Governo faz levantamento geral de relações familiares
Assim que se soube, pelo Observador, que um secretário de Estado (Carlos Martins, do Ambiente) nomeara para seu adjunto um seu primo, Armindo Alves, ficou claro para o primeiro-ministro e para o seu núcleo duro de ministros mais políticos que o nomeador também tinha de deixar o Governo, e não só o primo nomeado, como ontem aconteceu.
António Costa, porém, quis discutir hoje a questão no Conselho de Ministros - reunião que se iniciou pelas 9.00 da manhã e se prolongou pela manhã -, até porque a questão das ligações familiares começa dentro deste órgão: há um casal (a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, e o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita) e um pai e uma filha (o ministro da Segurança Social, José António Vieira da Silva, e a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva).
Além do mais, ontem à noite, por querer ir a Coimbra ao velório do seu amigo de longa data António Manuel Arnaut - o que aconteceu depois de jantar, regressando a Lisboa de madrugada - não lhe foi possível uma conversa pessoal com o ministro do Ambiente, que queria ter. Este, a princípio, tentou segurar o seu secretário de Estado agora demissionário, considerando a questão resolvida com a demissão do primo adjunto e assegurando que este fora apenas escolhido pelas suas competências técnicas
Para Costa, ficou imediatamente claro que Carlos Martins tinha de sair porque foi esta precisamente a linha vermelha que estabelecera na entrevista Dinheiro Vivo/TSF de sábado passado. Na altura disse que só haveria uma "questão ética se alguém nomeasse um familiar seu". "Não vi um único exemplo de alguém que tenha nomeado um membro da sua própria família", assegurou então.
A notícia de que Carlos Martins nomeara - já desde 2016 - um primo para seu adjunto terá assim apanhado completamente de surpresa o chefe do Governo e o próprio ministro do Ambiente (que assegurou desconhecer essa relação familiar até ela lhe ser revelada pelo Observador).
Agora, muitos gabinetes governamentais estão obrigados a fazer o levantamento das relações familiares, sendo que, sempre que se detetar, como no caso de Carlos Martins, alguém a nomear um familiar, a ordem é para que ambos se demitam.
Fazendo anunciar a demissão de Carlos Martins esta manhã, como aconteceu, António Costa procurou também ter o assunto resolvido antes de se iniciar o debate quinzenal que esta tarde terá na Assembleia da República. Será, garantidamente, um dos debates parlamentares mais difíceis da legislatura para o chefe do Governo - mesmo levando numa bandeja para a oposição a cabeça de um secretário de Estado demissionário.
Depois do debate, António Costa reunirá em Belém com o Presidente da República, na habitual audiência semanal. É possível - mas não 100% garantido - que lhe leve já um nome para substituir Carlos Martins na secretaria de Estado do Ambiente.