O cérebro humano, mais do que qualquer outro atributo, distingue a nossa espécie. Nos últimos sete milhões de anos, aproximadamente, cresceu em tamanho e complexidade, permitindo-nos usar a linguagem, fazer planos para o futuro e coordenarmo-nos uns com os outros a uma escala nunca antes vista na história da humanidade. Mas os nossos cérebros têm uma desvantagem, segundo um estudo recente. As regiões do cérebro que mais se expandiram na evolução humana tornaram-se extremamente vulneráveis à devastação causada pela velhice..“Não há almoços grátis”, afirma Sam Vickery, neurocientista do Centro de Investigação de Jülich, na Alemanha, e um dos autores do estudo. Os 86 mil milhões de neurónios do cérebro humano agrupam-se em centenas de regiões distintas. Durante séculos, os investigadores conseguiram reconhecer algumas regiões, como o tronco cerebral, através de características como o agrupamento de neurónios. Mas estas grandes regiões acabaram por se dividir em outras mais pequenas, muitas das quais só foram reveladas com a ajuda de poderosos equipamentos de scanner..À medida que a estrutura do cérebro humano se tornou mais clara, os biólogos evolucionistas ficaram curiosos sobre a forma como as regiões evoluíram a partir dos nossos antepassados primatas (os chimpanzés não são os nossos antepassados diretos, mas ambas as espécies descendem de um antepassado comum há cerca de sete milhões de anos). O cérebro humano é três vezes maior do que o dos chimpanzés. Mas isso não significa que todas as regiões do nosso cérebro se tenham expandido ao mesmo ritmo. Algumas regiões expandiram-se apenas um pouco, enquanto outras cresceram muito..Vickery e os seus colegas desenvolveram um programa de computador para analisar exames cerebrais de 189 chimpanzés e 480 humanos. O programa mapeou cada cérebro reconhecendo grupos de neurónios que formavam regiões distintas. Os investigadores descobriram que ambas as espécies tinham 17 regiões cerebrais. Estes mapas permitiram aos investigadores calcular o tamanho de cada uma das 17 regiões no cérebro humano. Encontraram uma série de regiões que tinham aproximadamente o mesmo tamanho em ambas as espécies. Mas algumas áreas eram muito maiores nas pessoas. Uma delas era o córtex orbitofrontal, uma região situada diretamente atrás dos olhos e que é essencial para a tomada de decisões..Foi então analisado o que acontecia com os cérebros envelhecidos. Os neurocientistas sabem há muito tempo que, quando as pessoas atingem os 30 anos, os seus neurónios começam a perder ligações. Como resultado, o cérebro começa a encolher. Mas é complicado comparar os nossos cérebros em declínio com os dos macacos, porque vivemos muito mais tempo do que eles. Além da perda normal de volume cerebral, os idosos podem também sofrer de doenças como Alzheimer e Parkinson, que podem destruir mais neurónios..Uma vez que os chimpanzés raramente vivem para além dos 50 anos, os cientistas escolheram humanos de idade comparável para examinar a forma como os seus cérebros envelhecem. Analisaram voluntários humanos com idades compreendidas entre os 20 e os 58 anos e chimpanzés com idades compreendidas entre os 9 e os 50 anos. Em ambas as espécies, descobriram os investigadores, o cérebro encolhe com o passar dos anos. Mas algumas regiões encolhem mais depressa do que outras. Nos humanos, as regiões que encolhem mais rapidamente são o córtex orbitofrontal e outras partes do cérebro que mais se expandiram nos últimos milhões de anos..O novo estudo é “o próximo degrau na escada que estamos a subir para compreender o envelhecimento do cérebro”, disse Caleb Finch, um biólogo evolutivo da Universidade do Sul da Califórnia que não esteve envolvido no trabalho. Mas ele observou que a pesquisa ainda não mostrou por que razão partes do cérebro que se expandiram recentemente são tão vulneráveis a encolher à medida que envelhecemos. “Não é de todo claro”, afirmou. “Os neurónios não têm quaisquer diferenças químicas”..Uma possibilidade, segundo Vickery, tem a ver com o facto de as partes do nosso cérebro que se expandem mais rapidamente facilitarem o nosso pensamento mais complexo. É possível que os neurónios que realizam este pensamento se desgastem rapidamente, fazendo com que as regiões encolham..Aida Gomez-Robles, antropóloga da University College London que não esteve envolvida no estudo, advertiu que os exames de 189 chimpanzés só podem fornecer uma imagem difusa dos seus cérebros envelhecidos. “Estudos semelhantes sobre o envelhecimento em seres humanos tendem a incluir milhares de indivíduos”, afirmou..Além disso, o novo estudo apenas encontrou uma ligação modesta entre as regiões expandidas e o envelhecimento rápido. “É verdade para algumas dessas regiões, mas não sabemos se é verdade para todas elas”, disse Gomez-Robles..Ironicamente, são os nossos grandes cérebros que nos ajudam a viver durante mais décadas do que os chimpanzés. Permitiram à nossa espécie assegurar um abastecimento mais estável de alimentos, descobrir a importância da água potável e inventar novos tipos de medicamentos. Mas, nos anos que temos a mais, o nosso cérebro continua a encolher. E o estudo de Vickery sugere que as regiões que nos ajudam a viver mais tempo são as que estão a encolher mais rapidamente..Por outras palavras, as frustrações da velhice - problemas em recordar palavras, por exemplo, ou em mudar de uma tarefa para outra - podem ser apenas um legado da nossa evolução. “Temos um cérebro fantástico”, disse Vickery, “mas isso tem um custo”..Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times.