Apesar das dificuldades, "o Serviço Nacional de Saúde [SNS] é excelente". A convicção é de Eduardo Barroso, cirurgião já reformado, e foi deixada esta segunda-feira, dia 23 de junho, num debate no Grémio Literário sobre o estado da Saúde em Portugal, organizado pelo Instituto Benjamin Franklin e pela Grande Loja Regular de Portugal (GLRP).Na discussão — que foi moderada por Filipe Alves, diretor do Diário de Notícias —, Eduardo Barroso afirmou ainda que a sua "melhor experiência" profissional foi "durante uma parceria público-privada, no Hospital Amadora-Sintra"."Nunca fiz tão boa medicina como naquele tempo, por isso discutir o SNS em termos de esquerda/direita ou em termos de público/privado não serve", garantiu, defendendo que esta pode ser uma solução para os problemas que afetam a Saúde em Portugal. Até porque "pensar que a exclusividade resolve os problemas do SNS é errado". E além disso, defendeu, é preciso que exista "menos corporativismo" no setor.Falando ao lado de dois ex-ministros da Saúde (Maria de Belém e Luís Filipe Pereira) e de Álvaro Beleza, presidente da Sedes, Eduardo Barroso afastou ainda uma visão ideológica sobre o SNS: "As melhores medidas foram criadas por ministros de Governos em quem não votei, como no caso do ministro Paulo Macedo [primeiro Executivo de Passos Coelho], que fez os Centros de Referência, a maior reforma estrutural no setor da Saúde."Antes, Maria de Belém quis afastar, por sua vez, a ideia de haver "contas certas" sem se fazerem cortes que prejudiquem "brutalmente" o funcionamento do SNS.Além disso, defendeu a ex-ministra, é preciso que seja dada "mais estabilidade" ao setor. Isto significa que as "interrupções" pelos sucessivos Governos devem terminar. "Os ministros da Saúde não podem fazer alterações. O que se faz hoje tem impacto daqui a 10 ou 15 anos. Falta estabilidade e é preciso mais. Os sucessivos Governos interrompem ciclos de transformação que levam tempo a ter resultados. É evidente que há ruturas graves entre Executivos", atirou. Relembrando que "o SNS não é um supermercado onde se vai buscar o que é preciso e quando é necessário", Maria de Belém defendeu ainda ser necessário que a Educação tenha, nos seus programas, "a Educação para a Saúde. E também não há uma única palavra para as condições que as casas devem ter para que seja garantida a saúde".Álvaro Beleza, por sua vez, concordou, dizendo que "tudo começa" pela Educação e na cultura para a Saúde. "Os doentes, hoje em dia, vão ao hospital como se fossem as catedrais do antigamente. Isto é, vão muito menos à igreja e é ao hospital, aos médicos e aos enfermeiros, que tentam pedir a imortalidade", disse.Falando sobre a estabilidade no SNS, o médico (que é diretor do Serviço de Sangue de Santa Maria) pediu que se "premeiem" os clínicos. "Nós somos pagos à hora e acho que se deve introduzir um sistema de pagamento pela produção que se faz. Haver um sistema como o SIGIC [que tem estado sob holofotes mediáticos devido ao médico do Santa Maria que terá lesado o Estado em 400 mil euros] para outro tipo de serviço", referiu, acrescentando: "Os nossos melhores médicos, quando saem da faculdade, quando são bons, não têm só a opção de viver no norte, no litoral ou no interior. Estão no mercado global e têm hipótese de ir trabalhar para os EUA ou para um país da Europa."Já Luís Filipe Pereira (ex-ministro e atualmente presidente do Hospital da Cruz Vermelha), que falou em último lugar, deixou um pedido: que se olhe para o SNS "com aquilo que ele pode dar à população". "Há 50 anos que existem problemas de acesso à saúde. Não temos um problema de qualidade, temos um problema de gestão. É um problema de acesso a cuidados primários, nas urgências. Nunca o SNS resolveu este problema", atirou.