O espelho do que não queremos ver.Greta Thunberg.Vai fazer um ano no próximo dia 20 que Greta Thunberg começou a fazer greve às aulas em nome do clima. Passou as férias de verão sentada, todos os dias, à porta do Parlamento da Suécia. O país tinha eleições legislativas no mês seguinte. Ela, na altura com 15 anos - fez 16 a 3 de janeiro -, exigia que os líderes políticos mudassem de atitude e começassem, de facto, a combater as alterações climáticas para salvar o planeta.."Como os nossos líderes se comportam como se fossem crianças, temos de ser nós a assumir a responsabilidade que eles deviam ter assumido há muito. Temos de compreender o que a geração mais velha nos deixou, a confusão que criou, que nós agora temos de resolver. Temos de fazer as nossas vozes serem ouvidas", afirmou a jovem sueca que, desde os 12 anos, decidiu não comer carne e não viajar de avião.."A Greta obrigou-nos a mudar as nossas vidas", disse o pai, Svante Thunberg. "Não sabia nada sobre o clima. Começámos a investigar, a ler os livros todos - ela já os leu todos também", contou, ao The Guardian. De facto, por causa dela, a mãe, a cantora de ópera Malena Ernman (que representou a Suécia na Eurovisão de 2009), deixou a carreira internacional por já não andar de avião. Por toda a Europa - e por todo o mundo - milhares de jovens começaram a seguir o exemplo de Greta e, num piscar de olhos, a greve estudantil pelo clima replicou-se e realizou-se em vários países. Portugal não foi exceção. Subitamente, milhares de jovens saíam às ruas em protesto, com cartazes e palavras de ordem. E surpreenderam provavelmente aqueles que gostam de os classificar como pessoas que não têm quaisquer interesses na vida a não ser postar vídeos e fotos nas redes sociais e contar likes e shares..Percebendo a tendência, vários partidos começaram a cavalgar a onda verde (uns já falavam do clima há anos mas ninguém se predispôs a levá-lo muito a sério). Nas eleições europeias de maio, os verdes registam fortes subidas em vários países da UE, como Alemanha, Dinamarca ou Irlanda. Em França, como é sabido, as europeias foram ganhas pela extrema-direita e os verdes ficaram em terceiro. Porém, na faixa etária entre os 18 e os 24 anos, foi o partido mais votado no país. Houve um aumento da taxa de participação nessa faixa etária na ordem dos 14%. Mensagem apreendida pelos partidos: os jovens significam novos eleitores e não estão a dormir, hipnotizados por telemóveis..Entretanto, Greta, ajudada pelos pais, continuava a sua luta diária. Discursou em lágrimas no Parlamento Europeu e comoveu os deputados. "Ontem [16 de abril], o mundo inteiro assistiu, com tristeza e desespero, ao fogo que assolou Notre-Dame, em Paris. Mas a Notre-Dame vai ser reconstruída", afirmou a jovem sueca, pedindo que se salve o planeta da mesma forma expedita que se se salvou Notre-Dame. "Quero que ajam como se fossem as vossas casas que estivessem a arder", disse Greta, na comissão parlamentar do Ambiente..No final do mês seguinte, mais propriamente no dia em que os europeus começaram a votar para o Parlamento Europeu, Greta e mais 46 jovens ativistas voltaram a pôr o dedo na ferida numa carta aberta que publicaram no The Guardian : "Durante a Revolução Francesa, as mães saíram às ruas pelos seus filhos. Hoje, os nossos pais estão ocupados a discutir se temos boas notas, uma nova dieta ou o final de A Guerra dos Tronos, enquanto o planeta arde.".Sem papas na língua, Greta, que foi diagnosticada com síndrome de Asperger, tem gerado muita simpatia. O secretário-geral da ONU, António Guterres, já participou em conferências com ela e, numa declaração de humildade, calculada, dirão alguns, afirmou na Conferência Mundial de Ministros Responsáveis pela Juventude 2019, que decorreu em junho, em Lisboa: "Há que reconhecer que os dirigentes políticos da minha geração não têm estado à altura dos desafios do nosso tempo, e isso é particularmente grave nas alterações climáticas. É muito reconfortante para mim ver que são hoje os jovens que assumem a liderança e que, espero, possam levar os dirigentes políticos da minha geração a colocar-se do lado certo da história." O Papa Francisco, que cumprimentou a jovem sueca na Praça de São Pedro, em Roma, disse-lhe: "Vai em frente e que Deus te abençoe." Neste mês, a Vogue britânica, editada por Meghan Markle, escolheu-a para a capa, entre outras mulheres, considerando-a uma força de mudança (já fora capa da Time de maio)..Mas, na mesma proporção, há quem critique Greta Thunberg, acusando-a de falar de forma obsessiva e ameaçadora, há quem não suporte a sua frontalidade. "Nunca vi uma rapariga tão nova com tantas perturbações mentais tratada por tantos adultos como uma guru", escreveu, a 30 de julho, o jornalista australiano Andrew Bolt no jornal The Herald Sun (que pertence ao grupo de Rupert Murdoch). Dois dias depois, a 1 de agosto, no Twitter, Greta respondeu: "Estou muito perturbada é pelo facto de estas campanhas de ódio e conspiração continuarem apenas porque nós, crianças, comunicamos e agimos com base na ciência. Onde estão os adultos?" Insultada por deputados da extrema-direita francesa, Greta respondeu mais uma vez: "Somos crianças, não têm de nos ouvir. Mas aos cientistas, sim, têm de ouvir, é tudo o que peço." E como é viver com Asperger? "Torna-me diferente. E ser diferente, diria, é uma bênção", assumiu a jovem, em entrevista à BBC Radio 4..Agora, Greta, que entretanto lançou um livro, intitulado A Nossa Casa Está a Arder, prepara-se para rumar, na próxima semana, à América, de veleiro. O navio foi disponibilizado por Gerhard Senft e pelo Clube Naval do Mónaco, uns oportunistas, dirão alguns. Vai participar em duas cimeiras do clima: uma nos EUA a 23 de setembro, outra no Chile, entre 2 e 13 de dezembro. Está a ser manipulada e instrumentalizada? "Uma pessoa com 16 anos pensa por si. É triste. Se eu estou a dizer que há um incêndio, deviam focar-se no incêndio e não em mim. Parece que querem desviar as atenções. Estou a comunicar com base na ciência. Não vejo o que isso tem que ver com ideologias. Muita gente diz que está esperançada agora, mais esperançada, mas eu digo: deixem de estar só esperançados e façam algo", declarou, nesta semana, à televisão suíça RTS..A russa que lê a Constituição à polícia.Olga Misik De colete à prova de bala vestido, com uma cópia da Constituição russa nas mãos, Olga Misik, de 17 anos, sentou-se entre a polícia de choque russa e os manifestantes anti-Putin. Em seguida, começou a ler passagens da lei fundamental do país. A imagem, captada a 27 de julho, em Moscovo, correu mundo. E não houve quem hesitasse em comparar Olga com "o homem do tanque" da Praça Tiananmen, que em 1989 parou em frente a um tanque, durante a vaga de protestos que varreram a China..À BBC, Olga disse que quer começar a estudar Jornalismo na universidade estatal da capital russa em setembro e garantiu que não apoia nenhum partido em particular. Os manifestantes que têm saído à rua nas últimas semanas exigem a participação de candidatos da oposição nas eleições locais de setembro em Moscovo. "Só estou aqui pelo meu povo", disse. Ainda conseguiu ler quatro secções da Constituição de 1983, mas acabou por ser detida, durante 12 horas. Nos últimos três meses, foi a sua quarta detenção. Apesar de tudo, garante que a polícia não a tratou mal. "As autoridades estão assustadas, estão a enviar forças armadas para perseguir manifestantes pacíficos", declarou a jovem, sublinhando que "a mentalidade das pessoas mudou"..A Nobel que desafiou os talibãs para estudar.Malala Yousafzai.Natural do Paquistão, mais propriamente do vale do Swat, Malala Yousafzai tinha 13 anos quando começou a escrever um blogue para a BBC (sob o nome Gul Makai). Aí contava como era viver na zona controlada pelos talibãs paquistaneses, que, entre outras coisas, encerraram as escolas públicas. Por defender o direito das mulheres à educação, foi baleada pelos talibãs no autocarro escolar, em 2012. Transferida para o Reino Unido, foi aí operada e hospitalizada. Recuperou e, no ano seguinte, ganhou o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu..Em 2014, foi galardoada com o Nobel da Paz. Autora de pelo menos três livros, já discursou na ONU e foi recebida pelas mais diversas personalidades mundiais. Atualmente, com 22 anos, estuda Filosofia, Política e Economia na Universidade de Oxford e viu o Canadá conceder-lhe nacionalidade. Apesar disso, confessa: "Sinto saudades do Paquistão, todos os dias." Tal como Greta Thunberg, Malala foi sempre muito acompanhada em público pelo pai, Ziauddin Yousafzai. A luta por uma educação para todos continua a ser a sua prioridade. "Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo", costuma dizer..A sobrevivente que lidera a campanha antiarmas nos EUA.Emma González.A 14 de fevereiro do ano passado, um tiroteio no liceu Stoneman Douglas, em Parkland, na Florida, deixou 17 mortos e 15 feridos. O atirador era um ex-aluno, que fora expulso. Emma González, de 19 anos, foi uma das estudantes que saíram ilesas do ataque - pelo menos fisicamente, porque o trauma ficará sempre lá. Três dias depois do incidente, Emma discursou durante 11 minutos em frente ao tribunal do condado de Broward, em Fort Lauderdale, Florida, em defesa do controlo de armas de fogo nos EUA..Seguiram-se outros discursos, feitos entre lágrimas, como o da March of Our Lives, promovido por ela e por outros colegas em março de 2018. Também Emma sofreu críticas. O congressista republicano Steve King atacou-a por, nessa marcha, ter usado um casaco com uma bandeira de Cuba (é filha de imigrantes cubanos). No Twitter, Emma costuma lembrar os aniversários dos amigos que morreram em Parkland. Nesta semana, depois dos tiroteios sangrentos de El Paso e Dayton, que fizeram 30 mortos em apenas 13 horas (incluindo um dos atiradores), Emma tuitou: "Acabem com a violência armada.".O pró-democracia que resiste em Hong Kong.Joshua Wong.Nesta semana, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês fez advertências aos EUA depois de a imprensa de Hong Kong ter noticiado que a chefe da unidade política do consultado americano em Hong Kong, Julie Eadeh, se reuniu com vários membros do partido Demosisto, incluindo o ativista Joshua Wong. Este, hoje com 22 anos, começou a protestar cedo: aos 13 já se manifestava contra uma linha de alta velocidade entre Hong Kong e a China continental; aos 15 lançou uma campanha contra um plano educacional pró-Pequim; aos 17 foi o herói do chamado Movimento dos Guarda-Chuvas, que em 2014 mobilizou milhares de pessoas para exigir o sufrágio universal na escolha do chefe do executivo de Hong Kong. Joshua foi preso várias vezes..Da última, foi libertado a 17 de junho. Juntou-se aos protestos contra a lei da extradição pró-Pequim, os quais só têm vindo a engrossar. Joshua, que defende um referendo sobre a soberania de Hong Kong em 2047 (quando expira o esquema de "Um país, dois sistemas), disse ao The New York Times: "Pequim não governa Hong Kong à base da lei, mas do gás lacrimogéneo."