“Essa é uma discussão que ainda não foi feita. E só haverá uma decisão em meados de abril, como de resto sempre acontece em ano de congresso, porque esse é sempre um assunto debatido”, diz ao DN o secretário-geral da Fenprof. Mário Nogueira lembra o sucedido em 2019, quando então assumiu a vontade de abandonar o cargo em 2022, no final desse mandato. “Porém, no congresso de Viseu, entendi e entendeu-se que deveria continuar, sobretudo tendo em conta as lutas intensas que na altura travávamos”, diz, referindo-se à contestação ao ministro da Educação da altura, Tiago Brandão Rodrigues. Neste momento, acrescenta o sindicalista de 67 anos, “a única coisa que nos preocupa é a revisão dos estatutos da carreira docente e qualquer decisão terá sempre a ver com a forma como evoluírem as negociações no ministério da educação”. Com os secretários-gerais adjuntos a assumirem à imprensa “um momento de transição geracional”, Mário Nogueira contrapõe: “Nada está decidido, repito. Não sei onde as pessoas foram buscar essa ideia. Não falei com ninguém nem ninguém falou comigo”, concluiu, esforçando-se por sublinhar que a sucessão “não será nunca um problema”. De fibra É de fibra, dizem amigos e detratores – depende dos governos e essa foi sempre uma das forças de Mário Nogueira, percebendo depressa o quanto a luta que personifica motiva circunstancialmente as oposições. Com um exército de peso, político e social, de que sempre teve consciência, representa uma classe ao longo de18 anos, sem se preocupar com a crítica maior: como pode alguém que não lecionou durante quase duas décadas interpretar com realismo os problemas dos professores e da educação em Portugal. Pois bem, Mário Nogueira não só tem tido a confiança dos docentes como fez prova de força constante, numa das mais poderosas e longas carreiras do sindicalismo nacional. O grande passo, num caminho iniciado em 1989, foi dado em abril de 2007 com a eleição para a Fenprof, era já um dos rostos mais mediáticos da contestação ao novo Estatuto da Carreira Docente. O secretário-geral da maior estrutura sindical de professores, associada da CGTP- Intersindical, entrou em força e onze meses depois, em março de 2008, o país assistiu a uma das maiores manifestações de sempre de professores: 100 mil nas ruas, a protestar contra as políticas para a educação do governo de Sócrates, fazendo tremer a ministra, e principal inimiga, Maria de Lurdes Rodrigues. Em 2018, a guerra, na aspereza que o caracteriza, foi contra António Costa e Tiago Brandão Rodrigues. Em causa, a contabilização integral do tempo de serviço dos docentes, congelado durante nove anos, quatro meses e dois dias e que o Governo rejeitava pagar na totalidade.Forjou a resistência que se lhe reconhece no escutismo, na natação, no sportinguismo que herdou do pai. Na matemática - apetência sacrificada ao Magistério Primário para fugir, corria 1975, ao servico cívico -, aprimorou o raciocínio estratégico. Na mesa de bilhar, a concentração e a paciência. A precisão da tacada. Filho único, Mário Nogueira nasceu em Tomar a 11 em janeiro de 1958 e foi aí que conclui o curso liceal. No magistério, em Coimbra, desenvolveu o interesse pelo cinema francês e pela política. Ao segundo, deu seguimento prático: foi deputado na Assembleia Municipal de Coimbra e, durante 17 anos, dirigente da Associação Académica de Coimbra, terminando o curso em 1978/79, com posterior licenciatura em Educação Especial. Apoiante da primeira candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho e dos Grupos Dinamizadores de Unidade Popular, frente que juntou UDP, MES, FSP e PRP, aderiu à União dos Estudantes Comunistas (UEC) em 1977. Trinta anos depois, tornar-se–ia o amado e muito odiado secretário-geral da Fenprof. É assim há 18 anos. Assim poderá deixar de ser já próximo congresso da federação (Lisboa, 16 e 17 maio de 2025).