"Já não é mais possível manter a situação dos professores em monodocência inalterada”. O desabafo é de Paula Gomes, do Movimento de Professores em Monodocência e prende-se com vários problemas que, segundo conta, afetam os educadores de infância e professores de 1.º ciclo. “Deveríamos ter os mesmos 1100 minutos e as respetivas reduções por idade e tempo de serviço, como acontece com os colegas dos 2.º, 3.º e secundário”, explica. A responsável defende também uma “aposentação diferenciada mantendo a carga letiva até uma determinada idade”. “Existem várias soluções possíveis que estamos disponíveis para as apresentar de forma fundamentada. O que realmente importa sublinhar é que são necessárias mudanças”, sublinha. Opinião partilhada por Alberto Veronesi, professor de 1.º ciclo e diretor do Agrupamento de Escolas de Santa Maria dos Olivais, em Lisboa, acrescentando que os horários não são lesivos apenas para os professores. “São sobretudo para os alunos. Os alunos entre os 3 e os 10 anos têm uma carga letiva superior aos dos restantes ciclos e isso, como sabemos não é benéfico do ponto de vista do seu saudável desenvolvimento”, refere. Por isso, o diretor escolar defende a necessidade de “equiparar o horário dos professores e passar dos atuais 1500 minutos para os 1100 dos seus colegas dos outros ciclos”. Alberto Veronesi também quer mudanças na aposentação, “mantendo a carga letiva até uma determinada idade”. “Manter o atual sistema é que já não é possível. É manter uma injustiça já com anos a mais”, salienta.62% dos educadores de infância reformam-se até 2030Segundo o Estudo de diagnóstico de necessidades docentes de 2021 a 2030, da Nova SBE, mais de metade dos educadores vai aposentar-se até 2030. Uma realidade que preocupa o MPM, afirmando que “o próprio secretário de Estado da Administração e Inovação Educativa refere a existência de dificuldades graves a nível de contratação de docentes do 1.º ciclo do ensino básico”. “Acresce que o governo manifestou intenção de abrir a breve prazo mais 19.600 lugares para todas as crianças de 3 anos que continuam sem acesso à educação pré-escolar e alargar (na verdade criar, porque nem sequer existe uma rede pública de creches) a rede de oferta de creches”, acrescenta Paula Gomes. A responsável acredita que haverá “a muito curto prazo falta destes docentes “porque se poucos há que queiram ser professores, menos ainda há quem queira ser professor em monodocência”. Por isso, diz, “só há dois caminhos, ou se altera estruturalmente a situação dos professores em monodocência, ou não restará outra alternativa ao Governo senão manter e intensificar a contratação de técnicos, especializados ou não, ou de pessoas com pouca ou nenhuma formação”.Petição contra calendário escolar diferenciadoO MPM criou a petição “Contra a proposta de um calendário escolar diferenciado. A favor de um calendário que respeite TODOS!”, em junho, tendo já sido submetida no site da Assembleia da República. “Foi criada para reverter a injustiça que se instalou durante a pandemia, justificada por necessidades sociais e não por razões pedagógicas. Dada a ausência de fundamentos pedagógicos, que elencamos na petição, não poderíamos de forma alguma deixar passar em branco”, avança Paula Gomes. A responsável justifica a necessidade de alterações no calendário escolar do 1.º ciclo com as orientações da OCDE. “Segundo a OCDE (Education at a Glance 2019), Portugal é o país da Europa em que as crianças mais novas (que frequentam as creches, educação pré-escolar e 1.º ciclo do ensino básico passam mais tempo na escola. Portanto, a resposta não é, não pode, não deve ser, o alargamento do horário de funcionamento das escolas, a manutenção da já excessiva permanência das crianças mais novas na escola”, afirma. Para a docente, o calendário alargado “não contempla o superior interesse da criança, nem do ponto de vista das suas aprendizagens (e, portanto, pedagógico), nem do ponto de vista dos pais que querem assumir a sua função de pais”. Os professores também sofrem consequências, com “impacto muito negativo na sua saúde mental”. “O prolongamento do calendário escolar promove o desgaste emocional e contribui para o aumento dos casos de burnout entre a classe docente”, afirma.Recorde-se que o Ministério da Educação Ciência e Inovação aprovou um calendário escolar para este ano letivo e os próximos três. Para os alunos de 1.º ciclo, os anos letivos são sempre mais extensos, com término em finais de junho (27 de junho, em 2025, e 30 de junho nos anos de 2026, 2027 e 2028). Os alunos de 2.º ciclo, 3.º ciclo e Secundário (exceto 9.º, 11.º e 12.º anos, sujeitos a exame) acabarão as aulas mais de duas semanas antes dos alunos de 1.º ciclo. Provas ModA: tudo o que precisa de saberO que são as provas ModA?As Provas de Monitorização da Aprendizagem (ModA) vêm substituir as anteriores provas de Aferição e têm como objetivo aferir os conhecimentos dos alunos em finais de ciclo. Estas novas avaliações externas têm estreia marcada para maio e são obrigatórias para todos os alunos do 4.º e do 6.º ano. Não contam para nota, mas ao contrário das suas antecessoras, terão uma classificação quantitativa.Os alunos realizam as provas ModA esta semana?Não, entre hoje e o dia 28 de fevereiro, realizam-se provas-ensaio para, segundo o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI), “preparar todos os alunos para a avaliação digital, de forma a que estejam em situação de equidade no que diz respeito à sua proficiência na utilização da plataforma de realização de provas”.Qual é a estrutura das provas-ensaio?As provas terão vários itens de seleção, classificadas automaticamente, e também um item de construção. Esse será corrigido por um professor da escola onde o aluno realiza a prova. Os ‘testes’ têm a duração de 45 minutos.As classificações das provas-ensaio vão contar para nota?As escolas podem optar por utilizar o resultado das provas-ensaio com ponderação para a nota do 2.º período, pois os resultados serão publicados até ao final de março. A decisão cabe a cada um dos agrupamentos escolares.Quem vai fazer as provas ModA?Os alunos de 4.º e 6.º ano farão as provas ModA e os de 9.º ano continuam a ter uma prova final de Matemática e Português. A novidade para estes últimos é que os exames serão feitos, pela primeira vez, de forma totalmente digital. Todos os alunos farão, a partir de hoje, as provas-ensaio.Qual é o calendário das provas-ensaio e das provas definitivas?Esta semana, entre hoje e sexta-feira, realizam-se as provas de Português para todos os alunos (4.º, 6.º e 9.º anos). Na próxima semana têm lugar as provas de Inglês, para o 4.º e História e Geografia de Portugal, para o 6.º ano. Na última semana do mês testam-se os conhecimentos de Matemática, Estudo do Meio e de Ciências para todos os alunos do 4.º, do 6.º e do 9.º ano. As provas finais a valer realizam-se no final de junho para os alunos de 9.º ano. Os restantes, entre os dias 20 de maio e 5 de junho. Estas provas MoDa não contam para nota.