Nunca houve um número tão baixo de professores para cumprir substituições

O resultado das colocações dos professores para o ano letivo 2025-2026 foi publicado na semana passada, resultando na colocação de milhares de docentes. Apenas 20.060 não obtiveram colocação e continuam como docentes contratados. Esses profissionais são os que asseguram as substituições por baixa médica ou aposentações ao longo do ano letivo. Segundo Arlindo Ferreira, diretor do Agrupamento de Escolas Cego do Maio, Póvoa de Varzim, e autor do blogue ArLindo (dedicado à Educação), “nunca houve tão poucos professores disponíveis para substituições temporárias”. “É um número inferior ao de outros anos. Já houve 40 mil. Entretanto baixou para os 30 mil, mas este é o número mais baixo dos últimos muitos anos”, explica.O responsável lembra que os cerca de 20 mil docentes contratados disponíveis são necessários para assegurar substituições de professores, uma dificuldade já sentida este ano letivo em escolas de todo o país. “São os professores que são ‘pau para toda a colher’ e o número atual dos que estão por colocar é muito reduzido para suprir as ausências temporárias ao longo do ano letivo”, assegura. Arlindo Ferreira acredita, por isso, que o problema da escassez de docentes se vai “notar muito no próximo ano”, sendo necessário aplicar, desde já, o que está previsto no Programa do Governo. “O programa refere a necessidade de formar mais professores. É necessário que se faça, mas nas zonas onde há maior défice de professores. Não faz sentido formar, por exemplo, professores na zona Norte se não são necessários”, adianta.Questionado pelo DN sobre o caminho necessário para minimizar o impacto da falta de professores, o diretor do Agrupamento de Escolas Cego do Maio relembra medidas como a da atração de professores aposentados, que “não se traduziram em grande eficácia”.“Formar mais professores e aumentar os vencimentos principalmente nos primeiros escalões da carreira era importante para atrair professores para o ramo de Ensino. Podia ser um chamariz para os estudantes para seguirem para o ramo Ensino”, afirma. Arlindo Ferreira alerta ainda para o facto de muitos professores agora vinculados já poderem usufruir de redução de horário devido à idade e tempo de serviço acumulado ao longo de vários anos quanto contratados.“Antevejo as mesmas dificuldades ou até algum agravamento da falta de professores”Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), também está apreensivo com a escalada da escassez de professores. “Para o próximo ano letivo, antevejo as mesmas dificuldades ou até algum agravamento da falta de professores, com as escolas a terem de recorrer à atribuição de horas extra para que as repercussões deste fenómeno sejam o menos sentidas possível nas escolas”, refere.Outra preocupação do diretor escolar prende-se com o cansaço evidenciado pela classe docente envelhecida. “Apesar de começarmos a ter um corpo docente mais estável, o que me está a preocupar é o cansaço e as baixas médicas. São algumas das causas que originam a necessidade de contratar professores e, tendo em conta o número de professores disponíveis, essa contratação pode ser difícil”, conclui.Filinto Lima acredita que, “até ao final desta década, a escassez de professores será a principal nota negativa no sistema educativo”, tratando-se de “um problema que se arrastou ao longo de muitos anos pelo desprezo em relação à carreira docente”. “A solução, não digo que não esteja à vista, pode resolver-se até 2030, se o Governo conseguir captar o interesse dos jovens, tornando a carreira atrativa e aumentando os vencimentos nos primeiros escalões”, conta. Até lá, diz, as escolas vão “atribuindo horas extraordinárias e contratando técnicos especializados para algumas disciplinas”. Filinto Lima deixa claro ainda a crescente dificuldade na substituição de professores, um fenómeno que deixou de estar circunscrito às zonas de Lisboa e Algarve. Para o presidente da ANDAEP é imperativo valorizar a carreira e atribuir um apoio à estadia para professores deslocados, “sejam eles de que zona forem”. “Volto a insistir que o apoio à estadia devia ser viável. Se fosse uma medida implementada pelo Governo, teria grande sucesso - outras não tiveram - e iria diminuir este problema”, assegura.Há 17 anos havia entre 42 mil a 60 mil candidatos disponíveisEm 2008, os sindicatos de professores estimavam haver entre 42 mil e 60 mil professores contratados por colocar. Nessa altura, a falta de professores não se fazia sentir nas escolas e muitos ficavam desempregados. Contudo, o número de docentes sem colocação após a divulgação dos resultados do concurso anual foi diminuindo. Em 2010, cerca de 40 mil professores profissionalizados não conseguiam um lugar numa escola. Estes docentes tinham de concorrer às vagas disponíveis e horários em falta nas escolas, após a publicação das listas de colocação. O próximo ano letivo contará com a disponibilidade de pouco mais de 20 mil.

Nunca houve um número tão baixo de professores para cumprir substituições

Artigos Relacionados