Morais Sarmento contra agregação RTP/Lusa

Antigo ministro admite que Lacão pode estar a "perder tempo" se em causa  estiver a ideia de fusão entre ambas as empresas
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Nuno Morais Sarmento, antigo ministro da Presidência e autor da última reestruturação da RTP, em 2002 e 2003, é contra a fusão ou sobreposição da estação pública e da Lusa. Aliás, só admite a ideia de reflexão sobre a "agregação" dos organismos, proposta na sexta-feira por Jorge Lacão, ministro dos Assuntos Parlamentares, se fizer apenas referência a cortes. "Esta reflexão será útil no plano dos custos e das poupanças, porque é sempre possível. Mas se esta mesma reflexão pretende entrar por modelos de fusões ou sobreposições de ambas as empresas, então o dr. Jorge Lacão pode estar a perder tempo porque a RTP e Lusa são distintas entre si quer na natureza, quer na missão que prosseguem", justifica ao DN. O antigo governante do executivo de Durão Barroso adverte: "Uma agência de informação com capitais públicos e privados e uma emissora pública podem fazer contratos entre si, mas sinergias de custos vejo com alguma dificuldade."

Luís Delgado, antigo administrador-delegado da agência Lusa, em 2003 e 2004, sublinha que uma possível solução de "agregação" jamais poderá ter lugar a um nível editorial. "Está completamente fora de hipótese porque uma agência noticiosa tem de ser independente, não pode ter qualquer ligação directa e concreta a um órgão de comunicação social, como é o caso da RTP e RDP. Se assim fosse, poderia levantar questões", justifica, alegando que a Lusa envia informação para muitos mais organismos do que apenas os meramente noticiosos. "Tem condições muito específicas porque também envia informação para embaixadas, ministérios, empresas e, por isso, tem de ter toda a independência", avisa.

O actual comentador da SIC Notícias recorda, ainda, que na ocasião em que ocupou o cargo na agência chegou a sugerir informalmente o assunto ao administrador da estação pública na época, Almerindo Marques [actualmente presidente da Estradas de Portugal]. "Quando a RTP se mudou para o novo edifício, em Março de 2004, tive uma conversa informal com Almerindo Marques e até ponderámos se haveria um piso disponível, por uma questão de sinergia", lembra Delgado, salvaguardando que "nunca foi colocada a possibilidade" de a junção incluir "a um nível editorial".

Almerindo Marques não se recorda deste episódio e, confrontado pelo DN com a iniciativa de "reflexão" proposta pelo ministro Jorge Lacão tendo em vista a "racionalidade e economia de custos", prefere não comentar. "Não sei o que é hoje a RTP, não sei o que é hoje a Lusa e não estou documentado para as opiniões sobre uma hipotética ligação. Não tenho memória que tenha sido equacionada uma ligação entre ambas."

Afonso Camões, actual administrador da agência noticiosa, afirmou na edição de ontem do DN que este tipo de "sinergia" já existe em Dili e em Luanda. Esta ligação tem ainda um exemplo mais antigo. "Em 2003, a Lusa já ocupava a cave do edifício da RTP na Madeira", conta Luís Delgado.

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