Mais de um milhão de alunos não tiveram aula por falta de professores. Situação preocupa Fenprof
É "um rasto preocupante" que fica do ano letivo que agora termina: "a crónica falta de professores" levou a que 1,4 milhões de alunos não tivessem aulas "a pelo menos uma disciplina". O retrato é feito pela Federação Nacional de Professores (Fenprof), que considera que "a promessa de garantir estabilidade no corpo docente e reduzir os períodos sem aulas não se concretizou", tendo até piorado.
De acordo com os dados do sindicato, a situação foi pior no primeiro período, onde houve 826 mil alunos sem aulas. O número diminuiu no segundo período (402 mil) e no terceiro (150 mil). "É certo que estes números incluem duplicações -- alunos que ficaram sem vários professores ou em vários momentos -- mas o cenário que revelam é inequívoco: o sistema não está a responder às necessidades mínimas", diz a Fenprof.
Referindo que o Ministério da Educação, tutelado por Fernando Alexandre, "chegou a definir metas ambiciosas, como a redução de 90% dos casos de alunos sem todos os professores até fim do primeiro período", a Fenprof refere que "a meta ficou longe de ser atingida".
Mas há ainda um indicador "pior": "A própria própria divulgação de dados oficiais acabou por ser posta em causa, obrigando o ministro a encomendar uma auditoria externa à KPMG". As conclusões desse levantamento "continuam por divulgar" e já deviam ser conhecidas desde abril. Para o sindicato, isto revela "uma preocupante falta de transparência e responsabilidade política".
Segundo a Fenprof, os distritos de Lisboa, Setúbal e Faro "continuam a ser as zonas mais atingidas", mas "nenhum distrito escapou à instabilidade". Isto resulta num "sistema educativo que, por força das opções políticas seguidas nos últimos 20 anos, apesar dos avisos, passou a ser mais desigual e incapaz de garantir a todos os alunos o direito a uma escola pública de qualidade".
Próximo ano letivo gera preocupação
Na nota divulgada no seu site, a Fenprof mostra-se ainda preocupada com o que acontecerá a partir de setembro, quando o novo ano letivo arrancar. Tudo porque "o número de docentes não colocados" é superior a 20 mil professores, sobretudo no pré-escolar e no 1.º ciclo e nas áreas da Educação Especial e Educação Física.
"Este número é revelador de um défice estrutural de recursos humanos e da ausência de uma política eficaz de atratividade e fixação" dos professores, diz a Fenprof.
Invocando o programa de Governo, onde se estabelece como objetivo "identificar as necessidades de professores para a próxima década, por grupo disciplinar e região", a Fenprof refere que é "urgente passar das palavras aos atos", valorizando a profissão, garantido "condições dignas" e assegurar "estabilidade nas escolas".
Com setembro já no horizonte, o sindicato deixa uma garantia: "É tempo de escolher entre continuar a tapar buracos ou enfrentar o problema de frente."