Inspired Education. Investimento de 200 milhões de euros na educação ‘premium’ em Portugal
O Inspired Education, o maior grupo de educação premium do mundo, com uma vasta rede de escolas em cinco continentes, tem marcado presença significativa e crescente em Portugal desde a sua chegada há quase sete anos. Com uma filosofia assente em três pilares fundamentais - excelência académica, desporto e artes criativas e performativas - e uma “abordagem holística à educação”, como se anuncia, o grupo expandiu a sua rede no país, e realizou investimentos avultados em infraestruturas e tecnologia. Ao todo, o Inspired anuncia contar hoje com 5400 alunos em Portugal e ir inaugurar em 2026 um novo edifício com capacidade para mais 600 estudantes.
Desde que entrou no mercado nacional, e segundo dados enviados ao DN, o Inspired já investiu mais de 200 milhões de euros nas suas quatro escolas no país - a St. Peter’s International School, em Palmela, Setúbal, a PaRK International School, com campi em Alfragide, Restelo e Praça de Espanha, o King’s College School, localizado em Cascais, e o novo Colégio Internacional de Vilamoura -, metade dos quais foram gastos nos últimos 24 meses.
Este investimento prende-se, dizem os responsáveis, com a vinda de nómadas digitais e respetivos agregados familiares para Portugal e o apetite das famílias portuguesas por um ensino bilingue e que permite prosseguir os estudos no estrangeiro.
As escolas cobrem a instrução desde o Jardim de Infância ao 12.º ano, pelo que o grupo ganhou, assim, relevância no país.
Depois da PaRK International School, escola primária bilingue (português e inglês) integrada no campus de Alfragide, o grupo prepara-se, segundo disse ao DN o CEO Regional do Inspired responsável por Portugal, John Leitão, para abrir “o primeiro edifício dedicado ao Ensino Secundário internacional em Portugal”. O projeto terá capacidade para 600 alunos, oferecendo os currículos de A-levels e IB, com abertura prevista para setembro de 2026.
Dois anos após a entrada da PaRK, a St. Peter’s International School juntou-se ao grupo, em 2021. Com uma história de 32 anos, a St. Peter’s já valorizava o bilinguismo e, tendo lançado um currículo internacional, procurou um parceiro especializado como a Inspired. “Para sustentar a expansão, a escola investiu cerca de 1,4 milhões de euros no último ano em infraestruturas”, segundo dados enviados ao DN, incluindo a construção de um edifício dedicado aos professores e melhorias nas áreas recreativas. Esta escola oferece tanto o currículo nacional português (com abordagem bilingue), como o currículo internacional de Cambridge e o Diploma IB, explica aquele responsável.
Da arte de discursar à tecnologia avançada - com IA
A expansão do Inspired em Portugal não se ateve aos investimentos imobiliários. O grupo integra os seus princípios nas escolas, promovendo a participação em desporto competitivo e artes performativas (do teatro ao treino de discurso em público), garantindo os responsáveis do grupo que se preservam a identidade e o currículo de cada escola.
Apesar da estrutura curricular portuguesa ser estrita, definida pelo Ministério da Educação, John Leitão explica ao DN que isso não os “amarra”: “Podemos ser criativos na ‘forma’ como o conteúdo é ensinado, usando, por exemplo, tecnologia de ponta, como sistemas de realidade virtual para explorar conceitos como a gravidade em Marte.”
Noutros casos, há sempre espaço de adaptação, tal como terem integrado “competências de falar em público no ensino de Cidadania”.
A inovação tecnológica é, aliás, uma área-chave para o Inspired. O grupo possui parcerias estratégicas com empresas como a Meta, segundo explica ao DN o diretor Global de Educação do grupo, Mike Lambert. É a empresa dona do Facebook que disponibiliza os headsets de realidade virtual para alunos a partir do 7.º ano, tal como é desta parceria que nasce a startup Century Tech, geradora de sistemas de Inteligência Artificial da própria Inspired que visam criar “percursos de aprendizagem personalizados em matérias como Inglês, Matemática e Ciências”, afirma Lambert.
Além disso, diz este responsável, o Inspired desenvolveu, com a Faculty AI, ferramentas de apoio aos professores que visam “reduzir a sua carga administrativa”. Mike Lambert destaca o Lesson Planner, que gera “planos de aula estruturados a partir de uma vasta base de dados de recursos criada pelos professores do grupo”, e o Cycle Test Generator, que cria, avalia automaticamente e insere as notas de testes periódicos no registo do professor”.
O objetivo é “libertar os professores do planeamento e da correção de testes, dando-lhes mais tempo para ensinar e interagir com os alunos”, diz ao DN o diretor Global de Educação do Inspired.
Apesar de reconhecer que a introdução destas ferramentas vai, nesta fase, aumentar a disparidade entre o setor privado (com acesso a esta tecnologia) e o setor público, Mike Lambert - que vê o Inspired como “pioneiro na adoção de IA nas escolas” - acredita que, “tal como aconteceu com outras tecnologias” (como os computadores pessoais), o que estão a desenvolver se tornará “bastante padronizado e muito mais acessível ao setor público e privado” nos próximos dois a três anos.
E quanto custa?
O custo, para as famílias, do ensino premium é, como seria de esperar, elevado. As propinas nas escolas Inspired em Portugal podem variar entre “cerca de 800 euros por mês, no Ensino Primário (na PaRK), e quase 2000 euros por mês no currículo IB noutras escolas”, diz John Leitão.
O Inspired tem bolsas de estudo, nomeadamente o programa global Nsouli Scholars Programme, que anualmente concede 50 bolsas totalmente financiadas a nível mundial para “alunos excecionais”, como descreve Mike Lambert. Está aberto para “candidatos partir dos 13 anos, mediante avaliação económica e de mérito académico, desportivo e artístico, bem como qualidades pessoais”, descreve este responsável.
Adicionalmente, existem cerca de 2200 outras bolsas e apoios locais nas escolas do grupo.
Alguns professores são “unicórnios”
A escassez de professores sentida em Portugal, tal como a nível global, é um fenómeno a que nem o Inspired escapa. John Leitão, CEO Regional do grupo, diz até que professores de Português são “unicórnios”.
As causas apontadas incluem as reformas, a falta de interesse das gerações mais novas (que procuram mais flexibilidade), e o aumento da carga burocrática. O Inspired tenta contrariar esta tendência pagando acima da média, diz Leitão, sublinhando a paixão pela carreira.
É nesse sentido que o grupo organiza, no dia 10, o St. Peter’s Global Education Summit, que conta como orador principal o presidente global do grupo, Mike Lambert (ler a entrevista em baixo).