Prisão preventiva para dois suspeitos do ataque a autocarro em Loures
Dois dos três suspeitos detidos pela PJ na quarta-feira ficam em prisão preventiva, foi hoje decidido pelo Tribunal de Loures.
Os dois suspeitos com a medida de coação mais gravosa estão acusados do crime de homicídio qualificado na forma tentada do motorista do autocarro incendiado em Santo António dos Cavaleiros, em Loures, na sequência dos tumultos que se registaram na Grande Lisboa em outubro.
A PJ informa que os dois suspeitos de estarem envolvidos no ataque ao autocarro ficaram em prisão preventiva, estando "indiciados pelos crimes de homicídio qualificado na forma tentada, incêndio e dano, praticados na noite do passado dia 24 de outubro”.
"Em causa está o ataque com engenhos incendiários que, a 24 de outubro, destruiu por completo um autocarro da Carris Metropolitana, deixando em perigo de vida o seu motorista e provocando-lhe sequelas permanentes", refere a Polícia Judiciária em comunicado.
Na nota, a PJ indica que durante as diligências, realizadas na quarta-feira, "foram recolhidos elementos de prova como telemóveis e peças de roupa que os suspeitos terão usado na noite dos factos", dando ainda nota que as "investigações prosseguem".
Na quarta-feira, a PJ deu cumprimento de oito mandados de busca numa operação policial, realizada em Santo António dos Cavaleiros, para deter os responsáveis pelo incêndio do autocarro, que deixou o motorista gravemente ferido. Foram detidas três pessoas.
O processo, que culminou na detenção destas pessoas, foi conduzido pela brigada de homicídios da PJ da diretoria de Lisboa - a mesma responsável pela investigação à morte de Odair Moniz, após ter sido baleado por um agente da PSP no bairro da Cova da Moura, na Amadora, que desencadeou vários distúrbios na Área Metropolitana de Lisboa.
O DN sabe que foi dada ordem para que o inquérito tenha um caráter prioritário, seguindo a mesma linha que foi atribuída pelo Procurador-Geral da República, Amadeu Guerra, no caso de Odair Moniz. A investigação ainda vai continuar para identificar e levar à justiça mais suspeitos deste processo.
"Espero que as pessoas que me atacaram sejam condenadas, presas e paguem uma indemnização. Os responsáveis terão de pagar pelo que fizeram. E sabiam bem o que estavam a fazer. Pedi-lhes mais de uma vez que me deixassem sair do autocarro", disse ao DN Tiago Cacais, que ficou com queimaduras de segundo e terceiro grau.
Os distúrbios na Grande Lisboa ocorreram após a morte de Odair Moniz, de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, que foi baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, no Bairro da Cova da Moura.
Nos tumultos que sucederam à sua morte, nos dias seguintes, foram incendiados mais autocarros, dezenas de automóveis e contentores do lixo, mas o ataque que deixou em estado grave o motorista é o mais grave em investigação.
De acordo com a versão oficial da PSP, Odair Moniz ter-se-á posto "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação "séria e isenta" para apurar responsabilidades, considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas polícias.
As autoridades desencadearam inquéritos, mas ainda não são conhecidas conclusões.