Vacinação. Direita parlamentar começa a pedir a cabeça do líder da task force

O plano nacional de vacinação contra a covid-19 está-se a revelar uma enorme dor de cabeça para o Governo. O PSD quer o coordenador da task force a dar esclarecimentos no Parlamento. Sociais-democratas querem que a lista de deputados a vacinar fique "minimal".

Vão-se somando os problemas para o primeiro-ministro na gestão da crise pandémica. Agora é todo o plano de vacinação que está envolvido em sucessivas polémicas.

Por um lado, vão-se multiplicando notícias dando conta de vacinações indevidas feitas na base do amiguismo. Aos casos denunciados na Segurança Social de Setúbal e do INEM do Porto acrescentaram-se suspeitas de casos parecidos em Portimão, Vila Nova de Famalicão, Arcos de Valdevez, Bragança, Seixal e Montijo.

Em relação a todos estes casos o Ministério Público abriu inquérito - serão nove ao todo, para já. O secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, reafirmou no Algarve que haverá "tolerância zero" para vacinações indevidas. No domingo, o ministério da Saúde já havia afirmado, em comunicado, ser "inaceitável" qualquer utilização indevida de vacinas contra a covid-19, alertando que este ato pode ser "criminalmente punível". "A utilização indevida das vacinas contra a covid-19 pode constituir conduta disciplinar e criminalmente punível, em face da factualidade concreta que venha a apurar-se em sede de inquérito", lia-se no comunicado governamental.

Francisco Ramos, o ex-secretário de Estado da Saúde que agora coordena a task force do plano de vacinação contra a covid-19, colocou-se na mira da direita parlamentar quando disse que punir não vacinando na segunda toma os que se vacinaram indevidamente com a primeira era uma ideia própria do "espírito vingativo" dos eleitores de André Ventura nas presidenciais. Ao mesmo tempo, tem insistido sempre que não pertence à sua task force a tarefa de controlar "batoteiros" - só a de fazer a administração geral do plano de vacinação.

PSD pressiona

Seja como for, a frase referindo os eleitores de Ventura e os casos de vacinação indevida colocaram Francisco Ramos na mira da oposição parlamentar. O Chega pediu explicitamente a sua demissão. A JP (organização de juventude do CDS-PP) também. A Iniciativa Liberal sugeriu-a, desafiando o primeiro-ministro a assumir as suas responsabilidades na "gestão calamitosa do plano de vacinação". Já o PSD recordou que está aprovado desde dezembro um requerimento defendendo audições regulares Francisco Ramos à comissão de Saúde - audições que nunca ocorreram. "Apesar de, na aprovação (por unanimidade) do requerimento, se ter flexibilizado a periodicidade destas audições, facto é que estamos em fevereiro e, apesar da solicitação expressa do PSD para agendamento esta semana, ainda não há data para que Francisco Ramos possa prestar esclarecimentos sobre o que está a acontecer, numa altura em que várias notícias dão conta de abusos na vacinação contra a covid-19, como é do conhecimento de todos", disseram os sociais-democratas, em comunicado.

Guerra prossegue na AR

Entretanto, continuava ontem a guerra do PSD com o presidente da Assembleia da República sobre a lista de deputados a vacinar.

Depois de obtida na conferência de líder carta branca dos partidos para fazer a lista, Ferro Rodrigues fez uma, com 50 nomes, que enviou para o primeiro-ministro. A lista era composta pelos membros da mesa da AR, mais os presidentes de comissões parlamentares e ainda os membros da Comissão Permanente (o órgão que substitui o plenário nas férias do verão), bem como os líderes parlamentares.

A seguir, o PSD queixou-se de que essa lista foi mandada para o primeiro-ministro sem autorização do partido. Nela constavam 19 parlamentares sociais-democratas - e o partido mandou retirar 12 nomes, entre os quais o de Rui Rio. A lista encolheu para 38 a nomes. Mas ontem à noite o PSD voltou à carga solicitando a Ferro "a anulação imediata da lista de deputados prioritários para a vacinação precipitadamente" enviada ao primeiro-ministro. O PSD quer "um consenso com os outros grupos parlamentares e de forma ponderada, elaborar uma lista minimalista". À hora do fecho desta edição o presidente da AR ainda não tinha respondido.

Entretanto, dois deputados do PS - Sérgio Sousa Pinto e Marcos Perestrello, ambos presidentes de comissões (respetivamente Negócios Estrangeiros e Defesa) - pediram também para não serem incluídos na lista, razão pela qual ela voltou a encolher, agora para 36 nomes (ver no fim).

A notícia foi conhecida ontem mas já no sábado Sousa Pinto avisava, no Facebook. "A minha decisão, há muito tomada, não se confundirá com a vozearia da praxe contra os titulares do poder político democrático, torrencial nas redes sociais."

Ao mesmo tempo dizia que não aceitava divisões entre deputados essenciais e não-essenciais porque "todos os deputados são igualmente depositários da soberania nacional, que é incindível".

Deputados a vacinar

A princípio, a lista que Ferro Rodrigues fez tinha 50 nomes. Somadas as recusas, está em 36.

Eduardo Ferro Rodrigues (presidente da Assembleia da República, PS)

Edite Estrela (vice-presidente da Assembleia da República, PS)

António Filipe (vice-presidente da Assembleia da República, PCP)

Ana Catarina Mendes (presidente do grupo parlamentar do PS)

Telmo Correia (presidente do grupo parlamentar do CDS)

José Luís Ferreira (presidente de grupo parlamentar do PEV)

Joacine Katar Moreira (Deputada não-inscrita, ex-Livre)

Luís Capoulas Santos (presidente de comissão parlamentar, PS)

Filipe Neto Brandão (presidente de comissão parlamentar, PS)

António Topa (presidente de comissão parlamentar, PSD)

Pedro do Carmo (presidente de comissão parlamentar, PS)

Maria Antónia Almeida Santos (presidente de comissão parlamentar, PS)

Ana Paula Vitorino (presidente de comissão parlamentar, PS)

Fernando Ruas (presidente de comissão parlamentar, PSD)

Jorge Lacão (presidente de comissão parlamenta, PS)

Luís Moreira Testa (presidente de comissão parlamentar, PS)

Euridice Pereira (presidente do Conselho de Administração, PS)

Maria da Luz Rosinha (secretária da Mesa, PS)

Duarte Pacheco (secretário da Mesa, PSD)

Ana Mesquita (secretária da Mesa (PCP)

Diogo Leão (vice-secretário da Mesa, PS)

Sofia Araújo (vice-secretária da Mesa, PS)

Lina Lopes (vice-secretária da Mesa, PSD)

Carlos Pereira (membro da Comissão Permanente, PS)

Constança Urbano de Sousa (membro da Comissão Permanente, PS)

Hortense Martins (membro da Comissão Permanente, PS)

Hugo Pires (membro da Comissão Permanente, PS)

João Paulo Correia (membro da Comissão Permanente, PS)

José Luís Carneiro (membro da Comissão Permanente, PS)

Lara Martinho (membro da Comissão Permanente, PS)

Maria Begonha (membro da Comissão Permanente, PS)

Pedro Delgado Alves (membro da Comissão Permanente, PS)

Porfírio Silva (membro da Comissão Permanente, PS)

António Maló de Abreu (membro da Comissão Permanente, PSD)

Carlos Peixoto (membro da Comissão Permanente, PSD)

Isabel Meireles (membro da Comissão Permanente, PSD)

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