Autárquicas vitais para direita sonhar com alternativa ao PS
Se as eleições presidenciais de janeiro são mais inócuas para os partidos, as autárquicas de outubro de 2021 são vitais para o PSD, mas também para o PCP, que se debate com um problema de declínio eleitoral. Para Rui Rio segurar-se na liderança social-democrata sem sobressaltos internos precisa, como de pão para a boca, de um bom resultado nas urnas. É dessa necessidade que nasce a reaproximação a Pedro Santana Lopes, que ainda é militante do Aliança, para encabeçar uma lista do PSD, e o desafio a Paulo Rangel para liderar a do Porto.
As conversações entre o PSD e Santana Lopes têm decorrido, mas mais do que a hipótese de vir a encabeçar a lista do PSD por Lisboa, onde foi presidente de câmara, em cima da mesa tem estado também, segundo apurou o DN, a Câmara de Sintra ou a da Figueira da Foz, onde também exerceu o mandato de autarca, e onde terá mais possibilidade de sucesso.
Esta aproximação a Santana Lopes, que saiu do PSD para criar um novo partido, que liderou até há bem pouco tempo, o Aliança, justifica-se pelo facto de Rui Rio precisar de tentar jogar todas as cartadas capazes de fazer ganhar o jogo autárquico.
Não em número de câmaras, tarefa quase impossível dada a distância em relação ao PS - nas autárquicas de 2017, os socialistas conseguiram 158 câmaras e os sociais-democratas, coligados em algumas delas, 98 -, mas em mais mandatos nos municípios mas também nas juntas de freguesia.
Se por junto vierem câmaras inesperadas tanto melhor, já que Lisboa e Porto, as duas principais, são difíceis de tirar das mãos do socialista Fernando Medina e do independente Rui Moreira, que tem contado com o apoio do CDS. Partido com o qual o PSD também está a negociar coligações em várias câmaras, incluindo para a de Lisboa. Onde se falaram dos nomes de Paulo Portas, que rejeitou essa hipótese, e de Miguel Poiares Maduro, que está fora de jogo.
A melhor cartada que Rio queria jogar no Porto para o combate com Moreira era Paulo Rangel, o eurodeputado social-democratas que desafiou para encabeçar a lista do partido. O eurodeputado social-democrata estará em período de reflexão, mas deverá rejeitar essa possibilidade. E o líder do PSD, que foi presidente da autarquia, tem mais um problema para resolver.
Para concorrer a um dos municípios da Área Metropolitana de Lisboa, o presidente do PSD quer Ricardo Batista Leite, médico, vice-presidente do partido e deputado, que se tem destacado como porta-voz do partido para a área da saúde, e que tem tido uma grande projeção durante a pandemia.
Mas se para o PSD é vital ter um bom resultado nas eleições de outubro, depois de ter tido um dos piores resultados de sempre, e para Rio conseguir manter-se ao leme do partido e com esperança de chegar às legislativas, sejam antecipadas ou regulares, com alguma esperança de ser alternativa ao PS, os outros partidos de implantação autárquica também têm a ganhar e a perder nestas eleições.
O PSD terá de avançar com novos cabeças-de-lista em Espinho (José Pinto Moreira), Vila Verde (António Vilela), Vila Nova de Foz Coa (Gustavo Duarte), Sertã (Farinha Nunes), Alcobaça (Paulo Inácio) e Monchique (Rui André). E o PS em Viana do Castelo (José Maria da Costa), Castelo de Paiva (Gonçalo Rocha), Barcelos (Costa Gomes), Miranda do Douro (Artur Neves), Oliveira do Hospital (José Alexandrino), Penacova (Humberto Oliveira), Seia (Carlos Figueiredo) e Vila do Bispo (Adelino Soares), entre outras autarquias. Além dos presidentes de câmara socialistas que estão a atingir o limite de três mandatos, há outros 20 que saíram de funções e que foram substituídos pelo número dois no município, segundo fonte oficial do PS, citada pelo Público.
É nestas autarquias que se podem dar maiores danças de cadeiras entre partidos e onde PS e PSD vão fazer as maiores investidas para tentarem conquistar lugares. O objetivo do PSD é "recuperar" alguns municípios e "subir o número de votos e de mandatos autárquicos" e o do PS é, sobretudo, não perder os que tem.
O PCP, partido com forte implantação autárquica, também joga muito nestas eleições depois de em 2017 ter perdido dez das suas câmaras, nove para o PS e uma para independentes. As câmaras perdidas foram Almada, Barreiro, Alcochete, Alandroal, Barrancos, Castro Verde, Moura, Beja, Constância e Peniche. Nas contas eleitorais dos comunistas nas anteriores autárquicas, há ainda a destacar a perda de maiorias absolutas em Palmela e Seixal, no distrito de Setúbal.
Mesmo que faça um acordo de coligação muito alargado com o PSD, o CDS quererá manter as seis câmaras que conseguiu há quatro anos, e são elas: Velas, Ponte de Lima, Albergaria-a-Velha, Vale de Cambra, Santana e Oliveira do Bairro.