Rui Rio cria condições para a oposição interna lhe pedir a cabeça se perder
Recusando medidas de reconciliação interna, Rui Rio, plenamente relegitimado como líder nas diretas mais renhidas da história do PSD, encarou a reunião do Conselho Nacional para aprovar as listas de deputados, terça-feira à noite, em Évora, com a firme intenção de esmagar a oposição interna, expulsando do futuro grupo parlamentar a maior parte dos deputados que apoiaram Paulo Rangel. Venceu sem espinhas - com 70 por cento dos votos a favor dos conselheiros nacionais - e com isso fez aprovar uma lista que renova em quase metade (40 por cento) a atual composição da bancada.
Na resposta, os derrotados da noite fizeram saber que, agora, não exigem a Rui Rio nada menos do que uma vitória clara nas eleições legislativas que o Presidente da República já marcou para 30 de janeiro. Paulo Rangel, derrotado nas diretas e agora neste processo de elaboração das listas - disse-o, afirmando aos jornalistas, à saída da reunião - que começou pelas 21.00 e terminou pela 1.00 da manhã de ontem - que "a batalha das legislativas" é "uma batalha difícil" mas "que o PSD pode vencer", até porque a alternativa política representada pelo partido é "forte e mais forte" ainda depois das eleições internas.
E - acrescentou - para que os social-democratas possam atingir esse objetivo, não podem "ser levianos" e precisam de "trabalhar e trabalhar muito" e "apresentar agora o programa" eleitoral, devendo um "primeiro sinal" ser já dado no congresso do partido, que vai decorrer de 17 a 19 deste mês em Santa Maria da Feira (Aveiro).
Mais claro seria, com uma extensa nota no Facebook, o ex-líder da JSD Pedro Rodrigues, que decidiu expulsar-se a si próprio das listas antes que fosse expulso, como o foram todos os outros rangelistas.
"Com as opções que o presidente do PSD tomou, outro resultado não pode deixar de lhe ser exigido que não seja a vitória nas próximas eleições legislativas de 30 de janeiro", escreveu. Mas não sem antes criticar duramente a forma como Rio valorizou na constituição das listas os seus apoiantes em desfavor dos apoiantes de Paulo Rangel: "As listas ontem apresentadas não refletem a diversidade interna do PSD, não respeitam a história do Partido, desprezam o seu futuro e constituem um profundo desrespeito por aqueles que nos concelhos e nos distritos defendem o nosso Partido e representam as populações." Ou, dito por outras palavras: "Não se encontra um único ex-membro do Governo, a juventude é altamente sub-representada, os dirigentes distritais foram praticamente todos saneados, provando Rui Rio que as listas de candidatos a deputados serviram para premiar os que o apoiaram nas eleições internas e não para constituir um Grupo Parlamentar na linha da grandeza de um partido como o PSD."
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A erradicação dos rangelistas viu-se, por exemplo, na forma como a direção nacional recusou atender a muitas pretensões de distritais afetas ao candidato derrotado nas últimas diretas.
Os líderes das distritais de Faro (Cristóvão Norte), Viseu (Pedro Alves) ou de Coimbra (Paulo Leitão), que apoiaram Paulo Rangel, ficaram fora das listas. Outros apoiantes do eurodeputado, como o líder da distrital do Porto, Alberto Machado, e o ex-presidente da concelhia de Gaia, Cancela Moura, foram colocados em lugares não elegíveis (40.º e 39.º pelo Porto, respetivamente).
Além deles, Carlos Peixoto ou José Cesário, que tinham sido cabeças de lista em 2019 (pela Guarda e pelo círculo de Fora da Europa, respetivamente) e não foram convidados a serem recandidatos. Fora ficaram também deputados de várias legislaturas como Luís Marques Guedes, Emídio Guerreiro ou Duarte Marques, bem como Ana Miguel dos Santos, que tinha sido cabeça de lista por Aveiro em 2019. E ainda - por vontade própria, sabendo-se que não seriam reconduzidos - figuras como Margarida Balseiro Lopes (nº1 por Leiria há dois anos), Álvaro Almeida (8º pelo Porto) e ainda Pedro Pinto, antigo líder da distrital de Lisboa do PSD e dirigente muito próximo de Pedro Passos Coelho.
Rui Rio, vitorioso, saudou o apoio "expressivo" que as suas listas obtiveram mas desmentindo a ideia de purga: "Não é correto que em lugares elegíveis só estejam pessoas que me apoiaram, é mentira, é mentira mesmo."
Para a história da reunião ficou ainda uma frase furiosa de Cristóvão Norte, líder do PSD algarvio, que Rio expulsou das listas: "São um elogio à subserviência e uma homenagem à mediocridade, espero que se ganhar as eleições não faça um governo assim."