Ana Abrunhosa aponta Leiria como "forte candidata" a capital europeia da Cultura
A ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, considerou esta sexta-feira (23 de outubro) a candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura (em 2027) como "uma candidatura forte, porque integra diversidades, tem objetivos comuns, e é uma candidatura não só de uma cidade mas de um território muito rico e muito diverso em termos culturais".
A governante participou na sessão de encerramento do congresso "o Futuro da Nossa Cidade", promovido pela rede cultura 2027, e cujo convidado de honra foi o cardeal e poeta José Tolentino de Mendonça. À margem da sessão, confirmou aos jornalistas a impressão de que esta é uma candidatura forte, no universo das 9 cidades portuguesas que disputam esse lugar, daqui por seta anos. A par de Leiria, estão a candidatar-se também Coimbra, Faro, Évora, Aveiro, Guarda, Oeiras, Braga e Viana do Castelo.
Ana Abrunhosa diz que tem acompanhado as diversas candidaturas ("umas mais de perto que outras") e acredita que é desse caminho que vai nascer uma nova coesão territorial. " Penso que todas têm feito esse esforço, de integrar as diferentes dimensões do que é a vida e a cultura de um território. Somos um país que apesar de pequeno, é muito rico ao nível do património cultural. Como esta candidatura tem três comunidades intermunicipais, 26 municípios, o desafio é maior", sublinhou.
Já durante a sua intervenção, a ministra - que conhece bem parte daquela região, dos tempos em que assumiu a liderança da Comissão de Coordenação da Região Centro - sublinhara o contexto em que viemos, "onde é tão fácil ficar em casa e tão fácil não fazer". E por isso foi ali sublinhar "o apreço do governo a uma candidatura e tudo o que ela significa". Mais tarde, haveria de acrescentar que "fazer estas candidaturas permite que os territórios se conheçam uns aos outros, coisa que nem sempre acontece. O processo delas é, em si, muito enriquecedor". Ana Abrunhosa fala mesmo de "um país vibrante", capaz de mobilizar os seus territórios em 9 candidaturas.
No caso de Leiria, o município faz-se acompanhar de outros 25, de toda a região. "Vai desde as portas de Lisboa até ao limite do distrito de Coimbra", conforme lembrou o presidente da Câmara de Leiria, Gonçalo Lopes.
A ministra da Coesão Territorial acredita que é preciso "repensar o papel que queremos para a cultura, neste contexto de pandemia", e por isso incita a um debate alargado, envolvendo o cidadão, como fator de desenvolvimento sustentável" - tal como falou Tolentino de Mendonça.
Em tempo de pandemia, Ana Abrunhosa lembra que "todas as candidaturas têm mantido os seus programas de forma adaptada", o que é de salientar. "Mas o processo é o mais importante, é o que permite fazer esse trabalho com os territórios e com as instituições, que muitas vezes não falavam entre si nem partilhavam projetos". A ministra falava num território "que é próspero - é um dos territórios mais prósperos e mais dinâmicos do nosso país - mas que também tem dentro dessa diversidade, territórios menos prósperos. Basta pensar nas zonas de Castanheira de Pêra ou Pedrógão Grande". E por isso sublinhou tantas vezes a importância do debate, de fazer acontecer: "em momentos como este, de crise, de pandemia, onde tendemos a isolar-nos, onde tendemos a fechar-nos e onde a cultura tem sido tão afetada, trabalhar em conjunto - o que significa por de parte muitos dos objetos pessoais -, tendo como denominar comum a cultura, só pode ser uma referência e um exemplo para o país".
Coordenado pelo maestro Paulo Lameiro, o grupo executivo da candidatura de Leiria tem promovido um conjunto alargado de debates ao longo dos diversos concelhos que agregou. O congresso que hoje e amanhã encerra entre Leiria e Caldas da Rainha começou em maio, presidido pelo embaixador Luís Castro Mendes, antigo ministro da Cultura.
Mas o convidado de honra foi nada menos que o cardeal José Tolentino de Mendonça, que escolheu uma frase extraída de um poema de Carlos de Oliveira [ "ao encontro das cidades"] para titular a sua intensa intervenção. Socorreu-se por diversas vezes da recente encíclica do papa Francisco, para colocar sempre a tónica na importância de olhar para as pessoas, no contexto das cidades. "Precisamos aprender a escutar melhor as cidades. Caminhar ao encontro das cidades futuras será sempre caminhar ao encontro das pessoas", disse, lembrando esse marco de 2007, em que pela primeira vez a população urbana superou a população rural. Ou que em 2010 os aglomerados urbanos representavam 51% da população mundial, número que em 2030 deverá situar-se nos 60%.
O cardeal e poeta - que é arquivista e bibliotecário da Santa Sé - haveria de citar também "as cidades invisíveis", de Italo Calvino, recorrendo às conversas imaginárias com Marco Polo para enfatizar a descrição das cidades por onde passara.
Tolentino atravessou séculos, décadas e estados na sua intervenção, que dividiu m cinco eixos fundamentais para as cidades do futuro: redescobrir o bem comum, redescobrir a comunidade, a sustentabilidade cultural e a ecológica, e por fim redescobrir a fraternidade. "Na tríade liberdade, igualdade e fraternidade, deixaram de fora a fraternidade. A globalização fez-nos vizinhos mas não irmãos uns dos outros", lembrou.
O congresso da rede Cultura 2027 prossegue este sábado, nas Caldas da Rainha, onde é esperado como orador o artista François Matarasso, que há quatro décadas se dedica a fazer, acompanhar e investigar arte comunitária em cerca de 40 países. Desse trabalho resultou o livro "Reflexões sobre o triunfo e importância da prática participativa", publicado no ano passado.