Giuliani, o suor castanho e a eleição corrompida por Hugo Chávez

O objetivo da conferência de imprensa do advogado pessoal de Donald Trump seria demonstrar que as eleições foram uma fraude, mas limitou-se a propagar teorias da conspiração enquanto suava tinta castanha do cabelo.
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O advogado pessoal do presidente Donald Trump, Rudolph Giuliani, disse que os Estados Unidos podem tornar-se numa Venezuela e acusou o bilionário George Soros de ter conspirado com os democratas para dar a vitória a Joe Biden nas eleições presidenciais de 3 de novembro.

"Vamos tornar-nos numa Venezuela. Não podemos permitir que isso aconteça. Não podemos permitir que esses criminosos, porque é isso que eles são, roubem a eleição do povo americano", disse Giuliani.

Durante uma hora e meia, o ex-autarca de Nova Iorque falou numa conferência de imprensa em Washington sobre várias teorias da conspiração, enquanto suava profusamente, ao ponto de o suor, tingido pela tinta castanha do cabelo, ter manchado a cara.

Depois de a derrota eleitoral mostrar-se irreversível, vários conselheiros jurídicos da Casa Branca terão sugerido a Donald Trump para reconhecer a vitória de Joe Biden. Em consequência, o nova-iorquino promoveu o seu advogado pessoal para liderar a campanha de contestação dos resultados.

O advogado de 76 anos, ligado ao escândalo da pressão de Trump ao homólogo da Ucrânia, e que levou o presidente a ser condenado pela Câmara dos Representantes, tem estado numa campanha frenética para contestar os resultados, mas colecionou derrotas e foi notícia por outros motivos.

Por exemplo, quando deu uma conferência de imprensa em Filadélfia numa empresa de jardinagem, ao lado de um crematório e de uma loja para adultos, numa aparente troca de nomes da empresa com uma cadeia de hotéis (Four Seasons).

Na terça-feira, em Williamsport, Pensilvânia, Rudolph Giuliani voltou à barra de um tribunal como causídico, o que não fazia há quase três décadas. Segundo a agência Associated Press, Giuliani, que interpôs uma ação para pôr em causa a totalidade da votação no estado, evidenciou-se pela falta de preparação e argumentos inconsistentes, além de ter trocado a identidade de juízes, bem como ter chamado Joe Biden de Bush.

Segundo o Washington Post, Giuliani tem estado a ser aconselhado por Steve Bannon, o ideólogo extremista que foi conselheiro na Casa Branca. Bannon, acusado de fraude por angariação de fundos para a construção do muro na fronteira com o México, sugeriu recentemente a decapitação do diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, Anthony Fauci.

O objetivo da campanha é duplo: minar a vitória de Joe Biden, mantendo a base de fiéis de Trump motivada, e atrasar ao máximo a certificação dos votos nos estados, tentando subverter o voto popular ao apelar para que os eleitores designados pelos estados votem no candidato republicano e não no vencedor.

Daí que Donald Trump tenha ligado esta semana para uma funcionária eleitoral republicana no condado de Wayne, no Michigan. Depois de esta ter dado a sua aprovação à certificação do resultado, prestou uma declaração em como afinal já não está de acordo com o resultado do apuramento dos votos - uma jogada rejeitada de imediato pela secretária de Estado do Michigan. No entanto, poderá abrir a porta a mais um processo em tribunal.

Ainda em relação ao Michigan, Trump convidou os deputados e senadores estaduais republicanos a visitá-lo na Casa Branca, no que é visto como mais um sinal para tentar uma chapelada eleitoral.

Na conferência que decorreu no Capitólio, Giuliani leu nada menos que 220 depoimentos sobre alegadas irregularidades no voto pelo correio, na Pensilvânia e no Michigan, dois estados-chave em que o candidato democrata venceu. No centro das acusações está o sistema de contagem de votos.

"Vocês deveriam estar mais surpreendidos com o facto de que os nossos votos estão a ser contados na Alemanha e em Espanha pela empresa ligada a Chávez e Maduro", acusou Giuliani diante dos jornalistas, referindo-se a Hugo Chávez, o presidente venezuelano falecido há sete anos, e ao atual líder do país, Nicolás Maduro.

A ligação que existe à Venezuela é o facto de a empresa a que alude, Smartmatic, ter sido fundada na Florida nos anos 2000 por dois técnicos venezuelanos. Em relação a Soros, o presidente da Smartmatic, Mark Malloch-Brown, está no conselho de administração da Open Society Foundation, do bilionário George Soros, uma figura frequentemente mencionada em teorias da conspiração.

Giuliani também fez uma referência à comédia O Meu Primo Vinny, ao imitar o advogado protagonizado por Joe Pesci.

As alegações de fraude foram negadas pela Agência de Cibersegurança e de Infraestrutura de Segurança (CISA), que garantiu que a eleição presidencial foi "a mais segura da história".

Chris Krebs, que foi demitido por Trump do cargo de diretor desta agência nesta semana, referiu-se à conferência de imprensa de Giuliani como a "mais perigosa" e a mais "delirante" da história da televisão americana.

Giuliani denunciou que as "grandes cidades são controladas pelos democratas" e afirmou que a contagem atual na Geórgia não significa nada porque "estão a contar os mesmos votos fraudulentos mais uma vez".

Sobre a Pensilvânia, afirmou que muitos eleitores deslocaram-se de Nova Jérsia para votar. "A menos que uma pessoa seja estúpida, sabe que muitas pessoas vieram de Camden [Nova Jérsia] para votar. Eles votam todos os anos. Isso acontece o tempo todo na Filadélfia. É tão comum como levar um soco num jogo de futebol americano do Philadelphia Eagles", comparou.

As acusações "delirantes" não foram um exclusivo do homem que em tempos foi respeitado pelo trabalho de autarca de Nova Iorque. Sidney Powell, uma advogada de campanha de Trump, denunciou uma "imensa influência do dinheiro comunista da Venezuela, Cuba e provavelmente da China", que interferiu nas eleições.

Powell afirmou que as urnas utilizadas foram "criadas na Venezuela por Hugo Chávez" para garantir que ele nunca perdesse uma eleição, garantindo que os sistemas estão configurados para tirar percentagem dos votos de Trump e atribuí-los a Biden.

Sidney Powell chamou a atenção quando foi entrevistada pelo canal Fox Business e afirmou que uma "invasão" imigrante estava a espalhar uma "paralisia semelhante à poliomielite" entre as crianças norte-americanas. Também disse: "Globalistas, ditadores, empresas, enfim, todos estão contra nós, exceto o presidente Trump".

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