Adaptação de "Mataram a Cotovia" processada
Aaron Sorkin, autor da adaptação do romance Mataram a Cotovia para a Broadway, ter-se-á afastado demasiado do texto original sobre as relações raciais no sul dos EUA durante a Depressão, de acordo com os detentores dos direitos da obra. É este o motivo do processo judicial contra a produção da peça que chegou na terça-feira ao tribunal de Alabama.
O juiz terá de decidir se o guião escrito por Aaron Sorkin (autor do filme A Rede Social e da série de televisão West Wing, entre outros) para o produtor Scott Rudin se afasta demasiado do romance de 1960 e tem de alterar as personagens.
Nos fundamentos do processo, a representante legal do fundo que gere os direitos Mataram a Cotovia alega que várias personagens foram alteradas, nomeadamente o protagonista Atticus Finch, inicialmente retratado como sendo ingénuo em relação ao racismo.
Outra das críticas, de acordo com a Reuters, tem a ver com a forma como é descrito o local onde se passa a história de Harper Lee. Tonja B. Carter, a advogada, alega que "não apresenta um retrato correto de uma cidade pequena do Alabama nos anos 30", aproximando-a do clima que se vive hoje.
Em resposta, numa carta enviada aos detentores dos direitos de Mataram a Cotovia, a produtora liderada por Scott Rudin, Rudinplay Inc, disse a decisão final sobre o guião da peça é da sua companhia e não do fundo que gere os direitos.
Scott Rudin diz que adaptação não se afasta do espírito original, como foi acordado entre a sua produtora e os detentores dos direitos."Não posso e não apresentarei uma peça que pareça que foi escrita no ano em que o livro foi escrito em matéria de políticas raciais: não teria interesse. O mundo mudou desde então", disse o produtor numa entrevista citada pelo New York Times
A peça tem antestreia prevista para 1 de novembro, em Nova Iorque, e começa a sua carreira no dia 1 de dezembro. É uma produção da Rudinplay Inc e do Lincoln Center Theater. O ator Jeff Daniels interpretará Atticus Finch, o advogado que defende um homem negro contra uma falsa acusação de violação.
O livro, publicado em 1960, vencedor de um prémio Pulitzer em 1961 e adaptado ao cinema em 1962, é um dos mais lidos, e elogiados, da literatura anglo-saxónica. Em Portugal é editado pela Relógio d' Água.
Em 2015 foi publicado o livro Go Set a Watchman, um manuscrito anterior a Mataram a Cotovia.
Harper Lee morreu em 2016, aos 89 anos.