O Ministro da Administração Interna determinou à Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) a abertura de um inquérito para apuramento dos factos relacionados com a atuação policial ocorrida domingo, na Amadora, após o pedido de intervenção do motorista de um autocarro de passageiros.."A PSP transmitirá à IGAI todos os elementos da averiguação interna que tem estado a realizar", lê-se na nota enviada às redações..Joacine Katar Moreira, a deputada do Livre enviou, esta terça-feira, quatro perguntas ao ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, sobre o assunto.."Atendendo à gravidade da situação relatada, bem como a um longo e infeliz historial de situações de violência policial que têm vindo a ser conhecidas, perante a passividade da Direção Nacional da PSP, como aliás comprova o facto de 76% das queixas contra agentes policiais na Amadora serem arquivados mesmo nos casos em que esses mesmos agentes contam com condenações criminais (algum deles continuando em funções), é urgente a tomada de medidas para prevenir estas situações no corpo policial e garantir a segurança das populações", pode ler-se numa das perguntas enviadas pela deputada do Livre..A mulher que apresentou a denúncia contra um polícia que a deteve no domingo na Amadora, ocorrência que envolveu "agressões", foi esta terça-feira constituída arguida e sujeita à medida de coação de termo de identidade e residência, segundo a PSP..Inicialmente fonte da SOS Racismo afirmou ao DN que o agente que esteve envolvido nas alegadas agressões a Cláudia Simões tinha sido constituído arguido..Presente a um juiz de instrução criminal, a mulher ficou indiciada do crime de resistência e coação sobre agente da autoridade, enquanto o polícia envolvido "não foi constituído arguido", avançou à agência Lusa fonte da Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP).."O caso transitou para processo comum [segue para investigação]", disse fonte policial, acrescentando que, devido às versões contraditórias da mulher e do polícia, está a decorrer um inquérito para averiguar as circunstâncias da ocorrência..Neste âmbito, a investigação inclui o interrogatório de todas as pessoas envolvidas, assim como a identificação da "extensão dos ferimentos" da mulher detida e do polícia e quais as mazelas para o futuro, uma vez que foram ambos assistidos no Hospital Fernando da Fonseca, na Amadora..Ao DN, Ana Cristina Domingues, advogada de Cláudia Simões, esclareceu que a sua cliente foi detida, ouvida esta terça-feira pelo Ministério Público e constituída arguida por ofensa à integridade física qualificada, no âmbito do auto de notícia lavrado pela PSP devido à alegada agressão de que o agente terá sido alvo..No âmbito a ocorrência de domingo na Amadora, a organização SOS Racismo recebeu terça-feira "uma denúncia de violência policial contra a cidadã portuguesa negra", indicando que a mulher ficou "em estado grave", resultado das agressões que sofreu na paragem de autocarros e dentro da viatura da PSP em direção à esquadra de Casal de São Brás, na Amadora, no distrito de Lisboa..Defesa espera que agente da PSP seja constituído arguido.Cláudia Simões pediu que o Ministério Público notificasse a empresa Vimeca para preservar as imagens do autocarro onde seguia e onde tudo se iniciou, afirma a advogada. Acrescenta que requereu para que fossem inqueridas duas testemunhas, bem como a conexão dos processos. Ou seja, foi pedido para que a queixa que Cláudia Simões fez contra o agente da PSP seja incorporada neste processo onde ela foi hoje ouvida.."Esperamos que o senhor agente da autoridade, até no sentido de credibilizar o nosso sistema de justiça, seja constituído arguido rapidamente e que também seja ouvido pelo Ministério Público", afirmou Ana Cristina Domingues, que fala numa "agressão cruel e desumana" a Cláudia Simões. "Ficou muito debilitada"..Ao contrário da denúncia contra o polícia, a PSP afirmou que a mulher reagiu de forma "agressiva" perante a iniciativa do polícia em tentar dialogar, "tendo por diversas vezes empurrado o polícia com violência, motivo pelo qual lhe foi dada voz de detenção"..A partir do momento da detenção da mulher, alguns outros cidadãos que se encontravam no interior do transporte público tentaram impedir a ação policial, nomeadamente "pontapeando e empurrando o polícia", disse a Direção Nacional da PSP, em comunicado, acrescentando que o polícia se encontrava sozinho..Para fazer cessar as agressões, o polícia "procedeu à algemagem da mesma, utilizando a força estritamente necessária para o efeito face à sua resistência".."Salienta-se que a mesma, para se tentar libertar, mordeu repetidamente o polícia, ficando este com a mão e o braço direitos com marcas das mordidelas que sofreu e das quais recebeu tratamento hospitalar", avançou a PSP..Através do Facebook, o Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública partilhou imagens das alegadas agressões da detida ao agente da polícia..PS questiona ministro da Administração Interna sobre atuação policial.O PS questionou esta quarta-feira o ministro da Administração Interna sobre a atuação policial, no sentido de esclarecer se o agente da PSP envolvido tem antecedentes de "utilização excessiva da força" e se utilizou "expressões racistas"..Num requerimento entregue na Assembleia da República, o Grupo Parlamentar do PS considera que, "a confirmarem-se as alegações de Cláudia Simões de que foi agredida posteriormente à algemagem e imobilização, tratar-se-á de condutas merecedoras da mais profunda reprovação, com relevância criminal e impróprias de agentes imbuídos de particulares deveres de respeito pela lei".."Eventuais condutas censuráveis de Cláudia Simões, em momento anterior ou contemporâneo da sua detenção, poderiam merecer a censura dos tribunais, mas jamais a ação direta que é apanágio de outros contextos civilizacionais onde a vingança é tolerada e os direitos humanos são desrespeitados", sublinha-se no texto, embora salvaguardando que "o Partido Socialista respeitou, respeita e respeitará sempre as forças policiais, o seu papel fundamental na manutenção da ordem e da segurança e o seu papel estruturante na sociedade portuguesa"..Do ministério de Eduardo Cabrita os socialistas querem saber se "é comum a intervenção policial para dirimir conflitos resultantes do não pagamento de títulos de transporte de empresas públicas ou privadas" e se as lesões exibidas por Cláudia Simões "foram provocadas por ação policial e em que momento".."O agente em causa possui algum antecedente de utilização excessiva da força? Enquanto decorre o processo de inquérito promovido pela Polícia de Segurança Pública, será aplicada alguma medida provisória ao agente? Há confirmação de que o agente terá utilizado expressões racistas para se referir à cidadã?", perguntam-se no requerimento assinado por sete deputados socialistas, entre os quais Eduardo Barroco de Melo, Maria Begonha e Joana Sá Pereira..O Grupo Parlamentar socialista pergunta ainda "quais as ações desenvolvidas ou a desenvolver pelo Ministério da Administração Interna para impedir a utilização excessiva da força contra cidadãos mais vulneráveis".