São os lusitanos os nossos antepassados ou na verdade aquilo que somos deve-se sobretudo aos romanos? Aos dois povos na medida em que as nossas origens étnicas mais antigas radicam sem dúvida nos lusitanos e outros grupos populacionais da chamada proto-história mas a nossa civilização radica numa base latina cuja importância foi indubitável para a constituição do que haveríamos de ser. Com efeito foi a romanização, seguida na sua última fase da cristianização, que iria moldar os antecedentes da realidade não apenas portuguesa mas também europeia..D. Afonso Henriques é mesmo o pai fundador, no sentido que sem a ambição e sem a capacidade guerreira do primeiro rei Portugal podia não existir? O facto de sermos um Estado independente com quase nove séculos de vida deve-se em grande parte à vontade e capacidade de D. Afonso Henriques querer assumir-se como criador de um reino. Temos de reconhecer que foi a sua enérgica ação política e militar que levou a que o nosso país se tivesse assumido como um Estado independente, ainda que se tenha também de admitir a evidência de que este rei contou com apoios determinantes de um escol social de nobres e clérigos interessados em assumir a emancipação de Portugal..Cristãos contra mouros. Nem sempre foi assim na Península Ibérica, pois não? De facto houve tempos de coexistência e contactos pacíficos entre cristãos e muçulmanos que permitiram trocas profícuas durante séculos, mas a verdade é ter Portugal resultado de fases decisivas do processo da Reconquista que tiveram momentos de grande violência..A Batalha de Aljubarrota é o momento-chave da história de Portugal? Esta batalha foi um dos acontecimentos mais marcantes do nosso passado pois foi a vitória aí alcançada que expressou plenamente a consciência da independência da nossa nação estando na origem do poder da "nova geração de gentes" (Fernão Lopes) protagonizado por D. João I. Foi desse novo poder que saiu a fase basilar da nossa história moderna que foi a Expansão Portuguesa pelo mundo. Esta começou a traduzir-se 30 anos depois de Aljubarrota pela conquista de Ceuta em 1415..Como explica que um país tão pequeno conseguisse descobrir meio mundo e durante quase um século dominar os mares? Tal realidade deriva essencialmente de ter havido dirigentes com grande capacidade de iniciativa e poder de organização como foram o infante D. Henrique, D. João II e D. Manuel I. Foram eles que souberam aproveitar o empenho de muitas pessoas fortemente motivadas e interessadas em obter vantagens económicas e promoções sociais, além de que souberam canalizar convenientemente meios financeiros e técnicos que permitiram aos portugueses a revelação da Terra tal como ela é. A conjuntura de paz que se viveu em Portugal a partir de 1411 e a posição estratégica do país no extremo ocidental da Europa também contribuíram para facilitar esse processo. Não fosse a Expansão e os Descobrimentos dos portugueses e estes nunca teriam assumido o papel proeminente na história universal que ocupam..Os Filipes nunca fundiram Portugal e Espanha. Mas tratavam os interesses portugueses e espanhóis de forma igual? Os interesses e direitos de Portugal foram sendo progressivamente menosprezados e desrespeitados pelos reis da dinastia filipina quer no nosso espaço continental quer no exterior, pois eles centravam o seu poder e os seus interesses em Castela. Tais realidades levaram à insatisfação crescente dos portugueses com um poder ausente e gravoso dos interesses quer da classe dirigente quer do povo. Foi esse descontentamento que levou os portugueses com força e tenacidade, sob a autoridade centrada em D. João IV, a permitir-lhes assegurar a plena recuperação de um poder próprio através da Restauração de uma independência que, embora nunca perdida, ficara afetada pelas ambiguidades surgidas da chamada monarquia dual..O que deve Portugal ao marquês de Pombal? Portugal deve ao marquês de Pombal além da decisiva reconstrução de Lisboa e outras partes do país depois do terramoto de 1755 o reforço do poder do Estado através de uma restruturação renovada da organização política, social e económica do país que permitiu a Portugal preparar-se para as alterações que viriam a ocorrer com as transformações decorrentes do liberalismo..A monarquia constitucional nascida em 1820 pode ser vista como a base da atual democracia portuguesa? Sim porque foi a partir da Revolução de 1820, a qual iniciou a monarquia constitucional, que se implementou a exigência de liberdade e a divisão dos poderes, realidades que passaram a ser defendidas e praticadas tendo ficado expressas em constituições. Apesar de todas as vicissitudes por que o liberalismo passou desde então ele ficou a ser a base institucional dos valores e práticas que vieram a consolidar-se depois do 25 de Abril de 1974 na nossa democracia..É biógrafo de Afonso de Albuquerque e de Fernão de Magalhães. Se tivesse de eleger o maior dos portugueses iria para um navegador ou para um rei? Ainda que tenha de reconhecer haver um elevado grau de subjetivismo ao tentar responder a esta delicada questão e reconhecendo o papel das referidas figuras cimeiras do nosso passado eu elegia um governante que por vezes é algo esquecido ou menosprezado: o rei D. Manuel I. Tal opção resulta do facto de ele ter sido o primeiro governante na história da humanidade a assumir um poder à escala global pois teve uma capacidade de interferência em toda a terra que ia desde o Brasil à China. Ele simbolizou assim o culminar de ações de grandes portugueses que o antecederam como foram o infante D. Henrique e D. João II ao ter permitido o sucesso dos grandes descobridores do seu tempo que comandou com destaque para figuras como Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral, cujas realizações fundamentais nos Descobrimentos foram por ele determinadas, bem como de governantes da dimensão de D. Francisco de Almeida e de Afonso de Albuquerque..Quer destacar uma mulher na história de Portugal? É muito difícil escolher o nome de uma mulher, tantas foram aquelas que desempenharam ações de relevo na nossa história. Ainda assim acabo por realçar a rainha D. Leonor, mulher de D. João II e irmã de D. Manuel, não apenas pela sua ação social e de assistência na criação em 1498 de uma instituição tão importante como é a das Misericórdias, mas também por ter assumido importantes atitudes políticas de grande alcance além de um relevante mecenato cultural e artístico.