Filme sobre os Queen foi a sensação do ano mas não destronou "Os Incríveis"
Sem surpresa, o filme mais visto em Portugal no ano de 2018 foi The Incredibles 2: Os Super-Heróis com 605 910 espectadores. Também sem grande surpresa, o terceiro mais visto foi também um filme de animação e também uma sequela: Hotel Transylvania 3: Umas Férias Monstruosas foi visto em sala por 444 323 pessoas. Isto de acordo com os dados disponibilizados pelo ICA - Instituto do Cinema e Audiovisual no seu site, contabilizando os espectadores nos cinemas portugueses até ao dia 26 de dezembro.
O que é verdadeiramente surpreendente é o facto de: Bohemian Rhapsody , de Bryan Synger, o filme que conta a história do vocalista dos Queen, Freddy Mercury (numa interpretação de Rami Malek), ocupar o segundo lugar da lista com 448 957 espectadores. O biopic saltou do terceiro para o segundo lugar nesta última semana e como está em exibição vai continuar a acumular espectadores. E, embora já não tenha hipótese de chegar ao topo da tabela, pode muito bem ser considerado o filme sensação deste ano. A explicação poderá ser tão simples quanto isto: Bohemian Rhapsody é, tal como os de animação, um bom filme para ver em família e que tanto agrada a pequenos como a crescidos. Além de ter aquele toque de nostalgia para toda uma geração que assistiu ao Live Aid em direto na televisão e agora vai ao cinema recordar esses tempos e cantar com os Queen.
A lista dos filmes mais vistos do ano em Portugal segue sem grandes surpresas com os habituais blockbusters, onde se incluem Vingadores: Guerra do Infinito (408 250 espectadores), Deadpool 2 (385 993 espectadores) ou Mamma Mia: Here we go again! (361 841 espectadores, o que não deixa de parecer pouco tendo em conta que o primeiro Mamma Mia! foi o mais visto em Portugal em 2008). Acompanhados de perto por títulos como Missão Impossível: Fallout (308 818) e Black Panther (305 676).
Entre os dez primeiros filmes da lista, assinale-se a presença de Assim Nasce uma Estrela , o filme de estreia na realização de Bradley Cooper, que ele protagoniza ao lado da cantora Lady Gaga, que conseguiu uns simpáticos 352 306 espectadores. Tendo em conta que se trata de uma história de amor, sem super-heróis nem grandes efeitos especiais, trata-se de um ótimo resultado.
Nos dias que correm, já não há grandes diferenças entre a lista dos filmes mais vistos em Portugal e nos EUA. No mercado norte-americano (EUA e Canadá), foi Black Panther o maior sucesso do ano, mas logo a seguir surgem os Vingadores e os Incríveis e outros títulos coincidentes com a lista nacional. Sublinhe-se, no entanto, que na tabela americana os filmes são ordenados de acordo com os lucros de bilheteira e não de acordo com o número de espectadores, o que dá resultados ligeiramente diferentes. Outro dado curioso: quatro dos filmes que ocupam o Top10 americano foram lançados pela Disney.
Mas a boa notícia é outra: as receitas de bilheteira nos EUA este ano atingiram os 11,383 mil milhões de dólares - um valor que ultrapassa o anterior recorde, de 11,382 mil milhões de dólares, conseguido em 2016.
Tal recorde tem duas razões: o preço dos bilhetes que tem vindo a aumentar e, por outro lado, um crescimento na ordem dos 4% no número de espectadores de cinema em relação ao ano passado.
E o número de espectadores aumentou em Portugal? Nem por isso. Segundo as últimas estatísticas mensais, divulgadas pelo ICA a 7 de dezembro, entre janeiro e novembro deste ano, houve 13,15 milhões de espetadores em salas de cinema, ou seja, menos 5% do que no mesmo período de 2017 (13,84 milhões).
Se a estes adicionarmos os números provisórios de dezembro (cerca de 1,65 milhões até ao dia 26), obtemos um total provisório inferior a 14,4 milhões. Claro que ainda falta uma semana (e esta é geralmente uma semana boa para o cinema) e ainda faltam dados de algumas salas mas provavelmente já não será possível chegar aos 15,5 milhões de espectadores alcançados em 2017 - que tinha sido um ano bastante positivo.
Na verdade, contas feitas 2018 não foi um ano de perdas dramáticas. Recorde-se que em 2014 as salas portugueses receberam 12,09 milhões de pessoas e, de então para cá, houve uma recuperação: em 2015 foram vendidos 14,56 milhões de bilhetes; e em 2016 houve 14,92 milhões de espectadores nos cinemas nacionais. Este ano, os números finais deverão andar por perto.
Ainda assim, há alguns sinais de alerta. Se olharmos para a lista dos filmes mais vistos em Portugal desde 2004 concluímos que o filme mais visto este ano, The Incredibles 2: Os Super-Heróis, está apenas no 20º lugar. O segundo filme de 2018, Hotel Transylvania 3: Umas Férias Monstruosas, já fica de fora dos 40 mais vistos em 14 anos.
Para se ter um termo de comparação: repare-se que, entre estes 40, há três filmes de 2017: Velocidade Furiosa 8 (num grande 7º lugar), Gru - O Madisposto 3 (no 22º lugar) e A Bela e o Monstro (no 28º).
Para o cinema nacional 2018 é bem capaz de ter sido uma pequena tragédia. Ou não fosse o filme português mais visto este ano Pedro e Inês , de António Ferreira, que não conseguiu mais do que 46 717 espectadores (o que o coloca no 29º lugar entre os filmes nacionais estreados desde 2004).
Bad Investigate, de Luís Ismael (o responsável pelos anteriores sucessos da saga Balas e Bolinhos), ficou-se pelos 45 823 espectadores (31º lugar na listagem global desde 2004).
E Parque Mayer , de António-Pedro Vasconcelos (que tem no seu currículo "blockbusters" nacionais como Call Girl, A Bela e o Paparazzo e Os Gatos Não Têm Vertigens), está até agora com 33 179 espectadores. É verdade que o filme ainda está em exibição mas também é verdade que dificilmente chegará aos números dos filmes atrás citados.
De qualquer forma, é justo referir os sucessos relativos de produções como Soldado Milhões , de Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa (mais de 28 mil espectadores), e Carga, de Bruno Casgon (mais de 25 mil espectadores). Se Soldado Milhões despertou o interesse por se referir a um episódio da História de Portugal do século XX, Carga teve como grande atrativo o facto de ter a modelo Sara Sampaio como protagonista.
Já Zama , filme da argentina Lucrecia Martel, coproduzido por Portugal e premiado e aclamado internacionalmente, limitou-se a ter 1 960 espectadores.
Os números de espectadores dos filmes portugueses são, ano após ano, muito reduzidos. Colo, de Teresa Villaverde, ficou-se pelos 3 416; Ramiro , de Manuel Mozos, levou apenas 2 453 pessoas ao cinema; O Labirinto da Saudade, de Miguel Gonçalves Mendes, foi visto em sala por 765 pessoas (mas o filme teve lançamento simultaneamente na televisão, o que certamente altera a contabilidade); O Espectador Espantado, de Edgar Pêra, teve 117 espectadores em 26 sessões. Isto para referir apenas alguns filmes aclamados pela crítica e assinados por realizadores portugueses já conceituados.