O que se sabe sobre o surto que está a assustar Reguengos de Monsaraz
O surto de covid-19 em Reguengos de Monsaraz conta já 124 casos ativos, 96 dos quais na Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS). No lar da instituição, que está na origem do surto na cidade alentejana do distrito de Évora, há 74 utentes infetados, assim como 22 trabalhadores. Na comunidade são agora 28 os casos detetados. De acordo com um comunicado da câmara, os seis novos casos positivos já estavam em quarentena e têm "cadeias de transmissão conhecidas".
O surto, que já causou duas vítimas mortais entre os utentes do lar, dois idosos de 70 e 92 anos, foi identificado há cerca de uma semana, a 18 de junho, quando uma utente de 85 anos testou positivo ao Sars-CoV-2. Em apenas oito dias surgiram mais 123 casos.
Nesta altura, parte dos utentes infetados permanece nas instalações sob vigilância médica - militares do Centro de Saúde Militar de Évora e do Regimento de Cavalaria n.º 3 têm estado a prestar apoio, por solicitação da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil ao Estado-Maior-General das Forças Armadas.
"Neste momento o lar pode-se considerar hospital de retaguarda, visto que só estão nesta instituição os doentes que testaram positivo", afirmou esta sexta-feira à TSF o presidente da autarquia, José Calixto, que fala numa situação complicada na instituição. Já na comunidade, a situação está mais tranquila, garante.
Cinco utentes do lar estão internados no Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), um dos quais em cuidados intensivos. Entre os profissionais que trabalham no equipamento, há também um internado nos cuidados intensivos.
Segundo o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, José Robalo, "houve um agravamento da situação clínica" destas duas pessoas, pelo que passaram para a Unidade de Cuidados Intensivos. Fonte do HESE acrescentou à agência noticioda que os doentes "inspiram cuidados". O presidente da ARS disse ainda à Lusa também esperar que, a partir de hoje, o Lar da FMIVPS conte com reforço de profissionais de Saúde, 24 horas por dia, através de uma equipa constituída por cinco médicos e 10 enfermeiros.
Na segunda-feira, com 62 casos confirmados, as autoridades mandaram fechar as creches e escolas da cidade e, depois, todos os serviços públicos com atendimento presencial, caso das finanças, conservatórias, correios e tribunal. Vários lares em concelhos vizinhos de Reguengos de Monsaraz voltaram a suspender as visitas aos seus utentes, como medida preventiva.
Até quinta-feira foram realizados cerca de 800 testes de despistagem da covid-19 em Reguengos de Monsaraz.
A evolução da situação pandémica no Alentejo devia ser abordada, esta sexta-feira à tarde, numa reunião "online" com a participação das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) dos distritos de Évora, Beja, Portalegre e do litoral alentejano, no distrito de Setúbal. Segundo afirmou à Lusa Tiago Abalroado, representante no Alentejo da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), a ideia é "fazer o diagnóstico da situação vivida no passado e da atual e ouvir as instituições".
"Queremos perceber quais é que são as medidas que estão a ser tomadas, ajudar a minimizar lacunas e traçar uma estratégia concertada para ultrapassar dificuldades", disse, realçando que "preocupa muito o estado anímico e psicológico dos utentes, podendo ser estudada uma solução partilhada para um maior apoio psicológico".
Tiago Abalroado admite existir um "sentimento de algum pânico" nas instituições na região face ao surto de Reguengos de Monsaraz, até porque não tinha havido, até agora, nenhum "caso assinalável" numa IPSS na região. O único caso registado aconteceu igualmente em Reguengos de Monsaraz, na localidade de Campinho, onde duas funcionárias deram positivo: "Só tivemos aquele caso no Campinho, mas as duas funcionárias foram logo para casa e, depois, não teve qualquer repercussão no quotidiano da instituição".