As linhas vermelhas em Portugal e na América
Sábado, 2 de janeiro
Trinta mil dólares. Foi esse o valor que a bitcoin, a criptomoeda mais utilizada no mundo, atingiu a 2 de janeiro. Um novo máximo. O facto de cada vez mais bancos e empresas apostarem na moeda digital estimulou outros investidores a ultrapassar alguma desconfiança. A pandemia de covid-19 também ajudou, na medida em que muitos consumidores, devido ao confinamento, abraçaram o comércio online. Atentas a esse fenómeno, grandes plataformas de pagamentos como a Paypal começaram a explorar as potencialidades das criptomoedas. E a cada sinal de confiança a bitcoin sai reforçada.
Domingo, 3 de janeiro
Era apenas uma questão de tempo. Depois de ter sido detetada na Madeira, a nova variante do coronavírus (identificada no Reino Unido em dezembro) foi confirmada em Portugal continental pelo INSA. A notícia faz crescer o temor de um aumento súbito da pressão sobre o SNS já que a nova variante será 70% mais contagiosa (apesar de não ser mais letal, segundo os primeiros estudos). Os britânicos viram o número de casos disparar - vários dias acima dos 60 mil - e a resposta foi um novo período de confinamento severo, por seis semanas, incluindo o fecho das escolas.
Segunda-feira, 4 de janeiro
Até quando vai António Costa adiar uma remodelação no governo? A questão voltou à tona nesta segunda-feira, quando a oposição em coro exigiu explicações à ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, após as notícias sobre as alterações promovidas ao currículo de José Guerra, o preferido do governo para a nomeação como procurador europeu. Marcelo falou em "desleixo lamentável", Rui Rio acusou a ministra de "mentir claramente", Costa disse que foram "lapsos sem relevância". Há menos de um mês, o PM viu-se forçado a reafirmar a confiança política em Eduardo Cabrita, na sequência da calamitosa atuação do SEF no homicídio do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk. Com a pandemia a crescer pede-se estabilidade governativa, mas os casos sucedem-se e o cerco da oposição aperta-se.
Terça-feira, 5 de janeiro
Depois de Carlos do Carmo, logo no primeiro dia de 2021, a cultura portuguesa viu partir mais um dos seus grandes nomes com a morte do escultor João Cutileiro, aos 83 anos. Autor de uma extensa e, por vezes, polémica obra, Cutileiro foi alguém que "cedo percebeu que as artes plásticas, e a escultura em particular, têm uma capacidade de subversão semelhante à da palavra", como tão bem assinalou a jornalista Maria João Martins nas páginas do DN. Lisboeta, mudou-se para Évora em 1985. Será também na cidade alentejana que ficará muito do seu espólio. A memória de um gigante, gravada da pedra.
Quarta-feira, 6 de janeiro
10 027 novos casos de covid-19 em Portugal no espaço de 24 horas. Um recorde. Só entre segunda e quarta-feira foram registados 19 352 infetados, mais 7874 do que no mesmo período da semana passada. Olhando para o boletim da DGS, percebemos também que os internamentos gerais estavam a aumentar há cinco dias consecutivos (seis se olharmos só para UCI). A doença está a crescer em Portugal e, como o DN destacou na capa, o SNS está perto da linha vermelha. Horas mais tarde, foi confirmada no parlamento a aprovação de mais um período do estado de emergência - o oitavo desde o início da pandemia. Os especialistas ouvidos pelo DN voltam a defender medidas severas para confinamento. A vacina já chegou, mas os tempos que se seguem serão os mais complicados que já enfrentámos.
No mesmo dia, dos Estados Unidos, chegam imagens que ficam para a história: o Capitólio em Washington é invadido por apoiantes radicais de Donald Trump, interrompendo a contagem dos votos do colégio eleitoral que confirmaram Joe Biden como o próximo presidente. Vemos seguranças de arma em punho a tentar travar os manifestantes, um homem com os pés em cima da secretária de Nancy Pelosi, a remexer os documentos da presidente da Câmara dos Representantes, e outras imagens que se julgavam impossíveis. Trump até pode prometer uma transição pacífica, mas a ferida que abriu na América é profunda e vai demorar a sarar, sendo certo que os processos judiciais que já pairam sobre o futuro ex-presidente ameaçam contaminar ainda mais um ambiente já de si explosivo.
Quinsta-feira, 7 de janeiro
Decretado o novo estado de emergência, foi à hora de almoço que António Costa anunciou aos portugueses as novas medidas de restrição, deixando transparecer quer não há volta a dar e que estas vão agravar-se nos próximos dias. Para já, neste fim de semana, mantém-se o recolher obrigatório a partir das 13h00 (só 25 concelhos escapam) e a proibição de circulação entre municípios (aplicada a todos). Mas na terça-feira, após a reunião com os especialistas do Infarmed, para avaliar a progressão da pandemia no último mês, o cenário deve agravar-se. Costa admite já como "provável" poder voltar a um confinamento semelhante ao de março, mas com as escolas abertas.
Sexta-feira, 8 de janeiro
Se Costa tinha manifestado na véspera a esperança de que a escalada nos números de covid-19 fossem apenas "um ajustamento", o relatório da DGS desta sexta-feira parece ter arruinado essa ideia. Foi o pior dia da pandemia. Recorde de novos casos (10 176), mortes (118) e internamentos (3451). A tudo isto junta-se o frio. Com temperaturas negativas um pouco por todo o país, soam os alertas da DGS para o impacto das baixas temperaturas na saúde. Uma das consequências é a redução de defesas do organismo. O que facilita a transmissão de vírus. O melhor mesmo é, se puder, ficar em casa.