Veio a Lisboa lançar a campanha “Outono Mágico no Vale do Ambroz”. Pode explicar o que há de mágico no outono do vale do Ambroz?A verdade é que não estamos no norte de Espanha, como na Galiza ou nas Astúrias, e não se espera, portanto, tanta exuberância da natureza. E não é só exuberância, como também se vê no outono as diferentes árvores com todas as cores. Como estamos numa zona com muitas encostas, com muitas montanhas, vemos como as folhas mudam a cada altitude e se misturam, entrelaçando muitas cores, o violeta, o vermelho, o amarelo, o laranja, que formam uma paleta de cores que é o que sempre nos dizem que parece magia. Parece verdadeira magia terem sido ali colocadas, parece que estão ali especificamente para estimular o visitante. É isso que torna mágico o Vale do Ambroz. . Estamos a falar de um vale de natureza protegida, de bosques de montanha repletos de castanheiros?Muitos castanheiros, sim. Também muitas azinheiras, e também carvalhos, mas acima de tudo, castanheiros. Temos muitos castanheiros. Acredito que o castanheiro é um símbolo da nossa identidade, assim como a castanha, que é um dos alimentos que é também a imagem de marca do Vale do Ambroz, juntamente com os cogumelos.O Vale do Ambroz é uma região situada no extremo norte da Extremadura, na província de Cáceres. De quantas pessoas e de quantos municípios estamos a falar?Estamos a falar de oito municípios, oito municípios com quase 8000 habitantes. É muito pequeno o território e todos os municípios são muito próximos. Assim, além disso, se tivermos em conta que o município principal, que é Hervás, tem 4000 habitantes, os outros sete juntos têm outros 4000. Estamos a falar de municípios muito pequenos, com pessoas muito acolhedoras e um ambiente muito acolhedor. Penso que o facto de serem localidades tão pequenas é o que contribui para a nossa atmosfera acolhedora. E estamos muito habituados a receber turistas.Para além da natureza, o que mais há para visitar no Vale do Ambroz? Possui um rico património arquitetónico?Temos muito património arquitectónico. Temos um município chamado Abadía, que tem um convento, um palácio, um palácio renascentista. Em Hervás, por exemplo, temos o bairro judeu, um dos bairros judeus mais importantes e mais bem preservados de toda a Europa. Temos ainda o Castanhal Galego em Hervás, uma floresta onde predominam os castanheiros, extraordinária e de grande beleza. Em Baños de Montemayor, temos a calçada romana que partilhamos com Aldeanueva del Camino, outro município do Vale do Ambroz. E em Baños, temos as águas termais dos nossos banhos romanos, que também são muito populares, por serem uma das principais termas de Espanha. Em La Garganta, temos o município mais alto, o mais frio, mas com as melhores vistas. Existe uma grande história em torno do lobo, com o Curral dos Lobos, o Centro de Interpretação do Lobo, etc. Temos ainda Segura de Toro, Gargantilla e Casas del Monte, zonas situadas nas encostas das montanhas, que oferecem também vistas e natureza extraordinárias. Recordo que praticamente toda a região norte está protegida pela Rede Natura Europeia, com muitas áreas de floresta, zonas de proteção especial para as aves. Ou seja, a flora e a fauna são extraordinárias. No outono, é ainda mais pronunciado. .Estamos a falar de montanhas de altitude?Bem, em redor de Hervás, podemos ultrapassar os 1800 metros de altitude, até ao ponto mais alto. E em La Garganta também. Aliás, La Garganta é uma das vilas mais altas de toda a província de Cáceres. A província de Cáceres tem 224 municípios, sendo o segundo mais alto La Garganta, a aproximadamente 1100 metros de altitude.Falemos de Baños de Montemayor, onde foi presidente da Câmara. Este município é especialmente icónico pelos seus banhos romanosDe facto. Fui presidente da Câmara desde 2011 até há apenas três meses. Sou autarca há 14 anos, e este é um concelho totalmente com vocação para o turismo. Vivemos sobretudo do turismo. O turismo sempre esteve ligado à saúde, porque temos água, neste caso um spa de banhos romanos, com águas sulfurosas já descobertas pelos romanos, e estamos a explorar isso. E isso significa que muitas pessoas vêm aqui durante todo o ano em busca de saúde. Vendemos turismo de saúde. E, obviamente, nos últimos dez anos, mais ou menos, também nos temos promovido como um destino natural. É exatamente aqui que acontece o outono mágico, neste destino natural. O que oferecemos é: venha a Baños, relaxe o corpo no spa e relaxe a mente nos banhos de floresta e nas caminhadas pelas montanhas em Baños de Montemayor e no Vale do Ambroz. Somos um destino, acima de tudo, para a saúde — tanto física como mental.Tendo em conta a sua experiência como autarca, como é a vida quotidiana nestes municípios muito distantes de Madrid, longe mesmo dos grandes centros urbanos estremenhos, como Cáceres, Badajoz ou Mérida? Falamos muito sobre o custo da interioridade em Portugal. Sente-se muito ali também ? A vida é difícil nestes municípios do Vale do Ambroz?Cada vez menos, cada vez menos. É certo que houve, sobretudo nas décadas de 1950 e 1960, um grande êxodo para Madrid, o que fez com que as vilas começassem a esvaziar-se. Mas, acima de tudo, as novas tecnologias estão a trazer as pessoas de volta. Muitas pessoas trabalham agora online, não precisam de estar em grandes cidades e preferem procurar zonas menos movimentadas. Zonas com um ambiente rico, com ar puro e céu estrelado. É majestoso sair à varanda e ver o céu estrelado que temos nas nossas zonas precisamente por causa da ausência de aglomeração. Por isso, cada vez mais jovens optam por ficar nas suas cidades. Também implementámos políticas para tentar garantir que se mantêm. E acredito que, felizmente, estamos numa era tecnológica que nos poderá beneficiar, tendo em conta que as comunicações rodoviárias também estão a melhorar. É certo que talvez não existam, em pequenas vilas com 700 habitantes, nem um grande cinema, ou um grande teatro ou um grande centro comercial. Mas estamos a falar de estradas que permitem chegar a outra cidade que as tenha em apenas 20 minutos, ou até menos, 10 minutos. Tenho a certeza que, numa grande cidade, uma pessoa que sai de casa e vai a um centro comercial só para ir buscar o carro e lá chegar demora mais do que esses 10 a 15 minutos. E não temos problemas de estacionamento, não temos problemas de comunicação, por isso talvez não tenhamos acesso no nosso município, mas em termos de tempo, conseguimos ver uma peça de teatro, um filme ou um centro comercial mais depressa do que alguém que vive na cidade. Então, vendemos qualidade de vida, e cada vez mais jovens estão a ter acesso a ela. . Agora a pergunta é de novo para o diretor-geral de turismo. Muitas portugueses conhecem já a Extremadura, mas muitos ainda só passam por ela para ir a Madrid. Se lhe pedisse motivos para visitar a Extremadura, além, claro, do Vale do Ambroz, o que diria?Temos agora um lema chamado “Extremadura Extraordinária”. É mais ou menos assim: venha à Extremadura e deixe-se surpreender, porque vai encontrar coisas que nem imaginava. Encontrará céus extraordinariamente limpos. Encontrará montanhas verdejantes. Encontrará lençóis de água. É verdade que muitas pessoas em Espanha acham a Extremadura muito seca. Mas dois grandes rios, o Tejo e o Guadiana, atravessam a Extremadura, proporcionando-nos a maior reserva hídrica de toda a Espanha. Ou seja, a região com maior reserva hídrica é a da Extremadura. E também temos praias. Bem, pergunta-me, como é possível que existam praias na Extremadura? Existem praias fluviais na Extremadura. Temos sete bandeiras azuis. O que as bandeiras azuis significam é que a água é de excelente qualidade, que estamos a trabalhar para garantir a acessibilidade para que as pessoas possam aceder facilmente e que temos nadadores-salvadores para proteger quem quiser ir a estas praias. E temos sete bandeiras azuis, 40% das bandeiras do interior. As bandeiras azuis do interior estão na Extremadura. Ou seja, temos montanhas, temos água, temos parques nacionais extraordinários como o Parque Nacional de Monfragüe, geoparques históricos de tremenda importância nacional, como o Geoparque de Villuercas-Iboles-Jara. Temos sítios históricos tartéssicos. A National Geographic classificou uma descoberta que fizemos em Turuñuelo, num sítio tartéssico, como uma das mais importantes dos últimos anos, porque encontrámos rostos humanos dos tartéssios que nunca tinham sido encontrados antes. Poderíamos falar de Património Mundial da UNESCO, como Mérida, que é uma ode à arquitetura romana, como o mosteiro de Guadalupe, que é uma pérola arquitetónica, ou como Cáceres. E temos Badajoz, Plasencia ou Trujillo. Trujillo é uma verdadeira joia. É uma cidade pequena, com pouco menos de 10000 habitantes, mas tem uma grande história. E também somos o berço de descobridores, não é verdade? Pizarro, Hernando de Soto, Cortés — todos partiram da Extremadura. Acredito que somos um povo conquistador, que gosta de partir e depois regressar à sua terra natal, trazendo consigo tudo o que encontrou pelo caminho. Acredito que quem vier se surpreenderá; acima de tudo, incentivo-os a vir porque ficarão surpreendidos com o que encontrarão na Extremadura. .O que distingue a Extremadura na gastronomia?Ora, a nossa gastronomia caracteriza-se pela naturalidade, pelos produtos zero quilómetros, como a carne zero quilómetros. De facto, já temos várias estrelas Michelin, neste caso dois restaurantes com estrela Michelin, mas também temos uma estrela Michelin verde, o que significa que valoriza quem não só oferece qualidade, mas também trabalha pela economia circular, por não gerar resíduos, pela carne zero quilómetros. Temos carne zero quilómetros, temos uma grande despensa, uma das principais despensas de Espanha, temos o montado, o presunto ibérico da Extremadura é um dos mais procurados, temos cordeiro, o cordeiro tem denominação de origem, e se falamos de denominações de origem, temos a torta del Casar, o queijo de la Serena, temos o azeite de Monterrubio, o azeite Gata-Hurdes , o mel de Villuercas-Ibores, a picota do Jerte, a famosa cereja do Jerte, que é também uma grande embaixadora da nossa terra.E no Vale do Ambroz, o que se come?Há um prato emblemático. O zorongollo, que é uma salada de pimentos, tomates, cebola, alho e ovos cozidos. o borrego é também muito típico da nossa região, zona zero quilómetros. Há muitos estabelecimentos que o preparam, e agora, nesta altura do ano, especialmente os guisados de castanha e, especialmente, os cogumelos boletos. Quando começar a chover, certamente daqui a poucas semanas, as pessoas vão começar a sair para comprar cogumelos, que devem ser de uma qualidade extraordinária. Vêm de toda a Espanha para colher os boletos colhidos no Vale do Ambroz. O que recomendaria numa refeição? Bem, uma entrada com zorongollo; como prato principal, cordeiro quilómetro zero, e como sobremesa, alguma sobremesa com castanhas. As sobremesas com castanhas também estão a tornar-se cada vez mais populares e são muito apreciadas. .“As gentes de Mérida depositam muito amor no Festival de Teatro Clássico”."Gastronomia da Extremadura é parecida com a do Alentejo mas sem os coentros"