De Rio a Jesus, duas vitórias com sabor diferente
Sábado, 4 de dezembro
Um dia depois da demissão de Eduardo Cabrita, que não se coibiu de afirmar que saía para poupar António Costa e o PS tendo em vista a campanha para as legislativas, o primeiro-ministro veio dizer que, afinal, até já tinha preparado uma reformulação no governo, para o tornar "mais compacto", mas esta só não aconteceu porque, entretanto, o OE foi chumbado e o Presidente convocou eleições. Que extensão teria essa remodelação, isso não explicou. Certo é que não lhe faltaram ocasiões para fazer cair Cabrita, mas o PM manteve até ao fim a confiança no MAI. Agora, Costa bem pode prometer um governo "mais curto e mais ágil" se for eleito a 30 de janeiro, e como isso tentar controlar as investidas de Rui Rio contra o "excesso de peso" do executivo, mas até lá não deixará de ser confrontado pela oposição (e eventualmente pagar um preço) com o apoio dado a um ministro, contra tudo e contra todos, que até ao último dia em funções revelou, uma e outra vez, incapacidade para assumir a sua parte de responsabilidade em casos tão notórios como a morte de Ihor às mãos do SEF, as golas antifumo, a crise dos migrantes de Odemira ou o acidente da A6.
Domingo, 5 de dezembro
A semana fechou com 24 080 novos casos de covid-19 em Portugal (mais 3656 que na semana anterior), 120 mortes (mais 24) e com uma subida no número de internados (911), tendência que também se verificou nas UCI (134). Recuando à semana de 30 de novembro a 6 de dezembro 2020, os números mostravam uma quantidade parecida de infeções (27 755), mas muito superior de mortes (536), internados em enfermaria (3268) e em UCI (514). Realidades muito diferentes, reconhecem especialistas e políticos, sendo que a esmagadora maioria da população continua a confiar na vacinação e, por isso, tanto o Presidente da República como o secretário de Estado da Saúde concordaram com a ideia de que não faz sentido discutir se esta deve ou não ser obrigatória.
Segunda-feira, 6 de dezembro
O legado de Jorge Sampaio e as muitas causas que abraçou - da mobilização pela independência de Timor-Leste ao papel como enviado especial da ONU na luta contra a tuberculose - foram recordados segunda-feira numa cerimónia na sede das Nações Unidas que teve como mote uma frase do antigo Presidente da República: "Solidariedade não é facultativa, é um dever". Um dos últimos projetos de Sampaio, falecido 10 de setembro, foi criar uma plataforma de apoio a estudantes refugiados para estes poderem prosseguir os seus estudos superiores. O modelo foi agora sugerido por Portugal à ONU, na esperança que a organização o integre nos seus mecanismos de cooperação e apoio humanitário e garanta, assim, uma resposta rápida a milhões de alunos de todo o mundo que veem o seu percurso académico ser interrompido por situações de conflito nos seus países.
Terça-feira, 7 de dezembro
Robustecido pelo triunfo nas diretas contra Paulo Rangel, Rui Rio enfrentava agora o Conselho Nacional do PSD, que já lhe tinha adverso no passado, para fazer aprovar as listas de candidatos a deputados. Antes da reunião, foi evidente que algumas das distritais, que eram afetas a Rangel, optaram pelo caminho da confrontação com o líder reeleito - um dos melhores exemplos partiu de Lisboa, que não indicou Ricardo Baptista Leite na sua proposta. Rio não fez por menos e escolheu o deputado para ser cabeça de lista no distrito. Foi ainda mais longe, retirando vários dos seus opositores de lugares elegíveis. E levou a dele avante, com 71% de votos favoráveis. Rangel lamentou a ausência de "um sinal construtivo, no sentido da diversidade" que esperava da direção do partido. Mas este Conselho Nacional serviu, acima de tudo, para Rio reforçar, sem compromissos, que é ele quem manda neste PSD já a salivar pela campanha eleitoral.
Quarta-feira, 8 de dezembro
Depois do murro no estômago que foi a derrota caseira com o Sporting para o campeonato (pesada tanto nos números como na moral da equipa), o Benfica conseguiu reagir positivamente, mesmo sob pressão, num momento decisivo da época e carimbou, frente ao D. Kiev, a passagem aos "oitavos" da Liga dos Campeões (algo que o FC Porto falhara na véspera e que o Sporting já havia garantido). O triunfo valeu à equipa portuguesa mais 12,4 milhões de euros, que se juntaram aos 41,9 que já tinha amealhado nesta edição prova. O momento podia ser de trégua na difícil relação entre os adeptos do Benfica e Jorge Jesus. Podia, mas não foi (muito por culpa da pobre exibição na 2.ª parte). O técnico foi fortemente assobiado antes do jogo e, no final, voltou a ver lenços brancos na bancada. Não está fácil a vida de Jesus na Luz, quando do outro lado do Atlântico o Flamengo anseia pelo regresso do experiente treinador. Os próximos jogos com o FC Porto para a Liga e Taça, ainda este mês, podem ditar o desfecho desta novela.
Quinta-feira, 9 de dezembro
Na data em que se assinalou o Dia Internacional de Combate à Corrupção, o diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ) anunciou que a força de segurança vai ser reforçada com mais 200 inspetores até final de 2022. "Trata-se de um reforço único na PJ", vincou Luís Neves, apontando o combate à corrupção e ao cibercrime como prioridades para os próximos tempos: "Vamos acelerar a formação em direito bancário, contratação pública, branqueamento de capitais, utilização de offshores, direito desportivo, evasão fiscal e uso de criptomoedas. Quando falamos de corrupção e criminalidade económica-financeira associada, as vítimas somos todos nós", afirmou.
Sexta-feira, 10 de dezembro
O plano para vacinar contra a covid-19 as crianças dos 5 aos 11 anos arranca já no dia 18, começando pelas mais velhas. Graça Freitas socorrou-se do estudo da Comissão Técnica de Vacinação para anunciar que com 85% de cobertura vacinal nestas idades evitar-se-iam 13 mil infeções, 51 internamentos e 5 casos em cuidados intensivos, acrescentando que a decisão foi tomada a pensar nas "vantagens para as crianças" e não para salvaguardar os adultos, o que será "um bónus". Após alguma discussão na praça pública e no parlamento, foi também anunciado que seriam tornados públicos todos os documentos médicos que sustentaram a decisão. "Para que os pais das mais de 600 mil crianças possam decidir com tranquilidade, sobretudo quando a ciência se discute no palco mediático", disse o secretário de Estado da Saúde.