O chef Alcocer com Frank Sosa Candila, no jardim da embaixada do México
O chef Alcocer com Frank Sosa Candila, no jardim da embaixada do MéxicoPaulo Spranger

"A cochinita pibil é o símbolo da gastronomia do Yucatán. Remonta às tradições maias"

Coube ao 'chef' José Luis Alcocer preparar em Lisboa a versão mais autêntica do prato mexicano que traduzido é "porquinho ao buraco". Teve inclusive de apaziguar as divindades do Xibalba, o submundo.
Publicado a
Atualizado a

Qual a importância da cochinita pibil para a gastronomia do Yucatán? Existe há muitos séculos?

A cochinita pibil é o símbolo da gastronomia do Yucatán. A sua história, cultura, tradição e património cultural remontam aos tempos áureos dos maias, quando preparavam os seus guisados ​​com urucum e de forma "enterrada". Não era propriamente cozinhada com carne de porco, uma vez que a carne de porco foi introduzida pelos espanhóis durante a colonização, mas já era consumida com carne de veado, faisão e peixe.

Pela primeira vez, foi feita em Portugal uma cochinita pibil 100% autêntica, "enterrada" no jardim da embaixada mexicana em Lisboa. Como surgiu a ideia?

Como yucatecos, orgulhamo-nos da nossa gastronomia e queremos sempre partilhá-la com o mundo. Acreditamos que todos no planeta deveriam experimentar as iguarias do povo maia pelo menos uma vez na vida. A ideia de trazer a cochinita "enterrada" para Portugal surgiu de conversas com o embaixador Bruno Figueroa, a sua querida esposa Verónica e o nosso presidente da FEDETUR, a federação de turismo do Yucatán, Frank Sosa Candila. A oportunidade de oferecer esta experiência culinária autêntica e única em solo português e europeu pela primeira vez fascinou-os desde o início. A excitação foi tão grande que a notícia foi partilhada com outras cidades portuguesas. Estamos a planear um festival gastronómico e cultural na cidade da Guarda em maio de 2026, em conjunto com o Instituto Politécnico da Guarda e a embaixada.

Como referiu, antes de os espanhóis introduzirem a carne de porco no México, no século XVI, já se cozinhava carne "enterrada" ou "ao buraco". Eram sobretudo aves?

Utilizávamos aves como o faisão, também o veado, o tatu e ainda o peixe, de forma requintada, com todos os ingredientes que a natureza nos forneceu.

Como surgiu a designação "Príncipe Maia", de que tanto se orgulha?

O nome "Príncipe Maia" foi criado para homenagear os nossos guerreiros maias. Poucos de nós ainda preservamos os métodos ancestrais de cozinhar com fumo, lenha e fogo.

A cochinita a ser desenterrada pelo chef Alcocer em Lisboa
A cochinita a ser desenterrada pelo chef Alcocer em LisboaPaulo Spranger

Como foi tornar-se um cozinheiro tradicional e mestre pibil?

Foi um longo percurso que remonta à infância, herdado da minha mãe, com quem aprendi o amor pela minha cultura e tradições. Senti a necessidade de aprender mais todos os dias e de divulgar este ensinamento e partilhá-lo com as pessoas e com o mundo.

O chef Alcocer com o embaixador Bruno Figueroa e a embaixatriz Veronica González Laporte
O chef Alcocer com o embaixador Bruno Figueroa e a embaixatriz Veronica González LaportePaulo Spranger

Qual é o segredo do sabor tão apreciado da cochinita pibil? A marinada prévia, com ingredientes yucatecos e especiarias como a canela e a pimenta, ou a cozedura lenta, com pedras aquecidas por lenha, durante umas 12 horas, debaixo de terra?

É tudo. A terra, a lenha, a pedra, o calor, o urucum e os seus temperos, equilibrados de forma sagrada e feitos com todo o amor de um mestre pibil e no tempo perfeito. Tudo isto faz deste guisado um dos pratos mais procurados em todo o mundo. São sabores místicos procurados por um "Príncipe Maia" que nasceu da representação yucateca de um jovem que queria ser um peregrino da sua cultura, história e gastronomia.

O chef Alcocer com Frank Sosa Candila, no jardim da embaixada do México
Uma cochinita pibil 100% autêntica feita pela primeira vez em Portugal
O chef Alcocer com Frank Sosa Candila, no jardim da embaixada do México
"Além da beleza do palácio, o que tem de especial esta embaixada do México é que todos a conhecem por fora"

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt