Câmara tomou posse do Estádio do Bonfim sem mudar as fechaduras

Visita técnica com cerca de 100 pessoas terminou com acordo de cavalheiros entre o presidente do clube, Paulo Rodrigues, a autarca da cidade, Maria das Dores Meira. Futuro do clube nas mãos da autarquia.
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No dia em que era suposto a Câmara Municipal de Setúbal ir ao Estádio do Bonfim mudar as fechaduras e assim tomar posse do imóvel e bloquear a entrada do novo presidente, Paulo Rodrigues, nas instalações, a presidente do município participou na visita técnica ao recinto na companhia do líder sadino. Um gesto de diplomacia que pretende acabar com o estado de guerrilha permanente e declarada entre o município e o maior clube da região de Setúbal.

"Todos viram que não houve alterações de fechaduras. Talvez a presidente tenha decidido mudar de ideias, com os minutos a passar, a falar comigo e a perceber a verdade e realidade do atual Vitória, bem como conhecer um pouco mais o presidente e os diretores. Talvez tenha passado a ser só uma visita para conhecer as instalações com os próprios olhos", explicou Paulo Rodrigues, no final da visita, que durou mais de duas horas e contou com uma comitiva de cerca de 100 pessoas, incluindo três polícias.

O líder do Vit. Setúbal ficou "contente" com a visita da autarca. "Como é minha obrigação, fui-lhe mostrar o estádio e pôde ver como estão as partes mais degradadas no espaço. Como nos competia, fizemos o nosso trabalho e estou orgulhoso por a presidente ter ficado mais por dentro da realidade que, acho, não conhecia bem. Acho que hoje saiu um pouco mais esclarecida daqui", disse o presidente pedindo "desculpas" se algum dia ofendeu alguém a defender o Vitória.

Já Maria das Dores Meira não mostrou disponibilidade para responder a perguntas dos jornalistas e explicou que é intenção da autarquia cuidar do espaço cujos direitos foram adquiridos. "Neste momento, o estádio é património da Câmara Municipal e queremos cuidar bem deste estádio e da memória daqueles que ao longo de 110 anos deram a glória a Setúbal, à nossa região e ao nosso país. Não queremos que fique o ónus na Câmara Municipal de deixar degradar ainda mais o que está edificado."

Na semana passada, o organismo camarário informou Paulo Rodrigues da intenção de mudar as fechaduras. "Encontra-se agendada para o próximo dia 24 de novembro, a partir das 14.00, visita técnica das instalações acompanhada por membros do executivo camarário e funcionários para mudar as fechaduras. Após este levantamento do estado em que se encontram as instalações e tomada de posse das mesmas, será regulado o uso do imóvel", lê-se na carta enviada ao presidente da direção do clube e colocada a circular.

O documento assinado por Maria das Dores Meira, referia que na ocasião será feita a vistoria e efetivada a tomada de posse do estádio e demais edificações, depois de aquirir os direitos de superfície no dia 12 de novembro. O prédio urbano, localizado no Bonfim, é composto por complexo desportivo, que integra o estádio para a prática de futebol, com bancada, edifícios para Bingo, bilheteiras e casa de habitação do guarda. "Assumimos um património durante 90 anos, vamos ver como está e mudar as chaves da fechadura. Esta tomada de posição também é simbólica, para as pessoas perceberem que hoje o estádio não é do Vitória, é da Câmara, e sendo do município é de toda a cidade e também do Vitória", disse a presidente à Lusa há três dias.

Já depois destas declarações, Dores Meira (e o vereador do Desporto, Pedro Pina) foi a Olhão acompanhar a equipa - Vit. Setúbal venceu o Olhanense, por 3-2, para o Campeonato de Portugal - a convite dos capitães. Uma deslocação que causou estranheza ao presidente sadino, que já tinha sido excluído das comemorações camarárias dos 110 anos do Vitória. "Não foi convidado porque ninguém o desejava ter aqui. Não somos obrigados a aceitar os maus tratos, as mentiras e tudo o que diz aos funcionários do Vitória e aos atletas. Da Câmara Municipal, o senhor tem dito tudo o que lhe passa pela cabeça, o que é verdade e o que não é. Para a Câmara, não é de todo uma pessoa respeitável e querida", justificou a autarca.

Eleito a 18 de outubro, Paulo Rodrigues enfrentará uma Assembleia Geral, com o objetivo de o destituir no dia 4 de dezembro, um dia antes de acabar o prazo para nomear a nova administração da SAD sadina. A Câmara Municipal de Setúbal detém 40 % das ações e é o sócio maioritário, podendo nomear a nova administração. Até agora o município tem confiado esse privilégio ao presidente do clube, algo que desta vez não fará.

A SAD do Vitória de Setúbal está em risco de insolvência por dívidas ao estado no valor de 5, 6 milhões de euros (valor total da dívida a terceiros supera os 24 milhões de euros). No meio de tudo isto está uma equipa despromovida da I Liga para o Campeonato de Portugal, com ordenados em atraso e a ser ajudado pelo Sindicato de Jogadores e pela câmara municipal.

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