Ihor morreu a 12 de março de 2020 no SEF do aeroporto de Lisboa.
Ihor morreu a 12 de março de 2020 no SEF do aeroporto de Lisboa.

Morte de Ihor. Ex-diretora nacional do SEF faltou a julgamento. Vai ser ameaçada de detenção

Cristina Gatões, que era diretora nacional da polícia de fronteiras aquando da morte de Ihor Homeniuk, em março de 2020, não compareceu no tribunal. Juíza Hortense Martins determinou que deve ser advertida de que se voltar a faltar será emitido um mandado de detenção.
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Era o depoimento mais aguardado desta terça-feira, mas não aconteceu: Ana Cristina Batista Gatões, ex-diretora nacional do extinto Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), arrolada como testemunha da acusação, não compareceu no Juízo Criminal de Lisboa nem deu qualquer justificação para a ausência.

A juíza Hortense Martins, que preside a este segundo julgamento sobre a morte de Ihor Homeniuk - no primeiro, que se iniciou em 2021, foram condenados a nove anos de prisão três inspetores do SEF, por terem agredido e deixado algemado durante oito horas o cidadão ucraniano - ordenou que a testemunha faltosa seja agora notificada por órgão de polícia criminal para se apresentar no tribunal. A magistrada determinou ainda que a ex-diretora do SEF seja expressamente advertida de que se voltar a faltar serão emitidos “os competentes mandados de detenção” - ou seja, que será procurada para ser detida e conduzida ao tribunal. 

Como o DN noticiou, o Ministério Público (MP) ponderou acusar Gatões do crime de denegação de justiça e prevaricação pelo facto de não ter, como era sua obrigação, comunicado a morte de Ihor à Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) mal teve dela conhecimento. Quando ocorre uma morte em custódia, os responsáveis policiais têm de avisar de imediato a autoridade judiciária (MP), a IGAI e a família (neste caso a Embaixada da Ucrânia). Tanto o MP como a representação diplomática foram notificados por um inspetor do SEF no dia do óbito, mas a IGAI só seria avisada oficialmente a 17 de março (Gatões diz que a 16 de março ligou à inspetora geral da Administração Interna, Anabela Cabral Teixeira, e lhe comunicou o facto).

A justificação da ex-diretora nacional para só ter notificado a IGAI cinco dias depois é que quereria perceber se tinha havido “maus-tratos ou violência”. No entanto, não ordenou qualquer averiguação interna; limitou-se a pedir ao responsável pelo SEF do aeroporto de Lisboa, o diretor de Fronteiras de Lisboa António Sérgio Henriques - um dos cinco arguidos neste processo, acusado de ter agido de modo a encobrir o crime -, que fosse ver o que se tinha passado e lhe reportasse. 

O MP acabou por considerar que não se justificava acusar Gatões. Porém há grande expectativa em relação ao seu testemunho, nomeadamente por ter afirmado que só a 30 de março, quando os três inspetores foram presos por se suspeitar de que tinham matado Ihor, teve conhecimento do que qualificou como “um caso de tortura”. Gatões declarou-se “enganada” - responsabilizando assim Sérgio Henriques, que até agora não depôs no julgamento.

Além de Gatões, deveria ter sido ouvido na sessão desta terça o ex-responsável pelo departamento de Inspeção do SEF, o inspetor coordenador João Ataíde, a quem a então diretora terá pedido para visionar as imagens de videovigilância do centro de detenção do SEF no aeroporto de Lisboa (onde Ihor morreu).

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