Mike Lambert: “Agora é o melhor momento para ser professor”
Antigo diretor do Dubai College, cargo que ocupou durante dez anos - período durante o qual esta escola foi reconhecida como a melhor internacional britânica do mundo, em 2019, e a melhor escola com currículo britânico nos EAU, em 2021 -, Mike Lambert passou ainda pelo conselho diretivo da St. Catherine’s British International School, em Atenas, foi copresidente da divisão HMC do Médio Oriente e das British Schools no Dubai, entre outros cargos de um longo currículo sempre ligado ao ensino. Licenciado em Literae Humaniores pela Universidade de Oxford, defende a transmissão do conhecimento com paixão.
Vem a Portugal falar sobre o estado da carreira docente e a falta de professores.
Sim. Porque acredito genuinamente que agora é o melhor momento que alguma vez existiu para ser professor. Fundamentalmente, isto deve-se aos avanços significativos na ciência cognitiva. Nos últimos 20 anos, ficámos a saber mais sobre como as crianças aprendem, retêm e esquecem conhecimento, competências e compreensão do que em toda a história anterior. Quando eu me formei, há mais de 20 anos, o ensino ainda era visto um pouco como uma arte. Não existia uma fórmula comprovada e baseada em evidências sobre o que funcionava melhor. Os professores ensinavam “com as portas fechadas” e, só por sorte, se aprendia algo com um bom colega. Agora, graças à ciência, podemos ser incrivelmente explícitos sobre as técnicas que têm o maior impacto na aprendizagem dos alunos.
E quais são essas estratégias de ensino?
Na minha sessão de uma hora aprofundarei as especificidades dessas estratégias de alto impacto. Existem vários modelos reconhecidos globalmente, como o The Great Teaching Toolkit ou o High-Impact Teaching Strategies. O meu foco será nas 63 técnicas descritas no livro Teach Like a Champion, de Doug Lemov. O objetivo é mostrar o que um professor pode fazer na sala de aula para ser um “mestre professor” e permitir que os seus alunos aprendam mais do que aprenderiam com um professor médio ou menos eficaz.
“Não creio que a IA venha a substituir totalmente os professores, mas quem sabe? Pergunte-me daqui a 20 anos, talvez tenha de reformular as minhas palavras.”
Falámos antes (ler aqui) sobre o uso da Inteligência Artificial. Acha que a IA poderá vir a substituir os professores?
É a grande questão do momento, não é? Penso que, em última análise, o ensino é uma profissão relacional. Se fosse tão simples como colocar uma criança à frente de um dispositivo, rádio ou televisão, isso já teria acontecido. O facto é que os professores desempenham um papel crucial como fator motivacional que permite aos alunos aprenderem. É possível que as ferramentas de tutoria baseadas em IA evoluam e se tornem capazes de ser coaches, mentores e motivacionais. No entanto, é muito mais fácil carregar no botão de desligar do computador do que carregar no botão de desligar do meu professor. Por isso, não creio que a IA venha a substituir totalmente os professores, mas quem sabe? Pergunte-me daqui a 20 anos, talvez tenha de reformular as minhas palavras.