Portugal é o país da Europa Ocidental com mais mortes por atropelamento por milhão de habitantes e Lisboa é a cidade com mais sinistralidade pedonal no país, segundo um levantamento feito pelo Automóvel Clube de Portugal (ACP), em 2019 e que será o mais recente trabalho sobre o tema. Análise que concluiu que um quarto do total nacional das vítimas mortais acontecem na capital..Já de acordo com dados nacionais, da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), dos cerca de 25 mil peões atropelados em Portugal entre 2018 e 2022, 527 morreram e cerca de dois mil ficaram feridos. Mais recentemente, e segundo o relatório Sinistralidade 24 horas fiscalização rodoviária relativo aos primeiros seis meses deste ano, e também da responsabilidade da ANSR, do total de vítimas mortais em acidentes rodoviários, 15,4% eram peões..O mesmo relatório diz ainda que no primeiro semestre de 2024, as mortes por atropelamento em todo o território nacional diminuíram 5,7% face a 2019 (o ano considerado de referência). Entretanto, contactada pelo DN, com vista a apurar os dados relativos à cidade de Lisboa, a ANSR não respondeu em tempo útil..Regressando ao comparativo europeu, Portugal ocupa a sexta posição entre os 27 estados-membros da União Europeia (UE). Apesar da elevada sinistralidade, o país conseguiu reduzir o número de mortes de peões nos últimos 12 anos, tendo passado das 90 mortes por milhão de habitantes em 2010, para 60, em 2022..Os dados são do Tribunal de Contas Europeu (ECA - European Court Auditor), que classifica o flagelo dos atropelamentos como uma causa frequente de morte prematura em toda a UE, e que revela que 47% das mortes nas estradas referem-se a utentes mais vulneráveis, como peões (18%), ciclistas (9%) e motociclistas (19%)..Zonas mais perigosas mudam pouco.Não obstante a sinistralidade pedonal ser transversal a todo o território nacional, o levantamento do ACP revelava que 80% dos atropelamentos acontecem dentro das localidades, cerca de um quarto do total nacional sucede em Lisboa, e 40% nas passadeiras. Na altura, o mesmo estudo apontava a Av. Almirante Reis como a via com maior número de atropelamentos na capital, seguida da zona junto à Universidade de Lisboa (perto do Campo Grande), além de 34 pontos críticos noutras zonas da cidade..No entanto, quando analisados os dados sobre as vítimas mortais, o relatório do ACP cita dados da ANSR do período entre 2010 e 2016, que demonstram que as zonas mais mortíferas eram Alvalade e Olivais, seguidas de perto por Avenidas Novas e Benfica. Já na altura, as avenidas das Forças Armadas e dos Estados Unidos da América apresentavam números de atropelamentos mortais preocupantes, mas, segundo relatos de moradores da zona, citados por vários meios de comunicação social mais recentemente, nada foi feito para evitar o perigo. A comprová-lo, as duas mortes - de um jovem de 21 anos e de um homem de 40 - que, em apenas 15 dias trouxeram o problema da falta de segurança pedonal e rodoviária em Lisboa de volta à atualidade..A inexistência de dados atualizados da Câmara Municipal de Lisboa (CML) e da ANSR sobre os “pontos negros” da cidade, não permite tirar grandes conclusões. No entanto, na pesquisa feita pelo DN, conclui-se que esta zona é, desde há décadas, uma das que apresenta maior sinistralidade com peões, de acordo com várias notícias publicadas ao longo dos anos..Aliás, o eixo entre Alvalade e estas duas avenidas já tinha motivado a criação de uma petição, em 2023, que atualmente conta com 2789 assinaturas, que chegou à Assembleia Municipal de Lisboa no início deste ano. A preocupação dos signatários pedia à autarquia que tomasse medidas urgentes no sentido evitar a elevada sinistralidade..Para já, ainda não há ações concretas, mas a CML anunciou, no início deste mês, “um conjunto de medidas de acalmia de tráfego para toda a extensão do eixo viário constituído pela Avenida das Forças Armadas e a Avenida dos Estados Unidos da América”. O vice-presidente da CML, Filipe Anacoreta Correia, revelou na comissão da Assembleia Municipal que trata dos temas relacionados com a mobilidade que a autarquia ainda está a trabalhar no projeto que contará com o reforço da sinalização horizontal e vertical e do sistema de semáforos (com a inclusão de câmaras), e aumento dos corredores BUS. Adicionalmente, a CML confirma a intenção de reduzir a velocidade máxima em ambas as avenidas - de 50 para 40 km/hora - e de introduzir mais radares de controlo de velocidade..O Plano para a redução de atropelamentos na cidade de Lisboa, elaborado pelo ACP em 2019, contava com um conjunto de soluções para o problema que, até hoje continuam na gaveta. Ao todo, o estudo apresenta 28 medidas de implementação simples - como a alteração da sinalização, por exemplo -, e alguns cenários propostos em eixos específicos da cidade. Contudo, a falta de informação mais recente e a identificação dos “pontos negros” atuais, parece contribuir para a inércia que bloqueia a mudança. Quantas mais vítimas mortais serão necessárias para motivar uma mudança mais abrangente?