Júri Nacional de Exames. O DN considerou para este ranking os exames da 1.º fase, realizados por alunos internos - que frequentam a escola ao longo do ano letivo. Além disso, são consideradas apenas as escolas com pelo menos 20 exames realizados.
Numa análise territorial dos resultados da 1.º fase dos exames nacionais do ensino secundário de 2019, é o distrito de Coimbra que ocupa o lugar com a melhor média (11,62 valores), à semelhança do ano passado (11,04). Um distrito que tem somado vitórias nos rankings e estudos internacionais - como é o caso do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). No entanto, há várias quedas e outras subidas abruptas na tabela.
A segunda posição é do distrito do Porto (duas acima daquela que registava no ano passado), com uma média de 11,53 valores. Retirou o lugar que pertencia, no ano transato, a Braga, que este ano desceu seis lugares. A maior quebra é registada pelo distrito de Santarém, oito lugares abaixo relativamente àquele em que se encontrava anteriormente. Por outro lado, Viseu e Viana do Castelo foram os que mais escalaram no ranking, igualmente cinco lugares acima - encontrando-se, atualmente, em 4.º e 5.º lugar da tabela, respetivamente.
Em último lugar surge, novamente, o distrito de Portalegre, com uma média de 9,73 valores nos exames de secundário. Considerando também o ranking dos Percursos Diretos de Sucesso, a maioria das escolas de Portalegre encontra-se abaixo do meio da tabela, com diferenças de três a nove por cento abaixo da média nacional.
A escola posicionada no segundo lugar do ranking dos exames nacionais do ensino secundário, o Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, é uma das 20 escolas no país que registam sistematicamente classificações internas desalinhadas para cima relativamente à média das provas externas. Pelo menos, desde o ano letivo de 2014/15 - o último com informação disponibilizada. Este indicador compara, segundo denota o Ministério da Educação no documento enviado às redações, "as notas internas atribuídas pela escola aos seus alunos com as notas internas atribuídas pelas outras escolas do país a alunos com resultados semelhantes nos exames nacionais".
A tutela só considera os desalinhamentos "quando a certeza estatística associada é alta e quando persistem ao longo dos anos", "dada a variabilidade natural das amostras de alunos e de exames". Fazem parte dos cálculos "os exames nacionais do 12º ano e do 11º ano, de todas as disciplinas, realizados na 1ª fase, para aprovação, pelos alunos internos da escola". Além sido, "apenas se consideram as provas de exame classificadas com pelo menos 9,5 valores".
Tendo em conta estes critérios, há duas dezenas de escolas que desde o ano letivo de 2014/15 somam um diferencial significativo entre as notas internas e as externas. Além do Colégio Nossa Senhora do Rosário, incluem-se o Colégio das Terras de Santa Maria, a Escola Básica e Secundária de Santa Maria da Feira, o Colégio "D. Diogo de Sousa", o Externato "Carvalho Araújo", a Escola Secundária Alberto Sampaio, a Associação Cultural e Recreativa de Fornelos, a Escola Secundária de Fafe, o Colégio da Rainha Stª Isabel, o Externato "Camões", o Colégio Paulo VI de Gondomar, o Colégio Novo da Maia, o Colégio D. Duarte, o Colégio "Luso Francês", o Externato "Ribadouro", o Colégio INED - Polo II, o Colégio de Amorim, o Colégio da Trofa, a Escola Secundária de Monção e a Escola Secundária São Pedro em Vila Real.
Há ainda outras 14 que, em sentido contrário, registam classificações internas desalinhadas para baixo com as provas externas - isto é, têm por hábito dar notas internas significativamente mais baixas do que o resultado que os alunos posteriormente alcançam nos exames.
Neste campo, contabilizam-se as seguintes escolas: Escola Secundária de Arganil, Salesianos do Estoril - Escola, Escola Secundária do Restelo (Lisboa), Escola Secundária D. Pedro V (Lisboa), Colégio de São João de Brito, Colégio Bartolomeu Dias, Escola Secundária da Ramada (Odivelas), Escola Secundária Dr. António Carvalho Figueiredo (Loures), Escola Secundária José Saramago (Mafra), Colégio Santo André, Escola Secundária Stuart Carvalhais (Massamá, Sintra), Escola Secundária de Mem Martins (Sintra), Escola Secundária Gago Coutinho (Alverca do Ribatejo), Escola Secundária de Cacilhas-Tejo (Almada).
Estão, na grande maioria, situadas na região Norte e Centro do país e são também maioritariamente instituições privadas - neste último caso, quando as notas internas são superiores às externas.