Europa parte para Marte em 2020. E há portugueses na missão
A ExoMars, a missão conjunta da agência espacial europeia ESA e da Rússia a Marte, cujo ambicioso objetivo é procurar sinais de vida no subsolo daquele planeta, tem em 2020 o seu primeiro grande momento: o do lançamento. Se tudo correr como está previsto, a partida deverá acontecer entre 26 de julho e 11 de agosto, a partir de do centro espacial da agência espacial Roscosmos, em Baikonur, no Casaquistão. A chegada a Marte tem data marcada para março de 2021. Uma missão ambiciosa, na qual não falta também a participação portuguesa.
A pouco mais de meio ano da hora H para a partida, a ESA anunciou agora que os testes dos paraquedas - que serão cruciais para amortecer a aterragem do rover europeu e da plataforma científica russa que lhe está acoplada - passaram com sucesso os primeiros testes realizados nos Estados Unidos com a colaboração de equipamentos da NASA.
Descer em Marte é uma operação delicada e muitas vezes fatal, como mostra o extenso rol de missões falhadas que já se contam na curta história espacial da humanidade.
Na prática, contadas todas as missões ao Planeta Vermelho, incluindo as que se destinaram somente à sua órbita, a maioria, por um motivo ou por outro, saldou-se em falhanço, embora as mais recentes da NASA, que colocaram vários rovers na superfície marciana, tenham sido coroadas de êxito.
A própria ESA tem o seu quinhão de sucessos e fracassos em missões marcianas, incluindo, em 2016, a primeira fase da ExoMars, de resultado misto, que colocou sem mácula a sonda TGO na órbita marciana para estudar a sua atmosfera, mas não conseguiu fazer aterrar o módulo Schiapareli, que integrava a missão.
Soube-se semanas depois que o Schiaparelli, que servia sobretudo para testar a manobra de aterragem e cujos dados acabaram por ser importantes para esta segunda fase da missão, se tinha despenhado devido a uma avaria que comprometeu os dados do sistema de navegação.
Uma falha num sensor, levou o sistema a disparar o paraquedas e a ativar os travões antes de tempo, quando o pequeno módulo ainda estava a 3,7 quilómetros da superfície do planeta. Foi um desaire para a ESA, que ocorreu 13 anos depois de o também europeu Beagle 2 se ter despenhado ali também.
Com duas tentativas falhadas de pisar Marte para trás, a ESA abalança-se agora a uma terceira e, desta vez, com ambições maiores. A ideia é fazer descer em Marte um rover, ou robô móvel, equipado com uma plataforma científica, capaz de se deslocar e de escavar o solo até à profundidade de dois metros para aí recolher amostras e depois as analisar. A ideia é procurar aí, em profundidade, a resguardo das radiações cósmicas que fustigam a superfície, sinais da existência de vida no planeta.
A existir, os cientistas pensam que essa vida, feita provavelmente de microrganismos, poderá estar no subsolo, a salvo das radiações cósmicas, e por isso esta segunda fase da Exomars foi concebida para aí a procurar aí e, quem sabe, talvez encontrá-la. Afinal, o nome da missão, ExoMars, cita expressamente esse propósito, porque exo refere-se a exobiologia, ou seja, a biologia fora da Terra.
Até lá, porém, há várias etapas ainda a vencer, com alguns dos derradeiros testes a decorrer, como aconteceu agora em relação aos paraquedas que vão amortecer a aterragem e que obtiveram bons resultados, segundo Thierry Blancquaert, chefe da equipa de engenharia da ExoMars.
"Aterrar em Marte é difícil e não nos podemos dar ao luxo de deixar pontas soltas", disse Thierry Blancquaert, citado num comunicado da ESA, sublinhando que "depois de vários problemas, as modificações no sistema de paraquedas estão a avançar. Os resultados dos testes preliminares são muito promissores e abrem caminho aos próximos testes de qualidade".
Também o robô móvel está nesta mesma altura em fase final de testes, para ficar pronto, com todos os sistemas e equipamentos integrados e operacionais, no final de março de 2020.
Tal como aconteceu com a primeira fase da missão ExoMars, que embora não tenha conseguido fazer aterrar o Schiapareli colocou com sucesso na órbita marciana a sonda Trace Gas Orbiter, ou TGO, também esta segunda fase conta com a participação de portugueses.
Sediada em Coimbra, a Critical Software, nomeadamente, participou no desenvolvimento dos sistemas de controlo de bordo da TGO, que continua a recolher dados na órbita do planeta e que já produziu o retrato mais detalhado de sempre das manchas de água gelada na superfície e de minerais com sinais de água no subsolo. A empresa participa igualmente nesta segunda fase da missão.
Outras das empresas que participou nesta segunda fase da missão ExoMars, nomeadamente com a conceção de algumas das peças da estrutura do robô móvel, é a Activespace Technologies, também de Coimbra.