Cerca de meia centena de pais, professores e encarregados de educação de escolas particulares e cooperativas deixaram hoje mais de 50 mil cartas na residência do primeiro-ministro a pedir a manutenção do financiamento..Em quatro carrinhos de mão, em várias caixas de papel, ou mesmo ao colo, professores, pais e funcionários entregaram hoje metade das cartas que conseguiram recolher para pedir ao Governo que anule o despacho que veio definir que só serão financiadas as escolas nas zonas onde não existe oferta pública ou, existindo esta oferta, mantém-se apenas o financiamento das turmas até que estes alunos acabem o ciclo de ensino que atualmente frequentam.."Há cartas de alunos que dizem 'deixem-me continuar na minha escola'. Outras dizem: 'não fechem a minha escola'. São mensagens pessoais", resumiu Renato Cruz, porta-voz do movimento..José Silva, representante da associação de pais da Escola Didaxis em São Cosme, Famalicão, é um dos manifestantes que critica a atuação do Ministério da Educação, acusando de querer "rasgar o contrato assinado no ano passado", que estabeleceu o financiamento das escolas particulares e cooperativas por um período de três anos..A Cooperativa Didaxis tem cerca de 3.330 alunos que frequentam entre o 5.º e o 12.º ano..Segundo José Silva, o fim do apoio estatal obrigará os alunos a mudarem-se para uma escola pública "que fica a 12 quilómetros de distância"..Funcionários e professores lembram ainda que o corte no financiamento "irá pôr em causa muitos postos de trabalho", contou à Lusa Francisco Assis, professor há 33 anos na Didaxis.."A nossa intenção não é avançar com processos judiciais, a nossa intenção é chegar a um acordo", sublinhou Francisco Assis..Funcionários, professores e representantes da associação de pais dos Salesianos de Manique também estão presentes no protesto.."A escola é só uma, mas estamos a viver um momento de professores contra professores e escolas contra escolas", lamentou a professora dos Salesianos de Manique Ana Simões..A docente explica que os alunos são escolhidos para aquela escolha através de "uma central de matrículas de acordo com critérios do Ministério da Educação", garantindo que não escolhem os alunos e que existem "muitos estudantes de bairros sociais"..A concentração começou às 11:00, em frente ao Palácio de São Bento, e a entrega das cartas demorou cerca de meia hora..Por volta do meio-dia, uma delegação foi recebida pelo assessor para os Assuntos Económicos..No final do encontro, Renato Cruz contou que o assessor revelou que "o Governo está a fazer uma nova reavaliação" do mapa da rede escolar, onde constam as turmas que abrem no ano seguinte.."O facto de termos criado este movimento levou a que o Governo adiasse a publicação do mapa da rede, que estava previsto para amanhã, porque estão a reavaliar todas as turmas", disse Renato Cruz..No entanto, confrontado com esta afirmação, fonte do gabinete do ministro garantiu que "a rede só está pronta no final de maio e este ano não será exceção"..Os manifestantes estiveram também no Palácio de Belém, onde foram recebidos pela ex-ministra da Educação e assessora para a área da Educação, Isabel Alçada, e onde deixaram as restantes cartas..No final do encontro, Renato Cruz contou aos jornalistas que a equipa de Marcelo Rebelo de Sousa está "a acompanhar a situação com muita preocupação". O presidente da República ainda não se pronunciou sobre o assunto, tendo afirmado hoje que só o fará depois de falar com o primeiro-ministro. ."Dessa matéria em particular falarei depois de falar com o senhor primeiro-ministro", disse o chefe de Estado, quando questionado sobre a polémica do fim dos contratos de associação com escolas ou colégios privados.