Associação Acreditar demarca-se de tourada com João Moura organizada por avô de criança com cancro
A Associação Acreditar - Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro devia ser uma das beneficiárias de um festival taurino em Beja, agendado para 14 de março, que terá João Moura como cabeça de cartaz, mas demarcou-se por completo do evento e ainda antes de o cavaleiro ter sido detido por maus tratos aos seus galgos.
Em janeiro, e já depois de ter saído o programa da corrida, a Acreditar diz ter informado a organização do evento que não queria ver o seu nome associado, mas os promotores da tourada ignoraram o pedido de demarcação, mantendo o cartaz, em que se pode ver um touro e uma criança frente a frente, a legenda "Acreditar na Vida" e a indicação de que o evento está a cargo do Centro de Paralisia Cerebral de Beja.
Na quinta-feira, e perante as pressões de grupos pró-touradas e anti-touradas, a associação tornou público num esclarecimento online que não apoia nem quer ver o seu nome associado ao evento e não pretende receber quaisquer donativos.
"Em abril do ano passado foi-nos proposta uma ação deste género por um pai de uma criança em tratamento em Coimbra. O avô da criança é o promotor da tourada. No decorrer desta negociação houve várias divergências e acabámos por não assinar nenhum dos protocolos. Não sabíamos sequer quando ia ser a tourada e no início deste ano fomos confrontados com cartazes em que aparece o nosso nome sem que o tenhamos autorizado. Pedimos aos organizadores para retirarem os cartazes, demarcando-nos de qualquer envolvimento neste evento, e recebemos uma carta do organizador a ameaçar que teríamos de pagar para retirar o nosso nome do cartaz", disse ao DN fonte oficial da ACREDITAR, que diz não que não houve qualquer tipo de contacto com o Centro de Paralisia Cerebral de Beja.
Em sentido contrário, o avô da criança e empresário tauromáquico em nome próprio, José Manuel Ferreira Paulo, desmente a associação. "Mentem compulsivamente, contando meias verdades deturpadas, omitindo realidades e desvirtuando tudo o que se passou. Ficou acordado a realização do festival taurino e nenhuma condição me foi imposta. Para salvaguardar a minha intenção propus um protocolo que unicamente definia que a ACREDITAR não estava envolvida na organização e que iria receber 80% do lucro do referido festival e que dessa verba a prioridade seria pagar três próteses às amigas da minha neta do centro de Coimbra", contou, através de um comunicado enviado ao DN.
"Posteriormente foi-me pedido que no ponto 4 e 8 se fizesse uma alteração ao texto para que a atribuição das referidas próteses se enquadrasse nos critérios da associação. Nada mais desse protocolo foi motivo de discórdia. Não foi assinado porque entreguei com o texto alterado conforme tinha sido proposto e até hoje não nos foi devolvido. Portanto, mentem e insinuam com algo que não é verdade", prosseguiu José Ferreira Paulo, que disse ter recebido "um agradecimento" da ACREDITAR.
"Mentem quando dizem que lhes pedi uma indemnização. Aquilo que lhes foi dito foi que para haver um incumprimento unilateral do que estava acordado teriam que pagar as despesas efetuadas até ao momento. Aquilo que tiveram foi medo. Medo de uma ou duas plataformas e de uma minoria ruidosa. E falta do que têm os homens para se assumirem como eles antitaurinos", rematou.
A Acreditar, por seu lado, diz que tem "recebido contactos de associações pró-touradas e anti-touradas". "Estamos a sentir que estamos no meio de uma guerra que não é a nossa e entendemos fazer um esclarecimento público de que não estamos nem de um lado nem do outro. Simplesmente não estamos nesta guerra", frisou fonte da associação.
Ainda assim, a Acreditar está reticente em avançar para uma ação judicial. "Não é uma prática nossa e não estamos a pensar em fazê-lo. Entendemos que todos os recursos da nossa associação, obtidos através de mecenas, doadores anónimos e pais, devem ser utilizados na missão de que nos cumpre fazer: apoiar crianças com cancro e as famílias. Sempre tentámos dialogar com as pessoas", conclui fonte da associação.
Há pouco mais de uma semana João Moura foi detido depois de as autoridades terem encontrado 18 cães subnutridos na herdade do cavaleiro em Monforte, no distrito do Portalegre.